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15.5.12

Crianças adotadas cedo não levam vantagem em relação às adotadas tardiamente, diz pesquisa

Estudo também mostrou que filhos adotados e não adotados apresentam mesmas queixas


No sucesso de bilheteria Bruna Surfistinha, estrelado pela atriz Deborah Secco, a personagem Raquel sofre com o complexo de inferioridade e com os deboches do irmão mais velho por ser adotada. A adolescente deixa a casa e a superproteção dos pais para cair em um mundo de drogas e prostituição.

Embora a história seja uma autobiografia, ela não reflete a realidade da maioria das famílias que têm crianças adotadas. Essa foi uma das conclusões tiradas em pesquisa de mestrado em Psicologia Clínica da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), orientada pela professora Maria Lúcia Tiellet Nunes (a pesquisa não tem relação com o filme).

Com base em prontuários de 316 meninos e meninas atendidos em clínicas-escola de Porto Alegre, a mestranda Andrea Kotzian Pereira investigou se havia diferenças nas queixas apresentadas por crianças adotadas e não adotadas no momento em que buscam atendimento psicoterápico. Do ponto de vista estatístico, a pesquisadora não encontrou diferenças significativas entre os dois grupos.

— Existe uma ideia de que crianças adotadas têm dificuldades devido à condição. Mas as queixas que mais apareceram foram em relação à agressividade e aos problemas de aprendizagem e atenção, nos dois grupos — conta Andrea.

O comportamento agressivo é a reclamação que mais aparece nos tratamentos entre adotados e não adotados (29,1% e 26,6%, respectivamente), seguido de problemas de atenção (20,2% e 17,7%). Os prontuários que integram a pesquisa são de crianças entre um ano e meio e 12 anos.

Além desse resultado, a pesquisa aponta para o fato de que as crianças adotadas mais cedo não levam vantagem em relação às adotadas tardiamente. Andrea acredita que o que interfere são as questões mais constitucionais, genéticas, e vê uma mudança na forma como o tema vem sendo tratado:

— Antigamente, a questão da adoção ficava como um segredo e, na maioria dos casos, era ilegal. Há um movimento no sentido de ser algo mais falado, mais exposto. Quando a criança não tem muito clara sua história, sua origem, é difícil para ela aprender outras coisas.

(Texto original daqui indicado por Suzana Sofia Schettini)

18.3.12

Preconceito

Mais um texto recebido sobre um assunto sempre tão pertinente...

Então, repassando... boa leitura!

Infelizmente tenho de admitir que algumas pessoas tem preconceito com crianças adotivas. Sei que não é por maldade, mas para alguns parece que estamos criando um extraterrestre. Quando adotei o Claudio, nosso segundo filho, uma pessoa com quatro filhos me disse que admirava a coragem que eu tinha de adotar uma segunda criança. É engraçado, pois ela tinha quatro filhos e ninguém achava corajoso isso. Muitas vezes me perguntaram se eu não tinha vontade de ter um filho biológico, como se filho adotivo não fosse filho. Já me perguntaram várias vezes se eu não tenho medo de eles se revoltarem quando estiverem mais velhos. Bem, o que dizer para pessoas com pensamentos como esses? Prefiro ignorar.
O preconceito das pessoas em relação a crianças adotadas tem diversos motivos, na maioria das vezes equivocados. Muitos pensam que a criança pode ficar revoltada com os pais quando ficarem sabendo que não são filhos biológicos o que pode facilmente ser evitado por sempre contar a verdade a criança. Às vezes, o preconceito pode vir até mesmo de pessoas muito próximas como avós e tios, por exemplo. Quando dissemos que adotaríamos outro filho, me lembro que um parente achegado ficou muito preocupado e disse algumas frases negativas sobre nossa decisão. Hoje, sei que na verdade ele fez isso por desconhecer toda a situação envolvida e a forma como gosta do seu neto hoje só demonstra que tudo não passou de um comentário momentoso.
Acho um pouco engraçado que quando alguém sabe que você vai ter um filho biológico as pessoas elogiam e dizem coisas bonitas para a mãe e até dão parabéns por isso. Mas, o mesmo não ocorre com freqüência quando você diz para alguém que vai adotar uma criança. A pessoa, não raro, olha para você com espanto como se você tivesse acabado de dizer que decidiu fazer algo muito errado. As pessoas quase sempre falam coisas negativas e dizem o quanto é difícil adotar uma criança nesse país e perguntam por que eu não tentei fazer outros tratamentos para ter um filho biológico. Bem, imagine só se eu tivesse ouvido tais pessoas, hoje não teria minhas duas crianças em casa.
Por outro lado, quando você adota uma criança e fala isso as pessoas a reação é bem diferente do momento em que você apenas planejava adotar, pois normalmente recebemos muitos elogios e as pessoas se simpatizam com a situação. Muitos falam que gostariam de ter o mesmo privilégio. Elas olham para meus filhos e vêem que são duas crianças normais e felizes.
A opção pela a adoção, na maioria das vezes, é considerada uma alternativa para aqueles que não puderam conceber filhos biológicos. Confesso que discuti a primeira vez com minha esposa quando recebemos a notícia de que eu era estéril, mas me lembro muito bem de quando eu tinha uns 12 anos de idade e eu olhava para as crianças abandonadas e dizia a mim mesmo que um dia adotaria uma criança sem nunca imaginar que não poderia ter um filho biológico.
Outro segundo grupo de adotantes é composto por aqueles que já criaram filhos até esses se casarem e optaram por adotar uma criança depois que seus filhos biológicos deixaram suas casas. Estes pais muitas vezes chegam à conclusão que podem fazer muito por uma criança depois de estarem novamente sozinhos em casa.
Mas falta ainda desenvolver mais os grupos de pessoas que adotam crianças por opção e que não tem qualquer restrição para conceberem filhos biológicos. É por esses e outros motivos que afirmo que muita coisa ainda precisa ser feita para mudar todo o preconceito que existe.
Sempre defendi a adoção para todas as pessoas por explicar a elas como estão enganadas em relação aos conceitos errados sobre esse assunto. Na verdade, tenho um orgulho enorme de dizer que eles são adotivos e mostrar o quanto eles são alegres e felizes por terem uma família tão maravilhosa. Além disso, sempre falo para eles sobre o assunto, porque sou contra ao fato de esconder qualquer informação da criança e ela descobrir somente quando for adolescente. Precisamos criar nossos filhos adotivos com total transparência, pois isso vai ajudá-los a enfrentar quaisquer questionamentos no futuro.

