30.5.07

O QUE VOCÊ ESPERA DE SEUS FILHOS?


Artigo de Ana Paula Viezzer
Acadêmica do 5º. Ano do Curso de Psicologia da UFPR, Bolsista PIBIC/CNPq


Certa vez, alguém colocou um patinho para que uma gata tomasse conta. Ele seguia sua mãe adotiva por toda parte. Um dia os dois foram parar diante de um lago. Imediatamente o patinho entrou na água, enquanto a gata gritava da margem:
- Saia daí! Você vai morrer afogado!
E o patinho respondeu:
- Não, mamãe. Descobri o que me faz bem, e sei que estou no meu ambiente. Vou continuar aqui, mesmo que a senhora não saiba o que significa um lago.


Esta pequena fábula nos faz refletir sobre a relação entre pais e filhos. Ao nascer uma criança, muitos pais e mães criam expectativas exageradas sobre o futuro da criança e sobre o que ela deve se tornar. Alguns idealizam até mesmo a profissão que o filho deveria escolher.
Idealizam a criança perfeita: aquela que brinca moderadamente para não sujar a roupa e sem fazer barulho para não atrapalhar os vizinhos; aquela que come um sorvete sem lambuzar a cara; aquela que acata absolutamente tudo o que os pais determinam (sua comida, suas roupas, seus brinquedos e brincadeiras) sem dizer nada. Para os pais seria muito cômodo ter um filho assim, que mais parece um pequeno adulto. Mas será que uma criança assim é feliz? Será que ela está desfrutando do “lago” de sua infância?
Estes pais e mães parecem não se permitir voltar à infância quando têm um filho. Pensam nas responsabilidades, mas é uma pena que esqueçam de brincar, voltar a ser criança e conseguir se colocar na posição de filho. E assim, esquecem também de exercitar a empatia* com seus filhos. Acreditam que seus filhos devem pensar como adultos e fazer as coisas como adultos e acabam por cometer um grande erro.
Uma criança pensa e age como criança, ou seja, ela vai brincar sem se preocupar se a roupa está sujando ou se sua gargalhada e cantoria estão atrapalhando alguém. Ela vai tomar sorvete ou comer chocolate se lambuzando, porque assim é mais gostoso e divertido. E ela não vai aceitar passivamente tudo o que lhe é imposto. Dizer não e dar ordens são duas coisas muito importantes que os pais devem fazer nos momentos adequados, mas às vezes os argumentos da criança podem ter fundamento e coerência, precisam ser ouvidos e respeitados. Ouvir a opinião de uma criança não diminuirá a sua autoridade ou controle, muito pelo contrário, isto os aproximará.
Pais e mães, Procurem exercitar a empatia! Procurem descobrir as coisas que seus filhos gostam, as preferências, os ambientes e atividades em que eles se sentem bem. Procurem descobrir o que todas estas coisas significam para eles. Ao descobrirem o “significado do lago” um laço afetivo muito mais forte os unirá! Seus filhos se sentirão mais compreendidos, respeitados e amados!


* O que é empatia? É a habilidade de se colocar no lugar do outro e compreender mais profundamente o que o outro sente, pensa ou faz.

28.5.07

A dificuldade em dizer não

Ricardo tem 6 anos. Está em casa vendo TV e por volta das 18:30h Valéria, sua mãe, chega em casa com uma caixa de bombons que ganhou no trabalho. Ele corre para beijá-la e, curioso como toda criança, pergunta que presente é aquele. Ela sente-se embaraçada, pois se aproxima a hora do jantar, mas mostra-lhe os bombons. Logo ele pede um e ela argumenta que lhe dará após a refeição. Inevitavelmente ele diz: "só hoje, mãe", "é só um", "prometo que vou comer tudo" etc, etc. Muitas vezes faz "caras e bocas", chora, se joga no chão, xinga a mãe, etc. Valéria ao ver seu filho com tal sofrimento não sabe como proceder, afinal já passa o dia todo fora trabalhando, o que já gera bastante culpa e neste caso em especial, foi ela quem mostrou os bombons fora de hora.

