7.12.06

Vale à pena trabalhar pela adoção!!!

“No sábado, minha mãe veio me contar que minha cunhada está grávida de 1 mês. Logo em seguida, veio o comentário: "Seu pai disse que ficaria mais feliz se fosse você!".
Minha mãe diz que ama a Quel e o meu sobrinho do mesmo jeito, que não tem nenhuma diferença, porém fala que foi muito dolorido aceitar minha decisão de não ter um filho biológico, que ela sofreu muito mas entendeu meu jeito de pensar. Minha mãe diz que ela e meu pai têm direito de sonhar e que eu tenho de respeitar isso. É tudo muito confuso, porque minha mãe e a Quel estão um grude só! Elas se divertem muito juntas, as duas são muito carinhosas uma com a outra, tudo que minha mãe vê e acha bonito já quer comprar para a Quel.
A velha história: minha cunhada está grávida e eu não! Como não?!? Então a Quel não fala todos os dias na irmãzinha que está para chegar?
Eu pretendo conversar com meu pai sobre o assunto. Se não conseguimos abrir os corações nem dos nossos familiares, então como levar a bandeira da adoção para os estranhos?”
Carmen

'Cá amiga,

Vc sabe que vivo a mesma situação!!! Qdo falo de uma possível gravidez, os olhos dela brilham, ela respira fundo e fica sonhando: 'ai, já pensou isso...já pensou aquilo...ai como eu ía ficar feliz de ver o barrigão...ai isso, ai aquilo', entretanto qdo falo de uma nova adoção: 'ai, vcs são malucos!!! Nos tempos de hj 2 filhos já está bom demais e além do mais vcs já têm um casal. Vê se sossega só com esses 2'. E aí eu pergunto...que diferença tem ter o 3º filho por adoção ou biológico?!?!?!

É muito complicado de se entender essa dicotomia, principalmente pelo motivo que vc citou...existe amor por nossos filhos!!! Não é fingimento, não é obrigação...é amor!!! Creio que aí existam 2 lados que brigam inteiormente...o do que ama de forma incondicional nossos filhos e outro que quer ter uma 'seqüencia de sangue' da família.
Minha mãe nunca se conformou de eu não querer fazer exames, tratamentos e agora que existe a possibilidade real de uma gravidez eu me retraio justamente por estes comportamentos! Como seria ouvir alguém, da família e de fora tbm dizendo: 'ai, que legal, agora vcs vão ter um filho de vcs, né?'. Isso me arrepia só de pensar!!!
Vou deixar o mérito do neto biológico para meu irmão, mas sei que sempre foi o sonho do meu pai tbm me ver grávida! Mas e aí...é um sonho deles e não meu!!!
Acredito que nossas famílias são abertas sim à adoção, amiga, eles só sonham com um neto biológico, se iludem com a bobagem de imaginar com quem essa cça pareceria, que carinha teria, de nos ver com a barriga, mas são abertos pq senão não amariam nossos filhos, ainda que essa abertura venha depois da chegada das cças!
Acho que a luta é válida, pq só se derruba preconceitos (não sonhos) com informação! E neste campo da adoção há muito que se trilhar ainda!!! Lembro-me que cças criadas sem pai ficavam isoladas no fundo da sala de aula pq não podiam confeccionar presentinhos para o dia dos pais! Lembro-me que moça solteira que tinha filhos não era mais aceita em igrejas sem caras feias e algumas famílias 'amigas' lhes fechavam as portas para nao servir de 'mau exemplo' para suas filhas! Lembro-me que até há bem pouco tempo os homossexuais não podiam sequer assumir sua condição sem o ônus de serem execrados pela família e pela sociedade! Lembro-me que os portadores de HIV eram condenados a viverem uma vida de isolamento e era isso que os matavam...a carência afetiva e o isolamento social! Lembro-me de tantas outras coisas que daria para escrever até amanhã...
Todos de forma incondicional conquistaram seu espaço, adquiriram respeito justamente pq houve pessoas que não se intimidaram com o que os outros pensavam. Saíram, batalharam, serviram de escudo para serem atacados, criaram polêmicas se espondo nas ruas, nas escolas, batalhando pelo direito à inclusão e hj, cada um a seu modo, conquistaram o direito de serem cidadãos, ainda que esteja longe o quesito respeito em alguns casos e embora não haja o respeito desejável, já se adquiriu uma coisa muito importante...tolerância!
Precisamos lutar sim pela causa da adoção, pq não dá para admitir que mesmo diante do aumento que houve na procura pela adoção, que se use nos meios de comunicação o termo 'família de verdade' para a família biológica, 'mãe verdadeira' para a mãe biológica...e nesse ponto lembro-me que pessoas que lutavam pelas causas e íam aos programas de tv para modificarem termos como 'não é mongolóide...é portador da Síndrome de Down', ou 'não é alcoólatra...é alcoólico'. E foi assim, modificando o termo que carregava o preconceito e explicando as situações que se adquiriu respeito e aceitação social!
Ao passo que mostramos que nossos filhos são filhos como outro qquer que tenha vindo de forma natural, por inseminação, por fertilização, mostramos tbm que somos uma família de verdade, que a adoção é uma forma alternativa de se ter um filho, que dá para ser feliz e é isso que vai fazendo a diferença ao nosso redor, pq de repente uma pessoa que sequer pensava nisso, começa a sonhar! E aí vem a despreconceitualização da cça maior, a desmitificação que cça gde é sempre um problema, que a adoção de uma cça gde é perigosa, a aceitação de uma cça portadora de necessidades especiais, de raça diferente da nossa...
O trabalho é duro, o processo é demorado...é necessário se andar muito nesta caminhada para se consquistar o que parece pouco, mas é o conjunto de ações ao longo do tempo que vai modificar a sociedade!
Desistir de lutar é negar aos nossos filhos, ou netos, e suas gerações que possam viver a adoção da forma como sonhamos, sem tabus, sem receios, sem preconceitos!
Nossa luta é contra o preconceito e não contra os sonhos!'
Bjs com carinho!
Cláu
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5.12.06