16.3.12

A proposito de pais e filhos

A PROPÓSITO DE PAIS E FILHOS
Seres vivos se agridem. Os humanos não fogem à regra. O que é inaceitável é o peso injusto que se atribui quando essas agressões penalizam pessoas pelo seu grau de parentesco; como se agredir alguém com quem não se comunga qualquer parentalidade fosse um ato de menor importância.
Estas considerações vêm a propósito de notícia veiculada pela mídia, dando conta de que um filho, em uma ação execrável, agride pai e mãe até a morte e, em seguida, tenta a própria morte. Todos reprovamos e ficamos constrangidos com tal ação destruidora, ainda mais quando oriunda de uma relação de parentesco de tanta profundidade quanto a que liga pais e filho.
O que causa estranheza e, diria, estarrecimento, é se especificar e acentuar que o autor da ação reprovável é “filho adotivo”. Por que insinuar que o crime cometido o foi por um filho “adotivo”? Porventura tendo alguém se tornado filho por adoção trará em si o germe do distúrbio de comportamento que possa gerar ação tão hedionda? Nunca se viu na mídia qualquer referência com tal ênfase indicando: “Filho biológico mata pai e mãe”. Por que agregar à adoção como forma legítima jurídica e afetiva de parentalidade, a informação insidiosa de que haveria uma íntima relação entre adoção e distúrbio de comportamento, o que, psicologicamente não é verdadeiro?
Estabelecer tal relação é tentar instalar interrogações, desestímulo  e até medo naqueles que vivem em paz com seus filhos, como também àqueles que buscam dar uma família aos que a sociedade lhes negou tal direito.
Não é a primeira vez que tomamos conhecimento dessa posição profundamente desumana da mídia, jogando sobre os filhos por adoção responsabilidade pelo simples fato de chegarem às suas famílias pelo instituto da adoção. E mais. É obvio que todos os filhos, sem exceção, são biológicos, ao mesmo tempo em que só poderão vivenciar a real filiação se com eles forem construídos vínculos afetivos com os que os incorporaram como filhos por adoção.
Em nome de um sensacionalismo informativo, há os que – talvez sem o perceber – são cruéis e pedagogicamente incorretos, martirizando os que estão curando as dores da rejeição ou preenchendo as lacunas da infertilidade. Presta-se um desserviço à humanidade quando se tenta juntar dois elementos que não se podem unir: adoção e deformação do comportamento. Alguém já observou que dos seres vivos que conhecemos somente os humanos têm a “capacidade” de serem desumanos. E, lamentavelmente, alguns o são.
Lidando há quarenta e um anos, como psicólogo, com pais e filhos adotivos, compulsando a literatura dos países que pesquisam sobre o tema, nunca encontrei qualquer fonte científica que afirmasse que ações agressivas entre seres humanos fosse uma marca naqueles que se tornaram filhos por adoção.
Chamo aqui à responsabilidade aqueles que permitem a publicação de inverdades que resultam em crime social com prejuízos de extensão incomensurável para crianças que poderão perder, pela segunda vez, a oportunidade de convivência familiar.
Luiz Schettini Filho
Psicólogo
Pai adotivo

29.2.12

Basta às idéias pré-concebidas!

 
 
- Carta encaminhada, à imprensa, pela Sra. Suzana Sofia Moeller Schettini, Presidente do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção no Recife
 
Prezados Senhores,
 
A associação entre adoção e delinquência lançada subliminarmente à sociedade nas entrelinhas das reportagens que se referem ao assassinato do
casal de Olinda, causa incômodo e tristeza  a muitos pais e filhos adotivos, pois reforça preconceitos já existentes no imaginário social.
A adoção é apenas um fato histórico na biografia do assassino, não é o que determina as suas ações. Entretanto, tem sido o primeiro quesito a ser relacionado ao seu perfil.
Filhos são filhos tão somente. Não importa se adotivos ou biológicos.
Na verdade, crianças se tornam filhos apenas se forem afetivamente adotadas pelos seus pais.
Aconteceram vários outros casos de tragédias humanas no passado, promovidas por filhos biológicos, e não se verificou nenhuma referência à sua origem biológica. Por que quando o criminoso é adotivo a questão de sua origem ganha tanta relevância?
No Brasil existem milhares de famílias adotivas felizes, cujos filhos foram muito desejados, são amados e criados com muito carinho e desvelo.
Há mais de 20 anos temos em curso o Movimento Nacional Pró Adoção, promovido por entidades chamadas Grupos de Estudo e Apoio à Adoção (os GAAs) - são mais de 100 distribuídos em todos os Estados brasileiros - que são afiliados à Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD).
O Movimento Nacional trabalha por uma nova cultura de adoção, livre de preconceitos e discriminações e pelo direito de toda a criança a ter uma família. Os esforços conjuntos convergem para uma mudança de paradigma na adoção: ao invés de procurarem-se crianças para famílias que não
podem tê-las, procurarem-se famílias para crianças que já existem.
Temos  cerca de 40.000 crianças institucionalizadas que precisam de uma família e não a conseguem por encontrarem-se fora do perfil desejado pela maioria dos pretendentes à adoção: não são bebês, nem brancos, nem meninas, nem saudáveis.
Como disse Einstein, "é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito".
A associação nociva entre adoção e delinquência, certamente deixará os seus efeitos nefastos na memória social. 
O fantasma do medo assombrará o imaginário dos pretendentes à adoção e os filhos adotivos, por muito tempo, serão apontados com desconfiança e temor! Entretanto, serão as crianças institucionalizadas que pagarão o ônus maior, pois este cenário apenas contribui para postergar mais e mais as suas oportunidades de nova inserção familiar.
Em nome de todos os pais e filhos adotivos brasileiros, pedimos encarecidamente a sua consideração a respeito do exposto.
Antecipadamente agradecemos.
Atenciosamente,
Suzana Sofia Moeller Schettini
Presidente do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção no Recife
Mãe adotiva

25.5.07

Dia Nacional da Adoção: é só o começo da luta!