Este caso simples mostra como é importante que o casal pense nas regras de sua casa/família, assim como nos valores morais e éticos que desejam passar a seus filhos. Este pensamento se inicia com a chegada do primeiro filho, quando as situações começam a surgir; para os demais essas regras e valores já estão determinados. Cada família tem regras e valores próprios, naturalmente respeitando os da sociedade em que vivem. O casal deve, então, pensar se em sua casa haverá ou não hora para tomar banho, para as refeições, quando ocorrerão exceções, o tipo de programa deTV permitido, etc. É importante que se respeite a singularidade de cada família, que não será igual nem a do pai nem a da mãe, mas uma nova família a partir desse novo casal. Se na família de Ricardo fosse permitido comer bombons antes do jantar, não haveria conflito. Mas Valéria, juntamente com seu marido, consideram essa ocorrência prejudicial à alimentação e, conseqüentemente, à saúde de seu filho. Então onde está o problema? Vemos dois principais fatores determinantes: o primeiro é a eterna culpa da mãe que trabalha fora e que "justamente nos poucos momentos em que estou em casa, tenho que dar limites ao meu filho", e o segundo, mas não menos importante, é que "ele só quer um bombom", "o bombom também tem seus nutrientes", "qual é o problema de ele não jantar bem só hoje?". Queremos mostrar com isso que Valéria não está de fato convencida de que esta regra esteja correta. Analisando a culpa, é importante relembrar essas mães que em pleno século XXI esta é uma condição presente na maioria das famílias e que a mulher deve resgatar o que a levou a trabalhar, que vai desde uma necessidade real de divisão dos custos da família, inclusive para dar melhores condições a seus filhos, até a realização pessoal de uma pessoa que quer ter outros horizontes profissionais. Desta forma a mãe mostra com atitudes que sabe se valorizar, se cuidar e preservar seu espaço individual, sendo um modelo importante para que a criança saiba também fazê-lo quando chegar seu momento. Com relação ao segundo fator, podemos dizer que quando os pais têm clareza e convicção de sua postura o confronto é mais rápido e tranqüilo.

(Autoria de Verônica V. Cavalcante - psicoterapeuta e presidente do Departamento de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria; Fonte: Terra)

25.5.07

Dia Nacional da Adoção: é só o começo da luta!

Dia Nacional da Adoção, ECA, leis de licença-maternidade para adotantes, tantas pessoas conversando sobre o assunto na internet, às vezes chegamos a acreditar numa evolução significativa da humanidade, mas logo percebemos que ainda estamos apenas levantando o pé em direção ao primeiro degrau da escalada.
Hoje, data tão especial, ouvi de uma colega de trabalho os mesmos preconceitos e falta de informação a que as famílias adotivas estão habituadas: "Eu posso ter dó, posso até ajudar um pouco, mas levar para a minha casa? Nem pensar! Você é louca!". Tudo dito com risos de deboche.
Como nos diz Lidia Weber, "o preconceito em relação à adoção ainda é forte. Existe dificuldade de encarar a adoção como uma outra maneira 'verdadeira' de constituir ou aumentar uma família e isso traz problemas para as famílias que decidem por este procedimento. (...) Além da questão de o filho adotivo não ter o mesmo sangue, existe a presença de uma questão social importante, mas pouco evidenciada: geralmente a criança adotada vem de níveis mais baixos na hierarquia social, e sabe-se que, especialmente no Brasil onde existem elevadores e partes especiais para empregados domésticos, o nível sócio-econômico é bastante discriminatório."
As famílias adotivas são parte dessa sociedade, por isso não estão livres dos mesmos preconceitos, ainda que tenham optado pela adoção. Quando falamos nas adoções necessárias (tardia, inter-racial, moral) parece que estamos ofendendo muitos pretendentes à adoção. A maioria se limita a dizer que "adoção não é caridade". Para mim, essa frase se tornou banal e vazia!
Os futuros pais falam em seus direitos, seus sonhos, "querem um bebê parecido com sua família, 'porque existe muito preconceito dos outros', e que 'possa ser cuidado desde pequenininho para poder sentir tudo o que tenho direito, até noites sem dormir.'" (LW) E o direito da criança? Basta dizer que adoção não é caridade?
"Aconselho (a adoção) porque o casamento não pode ser um egoísmo a dois e o casal deve escolher o tipo de criança." E essa frase não é egoísta?
Do outro lado, ouvimos: "Eu queria ter pais adotivos que gostassem de mim e dos meus irmãos e que nós fôssemos felizes até crescer. - menino de 12 anos".
O dia de hoje deve servir para encararmos a realidade, refletirmos e nos prepararmos para a árdua luta que ainda teremos de travar contra nossos próprios preconceitos e imperfeições.