DEPOIMENTO: ADOÇÃO E GRAVIDEZ

Desde muito cedo quis ser mãe e até gravidez psicológica, de ficar 4 meses sem menstruar e com o ventre um pouco crescido tive.

Casei cedo, aos 22 anos e um ano depois já estava tentando engravidar. Só que não acontecia. Fiz vários exames e comigo estava tudo em ordem para que a gravidez acontecesse.

Já no meu marido, apareceram algumas complicações e ele até submeteu-se a uma cirurgia para correção do problema (velocidade dos espermatozóides).

Mesmo assim o tempo foi passando e a gravidez não acontecia. Só que não era uma obsessão e fomos levando nossa vidinha de casados muito bem.

Desde mocinha eu pensava em adotar, achava que já tinha tanta criança precisando de um lar, então pra que colocar mais uma no mundo?! Só que esse não era o pensamento do meu Guga que queria muito um filho biológico.

Lembro que antes de saberem que o problema por eu não engravidar era do Guga, a família dele me cobrava absurdos pela gravidez! Era como se fosse um fluxograma: Casou, tem que ter um filho biológico! Um dia não aguentei e mandei eles perguntarem ao Guga pq eu não engravidava. Silenciaram e me deixaram em paz!!! ufaaaa!!!

Guga tentou tratamento com hormônios que o fizeram passar super mal e foi aí que conversamos mais seriamente a respeito da adoção e ele concordou. Tínhamos 12 anos de casados.

Nos habilitamos, cheios de paradigmas e preconceitos...graças a Deus chegou meu Henrique, que de fato era o oposto da criança que descrevemos desejar no processo de adoção inicial. Mas chegou arrasando: Nos fez Pai e Mãe e o melhor: Nos fez ver a vida como ela é e saber que pode ser melhor e nos fez quebrar as fronteiras do nosso mundinho.

Henrique, meu filho mais velho, não foi bem aceito pela família e teve até aqueles que nos mostraram os pulsos e disseram que se o sangue deles não corressem na criança, eles não a considerariam como família. Houve os que nos mandaram devolvê-lo...e absurdos assim. Afiamos unhas e dentes e deixamos claro que ele era nosso filho e ponto final e aqueles que quisessem continuar a conviver com agente teriam que respeitar nosso Henrique.

1 ano e 6 meses se passaram...Henrique já consquitara seu terreno e os que não o aceitaram, era pq de fato não nutriam por nós grande afeto, assim se afastaram. Graças a Deus...hoje enxergo que eles eram um grande estorvo!!!

