11.6.08

Retornando...


Muitos de vocês não devem se lembrar de mim. Fiquei muito tempo afastada, repleta de questões pessoais para resolver, trabalho, filho, processos, enfim...

O resumo da minha história, ou melhor, da nossa história é o seguinte:
Me inscrevi no Conselho Tutelar da cidade onde eu morava, buscando adotar uma criança de 0 a 5 anos de idade, sem distinção de sexo, cor, etc. Ficamos exatos 9 meses aguardando algum contato, eis que no dia 6 de março de 2006, recebemos a ligação do Conselho Tutelar dizendo que havia um menino de 5 anos que se encontrava na Casa de Passagem com uma mãe social e que lá não poderia mais ficar e nem passar aquela noite. Eles estava a procura de uma família substituta.
Pegamos o carro e fomos para lá. Nos contaram uma história breve sobre o menino que sofria maus tratos diversos, explorações de todas as ordens, estava sub-nutrido, e se havia interesse de vermos a criança antes de decidirmos ficar com ela.
Na ocasião eu disse que não queria vê-lo antes, pedi apenas para me darem a papelada para assinar pois ele iria pra casa conosco, independente de quem ele fosse e como ele era. Assinei os papéis e fui buscar o menino.
Ele estava arrumadinho, com sua mochilinha nas costas nos esperando. Nos apresentaram como "tios" e ele tímido veio no meu colo e o trouxemos para casa. Aqui já estavam meus cunhados e minha irmã esperando por nós. E neste primeiro dia ele me chamou de mãe e o meu marido de pai. Era como se ele sempre estivesse aqui... Aquele, definitivamente, não era o primeiro dia, pois não era isso que o nosso sentimento dizia. No dia seguinte, ele acordou com um sorriso nos lábios.
Deste dia em diante, Natan está aqui pra sempre.
Meu filho, minha vida, meu amor.
Não o vi dar seus primeiros passos, mas o acompanhei quando começou a escrever as primeiras palavras.
Não presenciei quando começou a falar, mas o ajudei a aprender a ler.
Estive presente em todas as suas conquistas, desde as medalhas que ganhou nos campeonatos de natação (algumas em primeiro lugar) até quando aprendeu a amarrar seus cadarços sozinho.
Apesar de todas as dificuldades que passou antes de estar aqui, Natan é uma criança feliz, saudável, inteligente, que sabe brincar, sabe dividir, compartilhar, dar carinho.
Hoje, ele tem 7 anos e estamos com o processo de adoção completando quase 2 anos.
Em meio a este processo, a mãe biológica em primeira instância foi favorável a adoção, mas em seguida quis ter o filho de volta. Não me abalei porque sei com todo o meu coração que o Natan é o meu filho, que daqui só sairá no dia em que se casar... rs... ou quando for adulto e quiser ter sua independência. Não tenho medo de perdê-lo, pois ele é nosso e sempre foi de certa forma. Não há nada que abale ou consiga desfazer os laços que foram criados entre nós. Laços de sangue? Não! Laços de amor que são muito mais firmes e apertados.

Ontem, recebemos a notícia do nosso advogado de que o Juiz do caso é favorável a adoção e que agora falta muito pouco para finalizar todo este cansativo processo. No mais, não penso muito nisso, pois sei que tudo acabará bem para todos. O que penso todos os dias é em criar o meu filho para ser um homem de bem.

Beijos e desculpas por não estar tão ativa quanto gostaria.

- Mila Viegas, mãe do Natan (7 anos) -

18.5.08

A VERDADEIRA MATERNIDADE

Sou mãe de dois filhos adotivos e me irrito quando dizem que eles não são meus "filhos verdadeiros".
 
VOCÊ TEM TODA A RAZÃO de se irritar. Um doador de esperma, por acaso, é um pai "verdadeiro" ou é um simples masturbador de material genético? É claro que você vê orgulho nos pais biológicos que também desempenharam a paternidade. Seus filhos têm seus traços, seus trejeitos, suas heranças biológicas. Eles são pequenas miniaturas deles.
A mãe natureza quer esse vínculo, para o benefício das crias. A tolerância de pais biológicos para um "sangue ruim", que a loteria genética lhes produza, será maior do que a de pais adotivos.
Mas, afinal, o que são um pai e uma mãe "verdadeiros"? São aqueles que produzem as condições para que a criança se torne uma pessoa, um indivíduo. São aqueles que desempenharam funções de pai e de mãe (continuação do ventre é igual a nutrição; calor e proteção, função de mãe; apresentação suave para viver no mundo, função de pai). Todas podem ser desempenhadas pela pessoa, quem quer que seja, interessada na criança: mãe, pai, babás, avós, curadores de orfanatos etc.
Quando um embrião se torna um ser humano (desenvolve um sistema nervoso que o permite sentir alguma coisa), vai precisar dessas funções para se tornar uma pessoa. É um trabalho danado, um investimento amoroso enorme. A "verdade" está com quem toma para si tal empreendimento.