23.5.07

dando uma mão ao destino

Normalmente, quando damos entrada no processo no Fórum, somos encaminhados para grupos de apoio. Nestes acontecem conversas, trocas de opinião.... vc fica sabendo que aquele bebê lindo e loiro não virá tão fácil... cede aos conselhos dos coordenadores e técnicos e muda seu perfil para uma criança maior. E acredite quem quiser, mesmo com os abrigos cheios, continua de quarto vazio na sua casa! Como pode?
Porque estas crianças estão lá se existem tantos pretendentes a elas?
Este meus amigos, o X da questão. Muitas vezes, uma vez recolhidas ao abrigo, seja por abandono, seja por maus tratos, estas crianças se tornam invisíveis ao Judiciário. Afinal, tem teto, comida, educação... deixam de ser prioridade e os dias vão passando.
Bom, todos sabem que apenas podem ser adotadas crianças que já foram destituídas. E estas crianças não são destituídas, então não podem ser adotadas. O pequeno problema é que muitas vezes não foram destituídas pq foram esquecidas, relegadas a 2o plano. Basta um pequeno empurrão e tudo está resolvido.
E o que podemos fazer nós, que queremos estas crianças? Ir a luta! Em primeiro lugar, conversar com a AS. Ela sabe se existem crianças em situação de abandono (sem visitas) . Se a AS da sua comarca não te der bola, paciência, mas não desista. Tente a da comarca vizinha.
Tenha em mente que não é correto ir a abrigos para escolher um filho. Porém, muitas vezes uma vizinha voluntária sabe de alguma criança. Ou a diretora de um abrigo. Ou uma professora. O importante é ficar alerta.
Conversou com a AS e não deu em nada? Ou teve sucesso? Veja quando o Promotor da sua cidade atende ao Público. È dele a iniciativa de provocar a destituição. Às vezes ele nada fez pq sequer sabe que aquela criança existe.
Muitas vezes, porém, eu ouvi o seguinte comentário como justificativa para fazer nada: é verdade que mesmo eu fazendo tudo isso pode ser que esta criança não venha para mim? É. Muitos juizes entendem que quando da destituição, a lista tenha de ser consultada. A boa notícia porém é que a grande, imensa, esmagadora maioria procura a menina branca RN. Não estão interessados na princesa de quatro anos que tem um irmão. Ou na menina de um ano que tem um irmão de dois.
E de qq maneira, acredite que cutucando o juiz, vc vai ganhar muitos pontos no céu! Afinal, pode ser que essa criança linda não vá para sua casa. Mas com certeza ela vai ganhar o que ela mais quer: uma família!

18.5.07

Comentando sobre a revelação

Estou terminando de ler o livro Pais e filhos por adoção no Brasil da Lidia Weber e há uns trechos bem interessantes sobre a revelação. Achei melhor abrir um novo post em vez de comentar no texto da Cláu, assim todos podem ler mais facilmente.

"Os depoimentos de filhos adotivos mostram que a 'revelação' tem compreensão diferente em diferentes estágios do seu desenvolvimentoo, e portanto, A HISTÓRIA DA ADOÇÃO DEVE SER CONTADA EM DIVERSOS MOMENTOS, EM DIFERENTES IDADES DA CRIANÇA, mas quanto mais cedo isso ocorrer, mais facilmente será incorporado como uma situação 'natural' e não um tipo de transgressão à ordem (biológica e cultural) vigente. Um depoimento de uma mãe adotiva, feito em um congresso da área, revelou essa falta de conhecimento da adoção e processo de desenvolvimento de uma criança: ' Eu não sei o que fazer com a minha filha. Hoje ela tem 15 anos e está muito revoltada porque é adotada. Eu contei para ela, quando ela tinha 5 anos, mas ela esqueceu!'"