Dia Nacional da Adoção, ECA, leis de licença-maternidade para adotantes, tantas pessoas conversando sobre o assunto na internet, às vezes chegamos a acreditar numa evolução significativa da humanidade, mas logo percebemos que ainda estamos apenas levantando o pé em direção ao primeiro degrau da escalada.
Hoje, data tão especial, ouvi de uma colega de trabalho os mesmos preconceitos e falta de informação a que as famílias adotivas estão habituadas: "Eu posso ter dó, posso até ajudar um pouco, mas levar para a minha casa? Nem pensar! Você é louca!". Tudo dito com risos de deboche.
Como nos diz Lidia Weber, "o preconceito em relação à adoção ainda é forte. Existe dificuldade de encarar a adoção como uma outra maneira 'verdadeira' de constituir ou aumentar uma família e isso traz problemas para as famílias que decidem por este procedimento. (...) Além da questão de o filho adotivo não ter o mesmo sangue, existe a presença de uma questão social importante, mas pouco evidenciada: geralmente a criança adotada vem de níveis mais baixos na hierarquia social, e sabe-se que, especialmente no Brasil onde existem elevadores e partes especiais para empregados domésticos, o nível sócio-econômico é bastante discriminatório."
As famílias adotivas são parte dessa sociedade, por isso não estão livres dos mesmos preconceitos, ainda que tenham optado pela adoção. Quando falamos nas adoções necessárias (tardia, inter-racial, moral) parece que estamos ofendendo muitos pretendentes à adoção. A maioria se limita a dizer que "adoção não é caridade". Para mim, essa frase se tornou banal e vazia!
Os futuros pais falam em seus direitos, seus sonhos, "querem um bebê parecido com sua família, 'porque existe muito preconceito dos outros', e que 'possa ser cuidado desde pequenininho para poder sentir tudo o que tenho direito, até noites sem dormir.'" (LW) E o direito da criança? Basta dizer que adoção não é caridade?
"Aconselho (a adoção) porque o casamento não pode ser um egoísmo a dois e o casal deve escolher o tipo de criança." E essa frase não é egoísta?
Do outro lado, ouvimos: "Eu queria ter pais adotivos que gostassem de mim e dos meus irmãos e que nós fôssemos felizes até crescer. - menino de 12 anos".
O dia de hoje deve servir para encararmos a realidade, refletirmos e nos prepararmos para a árdua luta que ainda teremos de travar contra nossos próprios preconceitos e imperfeições.

23.4.07


UMA REFLEXÃO SOBRE O PRECONCEITO ATRÁS DA PALAVRA



In: Weber, L.N.D. (1998). Laços de ternura: pesquisas e histórias de adoção. Curitiba: Santa Mônica, p. 114.
...Isso é o aprendizado. De súbito você compreende algo que havia percebido a vida inteira, mas de maneira nova (Doris Lessing)

Em nosso dia-a-dia costumamos utilizar muitas expressões e termos que denotam preconceito sem que tenhamos plena consciência disso. Assim, as novelas, os meios de comunicação de massa e as propagandas estão repletas de chavões preconceituosos, muitas vezes mascarados em sátiras e situações engraçadas, as quais servem simplesmente para manter um determinado status quo que um segmento social acha recomendável. Rimos da mocinha "bonita e burra" de determinado programa de televisão e não percebemos o quanto isto é estereotipado e preconceituoso. Ouvimos e vemos, a todo momento, expressões que denotam preconceito racial, religioso, étnico, social, estético, e muitos outros. É preciso parar para refletir um pouco. Alguns termos transformam-se em diagnósticos de vida. Foi o que ocorreu com o termo "menor". Menores eram sempre os filhos dos outros, aqueles que estavam nas ruas, era a cultura menorizada. O nosso filho era sempre uma criança ou adolescente, mas o filho do outro, do menos favorecido, era um "menor". Tomando consciência desta fato, a sociedade aboliu o termo menor e passou a chamar todos os filhos de crianças e adolescentes, culminando com o fim do Código de Menores e com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Com os discursos e a literatura a respeito de famílias adotivas tem acontecido algo semelhante, onde percebe-se, por trás da semântica o preconceito, e que fazemos aqui uma moção para que isto seja modificado. Algumas pessoas perguntam para a mãe adotiva se "essa é a criança que ela pegou para criar"; se a família possui filhos biológicos e adotivos, as pessoas costumam apontar para um deles e perguntar: "é esse o seu"?; ou ainda, após saber da adoção, pessoas podem perguntar, mas "você conhece a mãe verdadeira dele?". Todas essas frases demonstram uma falta de esclarecimento associada ao preconceito em relação a esta constituição familiar.

De maneira geral, quando fala-se de família adotiva, utiliza-se como antítese "família verdadeira", "família natural", "família legítima". Temos por convicção e por força dos dados científicos, que a família adotiva não é artificial não, mas é tão verdadeira e legítima quanto a outra. Sua essência não é diferente, mas somente a contingência de como foi constituída. Então, sugerimos que sejam utilizados os termos família de sangue, família biológica ou família de origem em contraposição à família adotiva. Da mesma forma, quando fala-se em filho adotivo, a antítese mais comum é falar em "filho verdadeiro", "filho natural", "filho legítimo", "filho meu mesmo". Sugerimos que sejam utilizados os termos filho de sangue e filho biológico, pois o filho adotivo não é artificial, nem falso ou ilegítimo e é filho mesmo dos seus pais adotivos!