(texto escrito por Francisco Daudt, psicanalista, publicado na Revista da Folha em 27/04/08)

2.5.08

Neste artigo, a juíza Mônica Labuto fala sobre a adoção, tema que segundo ela: “é permeado por dúvidas, mitos e preconceitos”, esclarecendo alguns pontos que ainda não foram bem digeridos pela sociedade. De forma clara, a juíza explica como ocorrem as adoções e a importância de ter certeza na hora de adotar uma criança, informações que estão na cartilha lançada este ano em meio às comemorações do Dia Nacional da Adoção.


Ao ensejo das comemorações do Dia Nacional da Adoção – 25 de maio –, data reconhecida oficialmente em 07/05/2002, com a promulgação da Lei n° 10.447, de autoria do deputado catarinense João Matos, cumpre-nos traçar um panorama do relevante instituto jurídico que busca, em sua síntese, assegurar o direito de crianças e adolescentes à convivência familiar quando desassistidas por suas famílias de origem, envolvendo também questões psicológicas e sociais, dando um contorno maior do que simplesmente uma instituição jurídica, positivada em texto legal vigente.
O ato de adotar, muito mais do que uma instituição jurídica definida e regulada por lei, é a construção de uma família, sendo que “o que os pais adotivos fazem, na verdade, é transformar ‘crianças’ em ‘filhos’, reinventam a família, tornando a família adotiva, uma família inventada pela cultura e pelos afetos”, nas sábias palavras de Fernando Freire.
O tema adoção é permeado por dúvidas, mitos e preconceitos, que devem ser destacados e devidamente esclarecidos a fim de promover uma sólida reflexão sobre a realidade do ato de adotar, sendo certo que um dos aspectos é a preocupação de muitos com a questão da herança biológica na determinação do comportamento, o medo da revelação da condição de adotado, o receio quanto à adaptação de crianças nas adoções tardias, dúvidas quanto à adoção monoparental e por homossexuais, entre outros que integram as relações humanas.
Com o objetivo precípuo de esclarecer e desmistificar as questões pertinentes à adoção, o Fórum de Paracambi, por meio de seu Setor Técnico, organizado por esta magistrada, elaborou uma cartilha como ponto de partida ao processo de reflexão do instituto junto à população, abrangendo as dúvidas mais comuns, a legislação que rege a matéria, de forma clara e acessível, devendo-se gizar que apenas a informação não muda conceitos ou comportamentos, sendo necessário o uso de outros instrumentos que possibilitem a abran-gência que merece o tema, como, por exemplo, os Grupos de Apoio à Adoção, que são grupos formados por pais e filhos adotivos e outros interessados, que se reúnem buscando trocar experiências, refletir e discutir sobre a questão, oferecendo também esclarecimentos de forma continuada, nas várias etapas dessa vivência humana.
Cumpre-se salientar que, lamentavelmente, nem todas as comarcas contam com essa importante iniciativa, carecendo tais munícipes de mais informações e apoio acerca do tema adoção, trabalho realizado pelos Grupos de Apoio que também visam informar, divulgar e incentivar a adoção por vias legais.
Uma das conseqüências jurídicas mais importantes do processo de adoção é a perda do pátrio-poder pelos pais biológicos que, com isso, perdem todos os direitos e deveres que eventualmente teriam sobre o filho que restou adotado, dando aos pais adotivos, a contrario sensu, aqueles direitos a eles pertencentes, passando o adotado a ter, até, outro registro de nascimento, com os nomes dos pais adotantes, sendo vedada qualquer menção à adoção na nova certidão do adotado.
Deve-se salientar que em quaisquer relações humanas há conflitos e problemas de relacionamento decorrentes do convívio diário, sejam em uma família com filhos biológicos ou adotivos, devendo ser afastadas as observações do tipo “agiu assim por ser filho adotivo...”, o que é um erro gravíssimo, tendo em vista que o filho biológico também pode gerar conflitos e sofrer crises decorrentes das várias etapas do desenvolvimento, não se devendo creditar ao fato de ser adotado a ocorrência de problemas de convívio no relacionamento cotidiano.
Finalmente, muito ainda há para falar sobre tema tão amplo como a adoção, mas o certo é que ainda há um longo caminho a trilhar, buscando dirimir dúvidas e quebrar tabus que ainda recaem sobre o ato de adotar, que é, acima de tudo, um ato de amor, um momento de construção de uma família por meio de laços de afeto.