"Para Neuburger, é injusto e inexato dizer para uma criança que ela É uma criança 'adotada', pois isso qualifica uma natureza particular de ligações que a obrigará a uma eterna obrigação de justificar o seu comportamento por uma conduta diferente, pois não é uma criança como as outras. Toda criança, qualquer que seja o modo de procriação, entra em uma família por um ato civil. Em vez de rotular a criança com uma criança adotada, é lícito e legítimo ensinar-lhe que ELA ENTROU NESSA FAMÍLIA POR ADOÇÃO, família esta que, por vezes, foi constituída com a sua chegada. Neste sentido, a contingência que permitiu sua entrada na família foi a adoção, mas agora essa criança é tão filha (o) dos seus pais adotivos quanto as crianças que entraram em uma família através da procriação."

"Não apenas o revelar, mas O QUÊ FALAR PARA O FILHO SOBRE A ADOÇÃO TAMBÉM É EXTREMAMENTE IMPORTANTE. Melina afirma que não se deve falar que a 'criança foi escolhida'. Isso pode levar a criança a pensar que se ela foi escolhida, um enorme contingente de outras crianças foi deixado de lado, e essa é uma imagem impossível de conviver, pois leva ao pensamento de que se ele foi escolhido é porque ele é perfeito e ele não seria escolhido se tivesse mostrado alguma imperfeição. Na verdade, parece que é preciso aproximar-se o máximo possível da situação real e da motivação para a adoção e afirmar que não somente a criança estava em uma situação difícil: os pais também estavam porque queriam muito um filho que não conseguiam ter. Esse ponto de vista, especial para pais adotivos inférteis, faz com que eles não fiquem sempre com a imagem de salvadores da criança e os filhos, com a gratidão eterna..."

16.5.07

Quando falar sobre adoção

Como, quando e porque você deve falar com seu filho sobre suas origens
"A criança pode suportar todas as verdades"F. Dolto

Uma atitude muito importante para se preservar a saúde mental de uma criança é a de dizer claramente se ela foi adotada ou não. Dados clínicos nos mostram que a "mentira" dentro do contexto familiar, principalmente quando esta encontra-se atuando sobre a negação das origens de uma criança, atua como um fator que leva a situações patológicas.
A criança adotada se desenvolveu no útero de sua mãe biológica, na maioria das vezes em condições impróprias e sentindo-se rejeitada (sabe-se que o feto capta os estados emocionais da mãe e reage a eles). Os pais adotivos não podem negar esta "pré-história" do bebê, até porque ele mesmo viveu isso. É claro que tais informações nunca chegarão a mente em forma de lembrança, mas isso não quer dizer que elas não estejam armazenadas em algum lugar deste indivíduo.
O fato da "pré-história" do bebê ter sido "difícil" não significa que por isso ele será uma criança mais infeliz ou pior do que outra. A criança só terá prejuízos se a sua história gestacional não puder ser integrada a sua história pessoal.

Por que não se deve mentir?

Porque uma mentira nunca terá o status de verdade. Quando se mente sempre paira o "fantasma da verdade", sempre existem tropeços, enganos e um certo mal-estar familiar (por mais que os próprios pais muitas vezes não percebam isso). É é dentro desse contexto que se formam freqüentemente distúrbios psicológicos na infância.
Ao adotar uma criança você não precisa tornar público esse ato, mas é muito importante que ele seja dito em âmbito privado, isto é, na família.

Como e quando contar ao seu filho sobre a adoção?