17.4.07

Cuidados que devemos ter ao falar com crianças



Mesmo sem perceber, a gente adora enquadrar as pessoas em categorias para defini-las e descrevê-las. Quando isso envolve uma criança, criamos um problema. E pais e professores fazem isso em profusão. "Meu filho é tímido", "aquela criança é agitada", "fulano é mentiroso", "tal aluno é fofoqueiro" são algumas descrições que já ouvi adultos fazerem a respeito de crianças. E, de fato, essas crianças podem apresentar as características apontadas.

Mas, por que isso é problemático?É que a criança vive, na infância, o período em que constrói sua imagem, e esse processo ocorre a partir de matrizes de identificação que ela encontra no ambiente em que vive. Quando uma criança mente algumas vezes e, a partir de então, passa a ser descrita como mentirosa, essa matriz passa a fazer parte da imagem que ela constrói a seu respeito. E vira até profecia, mesmo quando negada. Quando um educador, familiar ou escolar, diz para uma criança que ela não deve ser mentirosa, por exemplo, está afirmando que ela já é, ou está se tornando.

Mentir é diferente de ser mentiroso, mas uma criança ainda não faz essa distinção e, quando percebe que essa imagem a descreve, acaba por tomar essa referência para se situar, para se perceber e para se identificar. Ela adota uma parte como o todo e, a partir de então, é bem mais provável que a mentira passe a se tornar mais freqüente em sua vida. É que é assim que ela se reconhece porque é assim que os adultos próximos a reconhecem. O que um adulto diz para uma criança a respeito dela funciona, na verdade, como em espelho.Pode parecer apenas uma questão de construção lingüística, mas não é. Dizer para uma criança que ela mentiu e dizer que ela é uma mentirosa faz uma grande diferença no seu desenvolvimento. Ralhar com o filho por ele ter feito sujeira onde não deveria é diferente de dizer que ele é um porcalhão. Chamar a atenção de um aluno por ele não parar quieto quando deveria é bem diferente de dizer que ele é hiperativo.

Além disso, enquadrar a criança em determinadas categorias de comportamento ou de atitude, aniquila também a possibilidade de ela experimentar até encontrar o jeito mais adequado para si.

Lembro-me de um fato bem interessante que ilustra essa questão. Três crianças entre seis e oito anos, mais ou menos, almoçavam juntas no restaurante de um hotel. Os pais estavam por perto, mas elas preferiram a independência. Enquanto almoçavam, conversavam e se observavam, é claro. Em determinado momento, uma delas tirou um alimento do prato e colocou sobre a toalha da mesa. A outra, atenta, disparou: "Isso é feio! Se você não quer comer, deixa no prato". A resposta veio curta e grossa: "Eu sei". E, quando indagado do motivo de, mesmo assim, fazer, o garoto afirmou com a maior tranqüilidade: "É que sou teimoso". Dá para imaginar que essa criança ouve isso com muita freqüência, não é verdade?

(http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/arch2007-03-18_2007-03-24.html)

TEXTO ENVIADO PELA SILVINHA

22.3.07

Uma linda experiência!

Gostaria de contar uma experiência vivida na última sexta-feira em um salão de beleza aqui de Gravatá - PE.

Eu nem sei dizer ao certo como começou o assunto, acho que a dona do salão de beleza falou algo a respeito do tema adoção e daí se desenrolaram vários depoimentos! Quase todos negativos, muitas senhoras diziam ter medo de adotar, afinal filho(a) de alguém capaz de abandonar seus próprios filhos deviam trazer uma carga genética negativa ou algo espiritual negativo.

Daí me manifestei, disse que havia adotado um menino aproximadamente de 2 anos e que havia passado maus momentos nesses dois primeiros anos de vida e que hoje era uma criança super amorosa e que defendia o irmão (esse meu filho biológico) como nunca havia visto assim entre irmãos biológicos, mesmo os da minha família que brigavam mais que tudo.

Expliquei que havia muito preconceito nessa área e que feliz os que conseguiam quebrar seus paradigmas e preconceitos. E que meu filho me fez mãe e fez meu marido pai e nos faz muito feliz.

Outras senhoras insistiram que achavam um ato muito bonito para os outros fazerem, mas que ela seria incapaz!

Foi aí que uma senhora que até então estava calada, após uma pausa de silêncio disse de maneira mansa, sem alterar a voz e com muita fidalguia:

"Fui casada por 57 anos; x meses e x dias, meu marido morreu há pouco, depois de sofrer horrores após um AVC. Nós nos amamos muito e fui muito feliz no meu casamento, não fosse pelo fato de nunca ter tido um filho e ter me deixado influenciar por pessoas que diziam o que escutei aqui da maioria das pessoas." Como me arrependo de não ter adotado ao menos uns 5 filhos! Me dediquei a sobrinhos e sobrinhos-netos e hoje me vejo só! A não ser se precisarem de auxílio financeiro meu..." e voltando para mim disse olhando nos meus olhos,o que me comoveu imensamente; "Você que fez certo, mocinha! Antes eu tivesse tido a mesma sabedoria de vida! Me deixei influenciar pelos preconceitos dos outros e não me livrei dos meus! E hoje estou só, com quase 80 anos e não pude desfrutar do amor maternal que é um direito de toda mulher!"

Ela era uma senhora muito distinta e logo depois chegou seu motorista para buscá-la em um carrão importado!!! Eu que estou vivendo na maior tranqueira financeira, me senti a mulher mais rica do mundo, pois meus dois tesouros naquela mesma hora estavam na escola e à noitinha iriam nos encher com seus falatórios, bagunça, traquinagem, alegria e muito amor!

Texto da Dea

7.12.06

Vale à pena trabalhar pela adoção!!!

