A adoção de crianças durante muito tempo desafiou a competência e a sensibilidade dos adotantes e dos técnicos. Aquilo que a criança “já havia” vivido era considerado como uma barreira intransponível, ela já estaria indelevelmente marcada pelos sofrimentos do abandono. Além disso,
a adoção tardia, assim como a inter-racial, impossibilitavam o “fazer de conta que é biológico”, por isso, esse tipo de adoção era sumariamente descartado, e até mesmo desaconselhado, pela maioria dos candidatos.
O processo de transformação cultural que vive a adoção hoje, passando da imitação da biologia para a expressão de
um direito da criança,
o direito de crescer numa família e não numa instituição, vem permitindo a um número cada vez maior de crianças maiores a possibilidade de sonhar com uma adoção, vem permitindo a um número cada vez maior de pretendentes a possibilidade de viver os desafios, as conquistas e as alegrias inerentes a essas adoções.
Uma preciosa lição que nos é dada por pais como Decebal Andrei e Tizuka Yamazaki é a de que é preciso despertar na criança o desejo de ser adotada.
Uma criança maior precisa compreender e aceitar uma adoção, e essa é uma experiência humana particularmente complexa. Todos aqueles sentimentos que ela não viveu, não aprendeu a viver, tais como:
confiança, segurança, estabilidade, afeto, continuidade, delicadeza, pertencimento, dentre outros, de um momento para o outro, passam a fazer parte de seu cotidiano, e devem ser aprendidos, apreendidos, assimilados.
Se é verdade que cabe ao pais uma grande responsabilidade, composta de muita paciência, tolerância e firmeza, na condução dessa mudança, é preciso reconhecer o imenso esforço que fazem os jovens adotados tardiamente para acreditar que, daquela vez sim, é para valer.
Promover aproximações graduais, estimular a fase de “namoro” quando ela for possível, disponibilizar uma Rede de apoio no pós-adoção, para os pais e para a criança, são medidas que aumentarão substancialmente as chances de êxito dessas adoções. Socializar a rica informação já disponível, em livros e vídeos, sobre o tema, também, consolidará esse processo de mudança e permitirá
o crescimento das adoções tardias em nosso país.
Fernando Freire, Psicólogo da Associação Brasileira Terra dos Homens/ABTH
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