3.3.08

Rodrigo e Malu

"Dia 10 de dezembro recebi um e-mail, tanto aqui quanto de outras listas, informando sobre crianças disponíveis para adoção no Estado do rio de Janeiro. Acabei não ligando pq os perfis descritos estavam fora de minhas possibilidades (3, 4 crianças). Porém, no dia 11 resolvi ligar pra pegar o endereço para mandar cópia da minha habilitação, quando fui informada de que havia um menino de 1 ano e 9 meses que não andava e não falava e que teria possíveis problemas mentais e que não havia pretendentes para sua adoção e que o mesmo iria para adoção internacional. Na hora eu disse que eu o adotaria. Além dele, também havia uma menina de 30 dias cuja mãe é HIV e que havia um casal francês interessado na adoção, já que não havia brasileiros (cariocas) interessados na adoção, mas que ainda não haviam dado certeza. Me coloquei na fila: se o casal frances desistisse eu ficaria com a menina também.

Dois dias depois recebi uma ligação da comarca informando que o casal frances havia desistido da adoção da menina e que o menino continuava sem pretendentes. Na hora disse que eram meus filhos e que iria buscá-los. Mandaram que eu, primeiro, fosse ao abrigo conhece-los, para só, então, ir ao forum com a certeza de que eu os queria. Disse que não precisava vê-los, que já sabia que eram meus filhos. Porém insistiram para que eu fosse primeiro ao abrigo.
Durante os dias que se seguiram, liguei algumas vezes para o abrigo para saber tamanho de roupa, tamanho de fralda, marca de leite que os pequenos tomavam e fui me preparando.

No dia 18 fui para o Rio. Sai daqui de São Paulo às 2 da manhã. cheguei ao Rio cerca de 8hs, porém me perdi (grande novidade rs). Acabei por chegar no abrigo apenas as 10hs da manhã.
Chegando no abrigo, logo me trouxeram a pequena Maria Luiza (nascida Thamyres). Não preciso dizer que foi amor imediato. Ela ficou tranquila no meu colo e eu toda desengonçada com um tequinho de gente nos braços que mal sabia como segurar. Diga-se que Malu tinha hernia inguinal e precisava de alguns cuidados como: sempre pegá-la ao colo para que não chorasse para a hernia não encarcerar; o leite tinha de ser um pouco mais fraco para evitar cólicas e etc.
Rodrigo Emmanuel (nome de registro e que eu achei lindo) não estava no abrigo porque fora fazer uma tomografia.
Fiquei no abrigo até que ele chegou. De imediato, quando cheguei perto, ele abriu o berreiro, virou o rosto e não quis vir no meu colo. Na hora fiquei preocupada pensando que ele não havia gostado da minha cara, mas as moças do abrigo me acalmaram dizendo que ele era realmente muito ressabiado com todos, mas que logo se acostumaria comigo.

bom, quando foi umas 14hs ligaram do forum nos chamando para a audiência. Fui acompanhada da diretora do abrigo.
No forum foi tudo muito tranquilo. A defensora pública entrou com as petições para o pedido de guarda. Tudo foi feito de forma rápida. A audiência também foi tranquila.
Sai do forum depois das 19hs e corri para o abrigo com os termos de guarda na mão.
Cheguei no abrigo, as crianças ja estavam trocadas e alimentadas para aguentarem a viagem. Fui me aproximando com cautela de Rodrigo, pq ainda tinha receio de que ele chorasse, mas qual não foi minha surpresa quando ele levantou os bracinhos e veio direto para o meu colo? Afff. só emoção!

Peguei a estrada quase 22hs e cheguei em São Paulo às 3hs da manhã.