“No sábado, minha mãe veio me contar que minha cunhada está grávida de 1 mês. Logo em seguida, veio o comentário: "Seu pai disse que ficaria mais feliz se fosse você!".
Minha mãe diz que ama a Quel e o meu sobrinho do mesmo jeito, que não tem nenhuma diferença, porém fala que foi muito dolorido aceitar minha decisão de não ter um filho biológico, que ela sofreu muito mas entendeu meu jeito de pensar. Minha mãe diz que ela e meu pai têm direito de sonhar e que eu tenho de respeitar isso. É tudo muito confuso, porque minha mãe e a Quel estão um grude só! Elas se divertem muito juntas, as duas são muito carinhosas uma com a outra, tudo que minha mãe vê e acha bonito já quer comprar para a Quel.
A velha história: minha cunhada está grávida e eu não! Como não?!? Então a Quel não fala todos os dias na irmãzinha que está para chegar?
Eu pretendo conversar com meu pai sobre o assunto. Se não conseguimos abrir os corações nem dos nossos familiares, então como levar a bandeira da adoção para os estranhos?”
Carmen

'Cá amiga,

Vc sabe que vivo a mesma situação!!! Qdo falo de uma possível gravidez, os olhos dela brilham, ela respira fundo e fica sonhando: 'ai, já pensou isso...já pensou aquilo...ai como eu ía ficar feliz de ver o barrigão...ai isso, ai aquilo', entretanto qdo falo de uma nova adoção: 'ai, vcs são malucos!!! Nos tempos de hj 2 filhos já está bom demais e além do mais vcs já têm um casal. Vê se sossega só com esses 2'. E aí eu pergunto...que diferença tem ter o 3º filho por adoção ou biológico?!?!?!

É muito complicado de se entender essa dicotomia, principalmente pelo motivo que vc citou...existe amor por nossos filhos!!! Não é fingimento, não é obrigação...é amor!!! Creio que aí existam 2 lados que brigam inteiormente...o do que ama de forma incondicional nossos filhos e outro que quer ter uma 'seqüencia de sangue' da família.
Minha mãe nunca se conformou de eu não querer fazer exames, tratamentos e agora que existe a possibilidade real de uma gravidez eu me retraio justamente por estes comportamentos! Como seria ouvir alguém, da família e de fora tbm dizendo: 'ai, que legal, agora vcs vão ter um filho de vcs, né?'. Isso me arrepia só de pensar!!!
Vou deixar o mérito do neto biológico para meu irmão, mas sei que sempre foi o sonho do meu pai tbm me ver grávida! Mas e aí...é um sonho deles e não meu!!!
Acredito que nossas famílias são abertas sim à adoção, amiga, eles só sonham com um neto biológico, se iludem com a bobagem de imaginar com quem essa cça pareceria, que carinha teria, de nos ver com a barriga, mas são abertos pq senão não amariam nossos filhos, ainda que essa abertura venha depois da chegada das cças!
Acho que a luta é válida, pq só se derruba preconceitos (não sonhos) com informação! E neste campo da adoção há muito que se trilhar ainda!!! Lembro-me que cças criadas sem pai ficavam isoladas no fundo da sala de aula pq não podiam confeccionar presentinhos para o dia dos pais! Lembro-me que moça solteira que tinha filhos não era mais aceita em igrejas sem caras feias e algumas famílias 'amigas' lhes fechavam as portas para nao servir de 'mau exemplo' para suas filhas! Lembro-me que até há bem pouco tempo os homossexuais não podiam sequer assumir sua condição sem o ônus de serem execrados pela família e pela sociedade! Lembro-me que os portadores de HIV eram condenados a viverem uma vida de isolamento e era isso que os matavam...a carência afetiva e o isolamento social! Lembro-me de tantas outras coisas que daria para escrever até amanhã...
Todos de forma incondicional conquistaram seu espaço, adquiriram respeito justamente pq houve pessoas que não se intimidaram com o que os outros pensavam. Saíram, batalharam, serviram de escudo para serem atacados, criaram polêmicas se espondo nas ruas, nas escolas, batalhando pelo direito à inclusão e hj, cada um a seu modo, conquistaram o direito de serem cidadãos, ainda que esteja longe o quesito respeito em alguns casos e embora não haja o respeito desejável, já se adquiriu uma coisa muito importante...tolerância!
Precisamos lutar sim pela causa da adoção, pq não dá para admitir que mesmo diante do aumento que houve na procura pela adoção, que se use nos meios de comunicação o termo 'família de verdade' para a família biológica, 'mãe verdadeira' para a mãe biológica...e nesse ponto lembro-me que pessoas que lutavam pelas causas e íam aos programas de tv para modificarem termos como 'não é mongolóide...é portador da Síndrome de Down', ou 'não é alcoólatra...é alcoólico'. E foi assim, modificando o termo que carregava o preconceito e explicando as situações que se adquiriu respeito e aceitação social!
Ao passo que mostramos que nossos filhos são filhos como outro qquer que tenha vindo de forma natural, por inseminação, por fertilização, mostramos tbm que somos uma família de verdade, que a adoção é uma forma alternativa de se ter um filho, que dá para ser feliz e é isso que vai fazendo a diferença ao nosso redor, pq de repente uma pessoa que sequer pensava nisso, começa a sonhar! E aí vem a despreconceitualização da cça maior, a desmitificação que cça gde é sempre um problema, que a adoção de uma cça gde é perigosa, a aceitação de uma cça portadora de necessidades especiais, de raça diferente da nossa...
O trabalho é duro, o processo é demorado...é necessário se andar muito nesta caminhada para se consquistar o que parece pouco, mas é o conjunto de ações ao longo do tempo que vai modificar a sociedade!
Desistir de lutar é negar aos nossos filhos, ou netos, e suas gerações que possam viver a adoção da forma como sonhamos, sem tabus, sem receios, sem preconceitos!
Nossa luta é contra o preconceito e não contra os sonhos!'
Bjs com carinho!
Cláu
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5.11.06