Em primeiro lugar, gostaria de ressaltar que cada criança é diferente da outra, assim como cada família. Desta forma, não há como obter uma resposta padrão para essa pergunta.
É importante que os próprios pais possam ir sentindo o momento ideal. Uma grande dica para tal é tentar introduzir o assunto a partir de perguntas formuladas pela própria criança. Então, no momento em que a criança começar a formular perguntas do tipo: "Mamãe / papai ! como eu nasci?" ela estará dando um sinal de que vai ter respaldo de seu mundo interno para "compreender" o que lhe for explicado.
Sobre este "compreender" acho muito importante enfatizar que a linguagem e a forma de contar sobre a adoção para uma criança deve ser apropriada para a sua idade para que realmente haja compreensão e para que esta não seja traumática (quando a criança recebe uma informação em quantidade e qualidade incompatível para a sua idade).
A criança apreende o mundo de uma forma diferente do adulto, até porque seu potencial cognitivo ainda não foi totalmente desenvolvido. Portanto, procure falar com o seu filho da maneira mais próxima da sua compreensão, mostrando-lhe claramente o quanto você desejou e esperou a sua vinda ao mundo. Afinal, a adoção é um grande ato de amor. Não será bonito e saudável contar para o seu filho sobre essa história?

Fernanda Travassos
Psicoterapeuta

13.5.07

FELIZ DIA DAS MÃES!




Neste dia mágico, desejo que muitas mulheres possam sentir a felicidade de ser mãe de uma criança real como a garotinha da foto tirada há três anos, um mês antes de eu comemorar meu primeiro Dia das Mães. Minha moreninha linda ao lado de minha mãe é a homenagem que ofereço a todas as mamães e futuras mamães!


MÃE ADOTIVA


"Eu sei, mamãe, que por um capricho do destino, ou simples desejo Divino não foi em seu ventre que me formei . Quis a vida que eu fosse escolhido não pelo acaso, mas pelos próprios caminhos apontados por Deus.
Eu sei que a primeira vez que você me sentiu mexer foi em seus braços e não em seu ventre. Mas...mãe! Há algo mais forte que os laços de sangue: são os laços do coração, aqueles que por uma razão inexplicável nos ligam para sempre a uma outra pessoa. Assim eu nasci, não da sua barriga, mas do seu ser.
E você me acolheu com braços quentes, como se eu fosse carne da sua carne. Me pôs contra seu peito e eu pude ouvir a voz do seu coração me acalmava me dizendo para não ter medo, que eu encontrei um lar. Você me devolveu a dignidade de ser chamado de filho e a honra de ter uma verdadeira mãe, exatamente como deve ser.
Sei que em momentos de zanga eu digo que vou procurar minha mãe. Mas quero que você saiba que meu coração não pensa o que digo e gostaria que me perdoasse. Mãe não só é aquela que põe no mundo, mas aquela que, vivendo ao nosso lado, nos prepara para enfrentar o mundo. Aquela que cura a dor com beijos e se alegra quando nosso coração se alegra. Talvez você não tenha me dado a vida, mas deu certamente uma razão para viver...
Deus sabia, mamãe, que você era o anjo na medida exata para fazer a minha felicidade. Te amo!"

Letícia Thompson

8.5.07

Crianças maiores sobram nos abrigos!

A TARDE ON LINE
29/04/2007
Crianças maiores sobram nos orfanatos por falta de pais adotivos
Kleyzer Seixas