Comecei a ter sonos incríveis e super fora de hora...era um abrir de boca maleducado e eu não me segurava em pé! A menstruação atrasou e comecei a ficar enjoada...veio a suspeita da gravidez!

FIQUEI APAVORADA! tomava remédios pesados para o controle da Esclerose Múltipla, doença da qual sou portadora e recentemente tinha feito pulso de corticóides!

O exame deu positivo! Lembro que chorei que só, por não desejar mais ficar grávida, tinha muito medo, eu já tinha 35 anos. Por estar passando por um momento difícil na nossa vida e por achar que já tinha meu filho e se quisesse outro era para ser adotado também!

Fizemos a primeira ultra-som e o coração pulsando a mil por hora nos fez emocionar: Eu e Guga a chorar e Henrique a sorrir imitando o som do coraçãozinho do irmão!

Sim, teve os que assim que souberam da minha gravidez foram logo indagando: E agora vão devolver o menino que vcs "criam"? E o pior é que não foi só um ou dois que chegou a fazer essa pergunta absurda!

Outros comentavam: "agora vc será mãe de verdade"! ou "agora vcs vão ver o que é de verdade ter um filho"!

Por vezes eu respondia alguma coisa bem grosseira e por outras vezes era bem escandalosa e me colocava a gargalhar na frente da pessoa, que ficava com cara de tacho!!! Por vezes, tava tão cansada com aquilo tudo que nem respondia nada!!!! Ignorava!

Bom, comecei a ter enjôos absurdos, vomitava mesmo em jejum, o suco gástrico e só faltava me acabar com aquilo! enjoei o cheiro de tudo...até a música de um desenho animado que Henrique gostava de assistir até hoje não aguento escutar!


Eu não conseguia mais dormir na posição que estava acostumada...a região da bacia doia demais e me disseram que era justamente a mesma se dilatando para segurar o bebê e dar passagem ao mesmo...como tive dores!!!

Eu praticamente não dormi a gravidez toda, eram apenas cochilos, ou desmaios de tão cansada! Me sentia insegura...Chorava por tudo, até com propaganda de bolacha na TV!

Descobri como posso me tornar uma pessoa insuportável!!!

Passei a gravidez deprimida!!! Era muito incômodo!

Tive sem ter nem pra que um forte sangramento...ameaça de aborto que me fez ficar de molho por mais de um mês.

Eu vivia insegura, aquele serzinho crescendo dentro de mim me apavorava e não conseguia enxergar poesia naquilo! Os únicos momentos bons eram na hora da ultra, onde víamos ele se mexer todo e cada vez se formando!!! O estado de graça terminava aí! O resto era para fazer graça aos desafetos, pq era um incômodo só.

Claro que eu amava o filho que crescia em meu ventre...mas, era aquele amor de cuidar para que nada de mal acontecesse a ele!

A partir do quinto mês comecei a ficar toda inchada e meus pés e pernas foram os que mais sofreram...

No fim da gravidez, faltando uma semana para 8 meses tive pré-eclampsia e quase morremos eu e ele!

Por precaução da obstetra que me acompanhava já estava internada na maternidade há 2 semanas e pegaram o pré-eclampsia de pronto e assim nasceu meu segundo filho! Parto de urgência, cesário e ele ainda ficou 10 dias na UTI Neonatal...

Quando o colocaram em meu colo, recém nascido todo melecado por uma gordura branca, só conseguia dizer: "Deus o abençoe" e alisava meio com medo sua testinha.

Hoje sei e tenho convicção que só conseguimos amar nosso filho depois que ele nasceu e começamos a cuidar dele e interagir com ele!

A gravidez em nada tornou Guilherme mais meu filho do que o Henrique. Hoje, eles são dois filhos adoráveis, cada um na sua faixa etária e com diferentes facetas, tb em virtude da personalidade deles como indivíduo!!!

Sim, meu marido que viveu por 14 anos o drama de não me engravidar, depois que a gente quase morre, tratou de fazer vasectomia e me disse com seu jeito meigo: "Se quisermos e tivermos condições de ir atrás da nossa menininha, ela virá adotada! Sabemos que se trata da mesma coisa! É só um meio diferente de chegada dos nossos filhos"!

Lembro que desatei a chorar emocionada e orgulhosa do Homem que meu Guga se tornara!!!