Perfil


Saudade desse cantinho...
Ando meio sumida né pessoal? Desculpem viu...mas é que tenho tentado me desligar um pouco dos assuntos de adoção...pois as vezes passo muito nervoso com eles e preciso aprender a ser um pouco mais tolerante, mas não consegui atingir esse estágio de desenvolvimento espiritual ainda...eu chego lá!
Andei lendo e pensando muito nas ultimas semanas sobre adoção consensual e perfil,e embora nunca chegue a conclusão algumas, tem certas idéias que não me abandonam.
Canso de ler relatos e suplicas pedindo a Deus um filho...mas um filho RN, é bom que se diga...um filho RN de preferência do sexo feminino e branco...para ser perfeito!
Mas o que é mesmo a perfeição? O que é mesmo ser mãe? O que é mesmo ser filho?
Nessas horas eu paro e olho para os meus...perfeitos! Lindos! Inteligentes! Amados por todos! Só com coisas boas a dizer sobre eles...e nunca nem lembro que não sairam de mim...ou que não os vi engatinhar, não os vi andar, não vi os primeiros dentes...mas recebo todos os dias um beijos gostoso, muitos abraços, muito s sorrisos...e segundo minha amiga Adriana que passou por todas as fases com o filhotinho dela...isso tudo é o que realmente vale a pena, pois desses outros detalhes no dia-a-dia não dá tempo de lembrar!
Não vim dar receita de bolo nem lição de moral a ninguém , consiência cada um tem a sua e preconceitos também...mas fica aqui uma frase só..SER MÃE É BOM DEMAIS! EM QUALQUER IDADE DE FILHO...SÓ QUEM É ESCOLHIDO POR UM FILHO É QUE SABE!

Beijos
Boa semana
Glau

26.8.06

Achei este este comunicado da Família Shurman tem alguns meses..e semrpe pensei se deveria postá-lo aqui.
MAs depois de um topico na comunidade " Adoção um ato de amor", achei que deveria:

Homenagem a Kat Schürmann


O novo rumo da nossa pequena tripulante...

Pequena apenas no jeito franzino e delicado... Quem a conheceu sabe de sua grandeza e personalidade de atitudes firmes e decididas... Um exemplo de perseverança e de amor à vida.

Desde que nasceu, Kat lutava bravamente para viver e aproveitar intensamente cada instante junto à Família, amigos e à natureza, a qual tanto amava e defendia.

Não era a primeira vez que, rapidamente, um pequeno resfriado transformava-se em um princípio de pneumonia e debilitava a nossa mais jovem tripulante. Mas repentinamente, a vontade de Kat, feito uma forte rajada de vento, enchia o seu espírito de vida e tudo não passava de um susto. Mas desta vez, não deu...

Muitos não sabem, mas Kat era soropositiva desde que nasceu. A adotamos ainda pequena, na Nova Zelândia sabendo de sua condição. Sua mãe já havia partido e o pai viria a nos deixar anos depois.

Claro, sabíamos que seria muito difícil. Kat era muito pequena, o seu estado de saúde sempre foi preocupante. Kat já havia nascido com esse desafio de saúde, bastante debilitada. Quando a conhecemos, exigia sérios cuidados. Mas não poderíamos deixar de dar uma chance àquele anjinho de lutar pela vida. Ela queria viver! Estava em seu olhar!

E foi a decisão mais importante que tomamos na vida!

Com o passar dos anos e a evolução da sua saúde , da medicina e, acima de tudo, da sua vontade, tínhamos a esperança de tê-la entre nós por muito e muito tempo. Mas ontem, 29 de maio, ela partiu...

Acreditem, foram os anos mais felizes de nossas vidas... Kat sempre foi muito especial e deixou mais exemplos e ensinamentos do que muitos que viveram décadas...

São lições que marcarão as nossas vidas e de todos aqueles que com ela conviveram. Kat sempre lutou bravamente contra a doença, sempre debateu a questão do preconceito, a importância do amor e da Família.

A luta de uma criança contra essa doença é inglória! Noites mal dormidas, remédios, mal-estar, hospitais, entre outros fatores, são capazes de tirar a alegria mesmo desses pequeninos cheios de luz e energia.

Mas nada é pior do que o preconceito e a falta de amor! Ela sempre pedia para as pessoas não julgarem as crianças que tinham qualquer limitação, porque ela sempre foi descriminada pelo seu tamanho e forma de caminhar. Mesmo assim, nos últimos dias, Kat manifestava forte vontade de falar da sua luta contra o vírus com os amigos da escola... Se mostrava indignada com a possibilidade de ser discriminada por isso... Estávamos debatendo essa possibilidade.... Ela queria que as pessoas entendessem que somos todos são iguais. Kat queria quebrar esse preconceito. Não houve tempo...

Por isso, decidimos escrever este comunicado. Assim como a chegada de Kat encheu nossas vidas de alegria, dignidade e respeito ao próximo, que a sua partida possa conscientizar a todos da importância do amor, do carinho e da compreensão na vida daqueles que sofrem de algum problema de saúde, não apenas os soropositivos.

Kat foi e sempre será muito amada, viveu intensamente cada segundo de sua vida, conheceu diferentes lugares em todo o mundo e sempre contou com apoio da sua Família. Por isso, temos a convicção de que partiu em paz, cheia de amor e grandes lembranças.

Tenham certeza, fizemos tudo que estava ao nosso alcance.

Infelizmente, essa não é a realidade da maioria das crianças que sofrem de alguma condição de saúde e que convivem com o preconceito, a falta de recursos e de calor humano... O desejo de Kat era mudar tudo isso... Como o nosso era tê-la para sempre!

Nos despedimos da nossa marinheira Kat ontem, em uma cerimônia intima e familiar. Suas cinzas serão levadas para Nova Zelândia, onde ela descansará ao lado de Robert e Jeanne, seus pais biológicos, cumprindo assim, uma promessa que selamos com eles. No próximo sábado, às 17h30 na Capela São João, em Ilhabela-SP, faremos uma homenagem à vida dessa grande menina.

Gostaríamos de agradecer todas as equipes médicas do mundo inteiro que sempre lutaram pela vida da Kat, em especial, a equipe que estava conosco quando ela partiu.

"Em homenagem ao nosso Anjinho, que agora navega nas nuvens do céu"

Família Schürmann

22.8.06

Pare, Liberte, Permita!


