25.11.07

Existe fórmula mágica para lidar com a criança abusada?

Mais um texto da amiga Dani, respondendo como lidar com crianças que já sofreram traumas.
Cada caso é um caso e aflora de uma maneira, o importante na adolescência é falar sobre o que aconteceu. Se os pais não se sentem bem em tocar no tema sozinhos com a criança, buscar um profissional que intermedie a conversa. Há varias maneiras de tratar isso, mas não existe cura interna, o que existe é através da terapia amenizar as conseqüências que isso pode trazer para toda a vida. É terapia por toda a vida, pois cada experiência pode despertar sentimentos com relação ao trauma. E aos poucos a pessoa, adolescente e adulta vai aprendendo a lidar com essas emoções que parecem ter desaparecido, mas em verdade podem estar sempre dormindo. Abusos há de vários tipos e sempre tratá-los como tal, não generalizar e tratá-los todos da mesma maneira. Crianças muito pequenas que foram abusadas, geralmente são retraídas ou agressivas se tem certa consciência do ocorrido. Qdo esse vestígio de consciência não existe nesse momento, seguramente sairá à frente na adolescência através da conduta, ou ate mesmo pode chegar a lembrar o que aconteceu qdo era pequena, como uma espécie de imagem indefinida que busca a emoção do momento e pluft a coisa explode. O que fazer com a criança ou adolescente no dia a dia, depende muito de cada caso, e do tipo de abuso. Por exemplo. Existem crianças que foram abusadas sexualmente e não suportam ser tocadas, ou beijadas, ou algum tipo de carinho físico...esses casos são bem especiais pois a aproximação física deve ser muito devagar à medida que a terapia avançar, a confiança se estabelecer.
Por isso não existe uma receita para "como tratar uma criança no caso de abuso" pois cada caso é um caso. O que eu diria seria coisas muito gerais: buscar ajuda profissional, não evitar falar sobre o assunto, muito amor, muito carinho, e muita empatia, não ter medo de colocar limites por que a criança tem um trauma, pois isso é cultivar outro problema.
Criança ou adolescente abusado tem uma autoestima baixa, desconfia de todos, e tem uma visão de mundo ruim. É aí que se deve trabalhar, na autoestima e na visão de mundo. A família bem orientada consegue lidar com as situações, e consegue ajudar a criança ou adolescente a conviver e a se fortalecer para lidar com essas feridas que se fecham muito lentamente. Mas é como montar montanha russa, uma hora sobe outra hora desce, e a terapia e a família podem ajudar no processo interno que a pessoa passa para saber lidar com essas emoções. Tempo é o amigo intimo de cada pessoa e a família , mas pode se tornar inimigo se deixar ele passar sem tomar nenhuma atitude para ajudar ao abusado. Pois o que hoje são feridas com possibilidades de fechar-se, amanha podem tornar-se armas para ferir outras pessoas da mesma maneira ou até mesmo pior. Dentro desses dois extremos existe um presente que é determinante para êxito futuro em muitas áreas da vida. No dia a dia é basicamente fortalecer a autoestima da criança ou adolescente, ganhar sua confiança a ponto de poder afrontar o assunto de frente em algum momento. Qdo se pode falar abertamente sobre o que aconteceu, é sinal de que se busca fortalecer internamente ao extremo de maneira certa. O abuso se reflete de varias maneiras: agressividade, apatia, retraimento, ira... atitudes que refletem pouca personalidade, ou seja um adolescente que é convencido facilmente a qq coisa, um adulto complacente demais, inseguro demais, indeciso demais.
Quem tem medo de não saber lidar com a situação tem que investigar dentro de si mesmo por que esse medo, depois que chegar a conclusão bem clara do por que esse medo, então poderá ter uma idéia maior de suas limitações para lidar com certas situações. Às vezes queremos muito alguma coisa, mas essa coisa pode não ser pra nós. Me explico?! E isso não é vergonha pra ninguém. Cada pessoa é uma única, e seria muito chato o mundo se todas fossem iguais. Lembre de sua infância e de como seus cuidadores eram com você, e se vc se sente satisfeita com a segurança que eles te passaram, a educação que eles te deram, se sentiu amada e cuidada saberá como atuar com com qq criança e terá as ferramentas internas necessárias para ajudar a uma criança com traumas. Ter uma fortaleza interna é fundamental para lidar com crianças abusadas. Essa fortaleza vem das interpretações positivas de suas experiências de vida( ate do negativo saber tirar algo positivo), essas são as pessoas que conseguem lidar com crianças com traumas. Mas nem tudo se faz sozinho, e por isso hoje em dia já tem tantas áreas dedicadas à ajuda psicológica. Nem todo psicólogo é apropriado para lidar com certos"problemas" e por isso existe a vocação e as especializações. Fica sempre atenta a quem buscar, que títulos tem, que trajetória tem, que experiência tem.