Alexandre dos Santos, Julian de Souza e Luana Araújo são crianças que estão
com mais de 10 anos de idade, não têm pais, moram em um orfanato e não
perdem a esperança de encontrar uma família. Os três mandaram cartas ao
Juizado da Infância e Juventude, pedindo para ser adotados até os 18 anos,
idade limite para permanecerem em instituições destinadas às crianças órfãs
ou vítimas de maus-tratos. A realidade, no entanto, parece estar distante
dos anseios deles.
A maioria das pessoas que optam pela adoção prefere crianças menores de dois
anos. Somente na instituição Lar da Criança, onde os três jovens residem,
quatro foram adotados em abril. Nenhum deles havia completado ainda dois
anos, assegura a diretora do local, Iraci Lopes de Souza Coimbra.
“É uma pena vê-los vivendo dentro de uma instituição, sem manter contato com
parentes. Estão tirando o direito deles de conviver em uma família, de
chamar pelas suas mães ou pelos seus pais”, destaca Iraci, funcionária do
Lar da Criança há mais de noves anos. “É comum que muitos fiquem na casa até
completarem dezoito anos”, lamenta.
Enquanto aguardam pela chegada dos pais, os três estudam e fazem planos para
o futuro. Alexandre pensa em ser advogado, Luana , que adora maquiagem,
pretende abrir um salão e ser cabeleireira e Julian ainda não decidiu a
profissão que seguirá. “Ainda tenho expectativa de encontrar uma família,
mas a maioria vem em busca de recém-nascidos”, diz Alexandre, sobre a
preferência dos casais.
A situação não é diferente em outras instituições da capital baiana. Cerca
de 95% dos candidatos à adoção estão busca de bebês, afirma a psicóloga
Cíntia Liliana Reis de Silva, que trabalha no Juizado da Infância e
Juventude há cinco anos e dá apoio aos novos pais durante o período de três
a oito meses após a adoção. O tempo é necessário, segundo a especialista,
para auxiliá-los caso haja alguma dificuldade no início da convivência.
A procura pelas crianças mais novas acaba gerando um problema: os bebês são
adotados e aqueles que já passaram da idade mais solicitada pelos candidatos
à pais acabam permanecendo nos orfanatos por mais tempo do que o
recomendado. Das 80 crianças à espera de adoção atualmente nas unidades
credenciadas ao Juizado, mais de 60 já têm mais de dois anos.
Expectativa dos pais - A facilidade de adaptação ao novo lar é apontada
pelos novos pais como um dos principais motivos para preferir os bebês.
Muitos pretendentes à paternidade acreditam que é mais fácil educar uma
criança com idade menos avançada, porque podem acompanhá-la desde os
primeiros meses de vida.
Muitos deles, segundo a psicóloga, pensam que irão, de certa maneira,
interferir de forma mais enfática no processo de formação do filho. “Dessa
forma, acham que conseguirão acompanhar a educação familiar melhor, são
fantasias da sociedade. Mas é um preconceito porque isso não é verdade”.
A adaptação foi o motivo que levou o técnico em informática, Geraldo Antonio
Marques Lima, 39, e sua esposa, a optarem por adotar o pequeno Roger, que
tinha quatro meses quando foi morar com a nova família. Após sucessivas
tentativas de ter um filho biológico, o casal resolveu procurar o Juizado no
ano passado.
“Uma criança de dois anos começa a conhecer a vida. Pela criação dos meus
sobrinhos, vejo isso. É mais fácil de educar um bebê. Como era nosso
primeiro filho, queríamos um novinho mesmo. É mais fácil de adaptar à
realidade dele. Não é que uma menina de cinco ou dez anos não vá se
acostumar, mas é mais difícil”, destaca.
Assim como muitas pessoas interessadas em encontrar filhos em orfanatos,
Antonio Lima acredita que quanto maior é a criança, mais difícil mudar os
seus hábitos. “Os maiores já vem com seus costumes e é muito complicado
interferir. Por esse motivo, optamos por um bebê na nossa primeira
experiência”, salienta.

6.5.07

Meninos e Meninas

Existe uma procura ligeiramente maior para a adoção de meninas que de meninos. Essa diferença cresce com a idade. Até onde eu posso ver, está diretamente ligada as idéias que a gente tem sobre as diferenças sexuais.

Primeiro: é claro que existem diferenças entre os sexos. Eu já passei dos três anos de idade em que tudo aquilo era uma novidade e a descoberta de que "meninos têm pênis e meninas têm vagina" era o grande assunto. Isso todo mundo sabe. A questão é se existem diferenças de comportamento estritamente ligadas ao sexo.

As pesquisas científicas são bastante inconclusivas. Elas mostram que existem diferenças entre os homens adultos e as mulheres adultas, mas não diz se elas são fruto da criação ou de mudanças hormonais da puberdade. De uma forma ou de outra, é ponto pacífico que meninos e meninas não possuem diferenças, exceto se forem criados de maneira diferente.

O imaginário popular parece apontar pra algo completamente diferente: que meninos seriam mais levados que meninas. Mas se nós formos ver isso é muito mais uma expectativa que uma realidade. Meninos que não são agressivos, desafiadores e curiosos são mal-vistos. Meninas que não são obedientes, tímidas e dependentes são mal-vistas da mesma forma. Assim, se cobra das crianças que se encaixem em um papel pré-definido e se comete a maior das injustiças: não se adota meninos mais velhos com medo de trazer um "marginalzinho" pra casa.