Tenho lido e ouvido muitos relatos com experiências relevantes que abordam dúvidas, medo, ansiedade... Acredito que antes de tomarmos qualquer tipo de decisão, temos que procurar nos centrar, respirar fundo e seguir adiante. Ter um filho é uma decisão importante e envolve muitas vidas, sentimentos, emoções, responsabilidades. E, para que possamos fazer bem ao outro é preciso que comecemos a fazer bem a nós mesmos, porque só sentindo o prazer de momentos felizes podemos dividí-los, só provando o sabor de um carinho podemos doá-lo, só experimentando o acolhimento podemos acolher... Ação e reação! Se permitir vivenciar qualquer coisa é um passo muito importante, e hoje, prestando um pouco mais de atenção à vida escrevi a mensagem abaixo no meu blog pessoal, em meio a filho pedindo ajuda no dever de casa e marido acabando de chegar do trabalho.
Achei válido compartilhar com vocês! Aí está:

Pare de tentar analisar o comportamento das pessoas pelo simples fato de querer entender de que forma você faz diferença para elas;

Pare de tentar decifrar olhares, porque essa linguagem deve ser compreendida no exato momento em que ocorre... se existe dúvida, melhor não procurar "porquês" e "serás";

Pare de querer encontrar justificativa para tudo. A vida taí, e além de ser vivida, precisa ser sentida. Portanto, para sentimentos não há justificativas;

Pare de se lamentar pelo que não fez. Pare de se arrepender pelo que fez. A experiência do fazer ou não fazer vale do mesmo jeito e ambas sempre acontecem na vida de alguém;

Pare de procurar explicações pelas atitudes dos outros, teimar em entender porque agiram desta ou daquela forma com você, o importante é a forma como você age;

Pare de marcar hora pra tudo, deixe um pouco a vida acontecer, pois é nesse momento que os milagres acontecem, que um beijo é roubado, que um carinho é compartilhado, que muitas coisas que realmente importam começam a se fazerem sentir;

Liberte seus medos, deixe que eles voem pra bem longe, mas não os deixe escapar de vez. Uma dose de medo é sempre bom para termos uma vida equilibrada;

Liberte seus sonhos, deixe eles virem para o mundo exterior porque, permanecendo dentro de você, eles nunca terão a chance de se concretizarem;


Liberte sua mente, deixe ela vagar em mundos desabitados e explorar as cavernas do seu mundo interior. Uma mente liberta proporciona a expansão da criatividade e dá acesso ao universo das idéias;

Liberte o seu corpo, permita que ele dance uma música que o inspire, deixe que ele seja embalado numa valsa a dois, aceite que ele se expresse em emoções. Um corpo em constante movimento jamais se torna envelhecido e doente;

Permita-se viver... Mas um viver intenso, incondicional;
Permita-se respirar, sentir o caminho do ar;
Permita-se sorrir, mesmo que as pessoas ao seu redor não entendam a dimensão da sua alegria;
Permita-se chorar, mesmo que não haja ninguém em volta para te consolar;
Permita-se amar, mesmo que o amor seja platônico ou não correspondido... mesmo que seja uma palavra ou um simples sentimento fora de moda;

Pare, Liberte, Permita.

- Mila Viegas -

16.8.06

Filho e Preconceito

Casal gay espera decisão legal para adoção - São José do Rio Preto, 13 de agosto de 2006

Carlos Chimba Roberta e Paulo estão na fila de espera: 200 pessoas na frente Débora Borges
01:15 - No documento de identidade, Roberta é homem. “Casado” há um ano e meio com Paulo Henrique Gonzalez Buzato, 38 anos, o travesti decidiu que é a hora certa de ter um filho, ou seja: adotar uma criança. Nesse Dia dos Pais, ambos entram em contagem regressiva à espera do novo integrante da família. O processo deve durar cerca de um ano. Na primeira fase, ainda dependem da aprovação do juizado da Infância e da Juventude para conseguirem um lugar na fila da doação. Cerca de 200 pessoas estão à frente deles. Quem pleiteia a vaga é Buzato, mas os dois vão deixar claro que vivem como marido e mulher. Roberta, 29 anos, pensa como mulher e, por isso, considera-se transexual. As mudanças de sexo e de nome ainda deverão ser concretizadas. O aspecto físico, no entanto, é o que menos importa sob o ponto de vista do casal. Os dois preferem enumerar as qualidades que garantiriam boa classificação entre candidatos a pais. Buzato é pensionista do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Ele tem uma lesão cerebral que dificulta parte dos movimentos dos membros, mas que não o impede de andar ou de segurar objetos. Roberta é cabelereira, atende na casa das clientes. Com total autonomia sobre a própria agenda, ambos teriam tempo de sobra para se dedicar à educação da criança. Os dois moram em uma rua tranqüila, no bairro Jardim das Oliveiras, em uma casa de dois quartos (um para o filho), sala, cozinha, banheiro e amplo quintal. Pela casa, devidamente mobiliada, estão expostas fotos do “casamento” abençoado por familiares do noivo e da “noiva”. O tempo de espera que vem pela frente servirá para o casal preparar o quarto da criança. Buzato quer ser chamado de pai. Roberta, de mãe. O que interessa para os dois é que o menino ou menina que venha a ser adotado cresça com o entendimento de que a diversidade é normal e que todas as pessoas devem ser aceitas com suas diferenças. “Criação é tudo. Vamos fazer essa criança se tornar um adulto saudável e equilibrado”, diz o futuro pai.

Adoção

O juiz da Infância e da Juventude de Rio Preto, Osni Assis Pereira, não se mostrou muito receptivo à idéia de dois homens adorarem uma criança. Em entrevista ao Diário da Região, ele disse que a prioridade é entregar a criança à uma família tradicional, “normal”- com pai homem e mãe mulher. Em segundo lugar, a uma mulher ou homem sozinhos. Somente depois viria um casal homossexual, seja feminino ou masculino. Para ele, terceira opção só seria preferível à manutenção da criança em uma instituição. Mas o risco disso acontecer seria muito pequeno. “Há mais famílias na fila do que crianças disponíveis”, finalizou.