Uffa. A viagem foi tranquila. O único problema foi trocar Rodrigo de lugar com Malu. Eu havia levado um moisés para trazer maluzinha e traria Rodrigo no colo. Porém logo no começo da viagem, Malu começou a chorar muito. então coloquei Rodrigo no Moisés (ficou com as perninhas dobradas, tadinho,) e eu trouxe Malu no colo. Vieram tranquilos. Paramos apenas uma vez para dar de mamar. Mamaram e voltaram a dormir (com o balanço do carro)

A primeira semana foi, digamos, um pega pra capar. Tudo novo, fraldas, mamadeiras, chupetas, choros, choros, choros. Não dormi, não comi e só conseguia ir ao banheiro quando estava tudo saindo pelo ladrão. Foi um sufoco pq Maluzinha não podia chorar, então era só a pequena começar a gemer que lá ia eu pegá-la no colo.
Rodrigo foi um anjo desde o primeiro dia, sempre compreensivo com meus cuidados maiores com Malu. O único grande problema com Rodrigo era o banho. Era chegar perto da água para abrir o berreiro.

Dia 25 de dezembro Malu passou mal, chorou muito por mais de uma hora e não havia o que a fizesse parar. Acabei por levá-la ao hospital. a hernia estava encarcerada.
Consegui marcar a cirugia da pequena para o dia 16 de janeiro, mas Malu teve novas crises no dia 27 e 28. levei-a ao hospital onde os médicos colocavam a hernia para dentro e nos mandavam para casa. Porém no dia 29, depois de nova crise, eu disse ao médico que não sairia do hospital sem que Malu estivesse operada. Não queriam operá-la alegando que eram necessário fazer exames mais precisos por conta do HIV e etc. Bati o pé e disse que chamaria a policia ou quem de direito e processaria o hospital por omissão de socorro. Acabaram por internar a pequena e no dia 30, logo cedo, ela foi operada.
A cirurgia foi rápida e a recuperação da pequena foi melhor ainda. É certo que me fizeram ficar de castigo um dia a mais no hospital, por birra mesmo, pq fui informada pelas enfermeiras de que as crianças sempre tinham alta no mesmo dia da cirugia à noite. Tudo bem, passamos mais uma noite no hospital e logo cedo, no dia seguinte, voltamos para casa.

Enquanto isso Rodrigo começou tratamento com fisioterapeuta e gostou tanto que chega em casa e gosta de fazer os exercícios e é louco para andar. Engatinha muito e já fica em pé sozinho por alguns segundos. É um menino extremamente inteligente, basta mostrar a ele uma única vez e ele sai fazendo direitinho tudo. É aficcionado por limpeza, todo tequinho de poeira ele pega e traz pra mim. Gosta de conversar, de cantar e de dançar. Tem o sorriso mais lindo desse mundo e hoje cortou os cabelos. fez um escândalo memorável, mas depois que se olhou no espelho foi só sorrisos.
Rodrigo está muito ciumento da irmã, então basta eu pegá-la no colo para que ele comece a fazer tudo quanto sabe que não pode, e se joga no chão e pede colo e etc. Gosta de tomar chá na chuca da irmã, não interessa dizer que o chá dele é o mesmo, ele tem de tomar na chuca da irmã. Então estamos passando por esta fase do " minha mãe é só minha", mas estamos indo bem (eu acho rs). Hoje adora tomar banho. O dificil é tirá-lo de dentro da banheira rsrsrs.
Malu é outra menina, super tranquila e sorridente. Amanhã fará seus primeiros exames de sorologia para ver como está o tratamento. Tomou 42 dias o xarope de AZT. Agora vamos ver os resultados para saber se prosseguimos com o tratamento ou se já está negativada.
Rodrigo continua com o fisioterapeuta e vai começar com a fono. Tudo indica que o tal "retardamento" não passava de falta de estímulo.
E eu??? Cansada, mas tão feliz que já penso em, daqui uns 2 anos, começar tudo de novo rsrsrs.

Por isso eu disse que às vezes a nossa felicidade está tão perto e a gente teima em não ver. Meus filhos são duas crianças lindas e tranquilas, talvez fosse "desejo" de muitos e muitos pretendentes á adoção e já estariam em um lar há tempos, porém os entraves (suposto retardamento e HIV) afastaram os tantos possíveis interessados que vão continuar na fila esperando, esperando. E eu só posso me dizer abençoada por ter estes dois anjos comigo. Por eles terem me aceitado desde o primeiro dia e aberto seus coraçõeszinhos para uma estranha que Rodrigo chama de mamãe e Maluzinha olha fixamente com um sorrisão lindo. " - Paula Cury