Sim, preconceito. Violento e grosseiro, capaz de arrasar com a vida de crianças, como qualquer preconceito. Principalmente quando se conhece iniciativas de eliminação desses papéis sociais pré-definidos, como os que acontecem na Noruega. Lá os professores são treinados para evitar qualquer comportamento que incentive o sexismo, como proibir o menino de brincar de boneca ou a menina a brincar de carrinho. O que aconteceu? Aconteceu que as crianças brincam todas juntas, crescem juntas e param de viver numa eterna competição entre os sexos. Natural para um pais que tem 50% dos cargos públicos ocupados por homens e os outros 50% por mulheres.

E antes que o grande terror dos sexistas venha à tona: Não, não existem mais homossexuais na Noruega. Se você realmente acha que existe uma relação entre brincar com carros em miniatura e transar com mulheres, você precisa de tratamento.

3.5.07

REGRESSÃO


Estamos vivendo a experiência da regressão, uma fase comum na adoção tardia. A Thamires (8 anos e 7 meses) quis porque quis uma chupeta; insistiu nessa idéia várias vezes. No domingo, estávamos numa loja de brinquedos, ela viu a chupeta e pediu de novo. Minha mãe estava junto e resolveu comprar para ela.
O Davi (7 anos e 5 meses) e a Raquel (10 anos e 4 meses) quiseram uma mamadeira. Agora eles querem tomar mamadeira toda noite, no colinho da mamãe e do papai, igual bebê.
A Thamires experimentou a mamadeira uma vez, engasgou e não quis mais, mas dorme com a chupeta. Hoje ela queria levar a chupeta para a escola de qualquer jeito, sem nem se importar se os outros iam debochar dela, mas eu não deixei.
No início da sua adaptação, a Quelzinha, com 7 anos e 4 meses, teve muita curiosidade sobre meu corpo, principalmente meus seios. Acabou se contentando em brincar com as mãos, coisa que faz até hoje. A Thamires foi logo imitando a Quel. O Davi demorou um pouco, mas também já matou a curiosidade.
A Thata e o Davi nunca fizeram xixi na cama, mas a Quel...muitas vezes no começo.




“Geralmente, a criança adotada tardiamente vive um processo psíquico de regressão. Ela se reporta ao estado imaginário de recém-nascido e vive uma espécie de segundo nascimento, a partir do qual ela pode percorrer de novo seu desenvolvimento e até resolver melhor as fases da constituição do ego.A fase mais regressiva do processo de adoção tardia é a fantasia de reinclusão no corpo maternal. O “fantasma intra-uterino” leva a criança a buscar, através do contato corporal pele a pele,boca a boca, a realização do desejo de se reintroduzir no corpo materno, de voltar a viver na barriga da mãe( no caso, de habitar pela primeira vez). O desejo de renascer da barriga desta mãe é um ponto importante na identificação do processo de filiação que a criança, começa a estabelecer com as novas figuras parentais.” - Rosa Pires Aquino – Psicóloga/Coordenadora Projeto Padrinho


“É comum crianças em idades avançadas perderem temporariamente o controle dos esfíncteres, voltarem às mamadeiras, às chupetas.
Essa regressão é vista como muito positiva pela psicologia pois simbolicamente a criança renasce para a vida nova.” - Adriane Albuquerque Cirelli - Pedagoga, Psicopedagoga Clínica e Hospitalar

2.5.07

TRABALHO INFANTIL


Que fazes criança
de mãos tão pequenas,
tirando das ruas
teu raro sustento...?

Que te fazem os grandes
para sofreres nos olhos
a desesperança
o medo, a fome tamanha,
na vida sem riso e sem cama...?

Quem te explora o sorriso,
a brincadeira, a infância,
o corpo mendigo,
correndo, brigando,
matando outra gente
e junto, a tua inocência...?

De farrapos te vestem o mundo,
que dorme teu sono
e mata teus sonhos,
que finge o engano
de te ver sem te olhar
e de te olhar sem te ver...

Liza Carvalho12.11.00

Influenciada pelo feriado do Dia do Trabalho, eu não pude pensar em tema melhor para nossa reflexão no momento!