Edvaldo Santos Theodora, de 5 anos, entre o ‘Pai Vasco’ e o ‘Pai Ju’

Casal comemora a conquista: a filha Theodora Theodora, 5 anos, está orgulhosa. Diferente dos coleguinhas da escola, em Catanduva, ela fez dois presentes para o Dia dos Pais. Um para o “Pai Vasco” e um para o “Pai Ju”. Quem conta é a professora do Jardim da Infância, Vanessa de Almeida. “Todos na classe tratam com naturalidade o fato dela ter dois pais”, revela a educadora. Vasco Pedro da Gama Filho, 34 anos, e Dorival Pereira de Carvalho Júnior, 43 anos, comemoram hoje a vitória conquistada no dia 23 de dezembro de 2005: o reconhecimento da menina como filha de Vasco e a chegada dela à casa deles. Vasco adotou Theodora sem precisar omitir da Justiça o relacionamento que mantém com Júnior há 14 anos. Agora, o casal aguarda o resultado de nova ação que pretende adicionar também o sobrenome de Júnior ao nome da menina. Além de oficializar a situação familiar que já está estabelecida, o sobrenome asseguraria os direitos futuros da menina em caso de falecimento do “Pai Ju”. Está no nome dele todos os bens do casal.

Rotina

Durante as duas horas que a reportagem do Diário da Região passou na casa dos três, foram constatadas as pequenas alegrias que Theodora, cujo nome significa “presente de Deus”, levou ao lar. Ela repete algumas expressões usadas pelo casal e surpreende os adultos com frases do tipo: “Ai, pai, como você é...” ou “Acha, Bem?” Em todas as casas alguém tem de assumir o papel de “chato”. Na de Theodora é Júnior quem tem essa missão. A cada minuto, repreende a menina por estar com o dedo na boca, sentada de perna aberta ou falando alto. Vasco ri do companheiro e “passa a mão na cabeça” da menina: “O Junior não deixa ela ser criança.” Brincadeiras à parte, ambos levam muito a sério a tarefa de educar Theodora. Nenhum dos dois cede às ameaças de pirraça da menina por ser impedida de brincar de fazer bolhas de sabão dentro da sala ou por chegar a hora de ir para a escola. Cabelereiros e colunistas sociais, Vasco e Júnior passam todo o dia juntos e precisaram adequar a vida para cuidar de Theodora: “Ela mudou toda nossa rotina. Não tínhamos hora para nada, agora fazemos todas as nossas refeições em casa mesmo e nos revesamos para cuidar dela à noite. Mas não dá o menor trabalho”, garante Júnior. Orientação Para não cometer erros na educação da menina, o casal buscou psicólogos. Foram orientados a explicar tudo o que ocorre através de historinhas. Por exemplo, Theodora sabe que Deus colocou ela na barriga de uma moça, a genitora, porque os “papais” não poderiam ter filhos. A menina já sabe também que a palavra “mãe” tropeçou em uma “pedrinha” e virou “madrinha”. Uma tia de Júnior é quem responde pelo título. Segundo o psicólogo do Grupo de Apoio ao Doente de Aids (Gada), Marcos Aurélio de Oliveira Franchetti, a opção do casal de Catanduva foi acertada. As figuras paterna e materna mudaram de sentido com o passar dos anos. Antes, a primeira remetia à moral e a segunda ao afeto. Hoje, ambas são provedoras e os avós representam o afeto. A necessidade da criança ter por perto figuras masculinas e femininas pode perfeitamente ser suprida com a presença de “madrinha” ou “padrinho”, dependendo de cada caso.

(Matéria publicada no jornal Diário de São José do Rio Preto em 13/08/2006 e postada no grupo Planos de Deus por Kátia Pontes)

26.7.06





Que PRECONCEITOS E MITOS inseridos na cultura brasileira interferem e prejudicam a opção pela adoção de crianças maiores de dois anos de idade?

A sociedade brasileira vê a criança ainda como uma posse - donde, o desejo de adotar uma boneca – que está, de certa forma sob o controle do adulto que decide como, quando e de que forma deve amá-la e formá-la. Uma criança de mais de dois anos, tendo vivido uma experiência marcante (e marcada) de internamento institucional, violência ou abandono é uma criança que traz uma história e uma história difícil, muito difícil de ser controlada. Se a criança tiver mais de seis ou sete anos não terá mais a aparência de bebê e não "pode mais ser educada como deve: traz vícios de formação"; se for um menino e tiver a tez escura, então, não é mais uma pobre criancinha: é um "de menor", delinqüente em potencial e muito perigoso, que "ninguém vai se arriscar a botar na sua casa". Esses preconceitos são frutos de uma sociedade profundamente segmentada, com alta concentração de renda e que ainda não desenvolveu uma solidariedade fundamental de pessoa a pessoa. Por isso, a criação paulatina e teimosa de uma cultura da adoção, como é o projeto dos Grupos de Apoio em todo o Brasil, é tão importante, trata-se de ver nossas crianças como crianças e como nossas, como a parte mais importante e vital de um futuro que se quer mais humano e desassombrado.
Quais fatores determinam que estes pais optem por uma adoção tardia?

Alguns são fatores práticos, não é mais o momento de trocar fraldas e uma criança maior pode ser uma companhia de vida mais interessante. Outros são fatores circunstanciais, a criança já está lá e já estabeleceu uma amizade com o grupo familiar. Outros são fatores éticos: a necessidade de fazer algo para mudar o quadro tão terrível da infância abandonada. Geralmente estes três fatores se misturam com a predominância de um ou de outro.O único fator, a única razão ilegítima para adotar uma criança maior é para usá-la: seja como companhia para o filho, seja como empregada (escrava), seja como objeto sexual.
Quais são as vantagens da adoção de crianças maiores?

Essa pergunta tem respostas muito individuais e circunstanciais, mas é uma adoção onde a consciência social, o desejo de intervir numa situação de sofrimento são fatores causais muito importantes. As pessoas que optam pela adoção tardia parecem estar mais interessadas em ajudar uma criança do que em resolver algum problema pessoal.
AUTOR: Elena Andrei - Antropóloga
DATA: 26/06/99
FONTE: Boletim Uma Família para uma Criança –Fernando Freire/ABTH (org) – ano II, nº15