2.11.07

Devolução da Criança

Amei este texto, da autoria da Dani, um membro do Orkut. O tópico da discussão é sobre uma moça de 24 anos, que hoje grávida de seu primeiro filho, considera a possibilidade de devolução de uma adolescente que ela adotou. Adaptei um pouco, mas acho que temos muito o que meditar sobre o que ela pondera.

Esse tipo de coisa acontece por que os adotantes não estão claros emocionalmente em sua motivação para adotar.
Idealizam demais a adoção como se fosse algo mágico. Ter filhos não é algo mágico, é uma realidade diária cheia de alegrias, tristezas e frustrações também, Seja ele filho bio ou adotado, é um ser humano totalmente independente com uma forma de ver o mundo única(ainda que grande parte dessa percepção leve a influencia dos cuidadores diretos).
Saber lidar com essas "frustrações" que ocorrem é que mora a diferença e a sanidade interna de uma pessoa, e sua maturidade emocional para saber fazer dessa "frustração" uma manivela forte para mudar a situação de maneira acertiva.
Creio que o que acontece com essa senhora não é diferente de muitos outros casos parecidos que vemos diariamente(infelizmente); pessoas com motivações internas "indefinidas" para adoção.
Qdo o assunto vira uma realidade percebem q não tinham idéia do que realmente é ter filhos; Não tinham idéia de muitos aspectos. Inclusive de suas próprias limitações para muitas coisas.
A adoção tardia não é para qq um. Adoção tardia é para quem realmente esta maduro para lidar com outro ser humano totalmente estranho,com uma super mochila de vida nas costas a ser compreendida, relevada e redireccionada. Quem opta por esse tipo de adoção deve ter um autoconhecimento grande, ter a sabedoria interna de ajudar-lo a integra-se a sua nova realidade pouco a pouco.
A adoção tardia é uma adoção especial cheia de outras possibilidades de situações que podem ou não dar-se, e ignorar essas possibilidades não é nada legal.
Mas creio que a situação vai muito mais longe, do que não estar "preparado" para essas possibilidades, creio que o problema esta realmente em saber internamente o que quer, o que pode ter, o que é possível que tenha, o que é adoção, qual a motivação verdadeira para dar-se essa adoção, e o mais importante na minha opinião "O momento de ter filhos" ainda q sejam biológicos em um momento pouco pensado, pouco planejado, pouco considerado em sua totalidade, traz consigo um "peso", ou seja, não estar minimamente preparado pode fazer essa maternidade algo difícil de lidar no dia a dia. Principalmente na hora que a criança vai crescendo e se demonstrando uma pessoa independente com seus próprios desejos, acertos e erros.
Talvez p essa senhora, o estar grávida nesse momento, represente a realização de uma sonho, e agora a menina "sobra" na concepção inconsciente, ou ate mesmo consciente, de uma pessoa que não "acolheu" com o coração a essa menina.
Situação difícil e dolorida, difícil de ajudar, mas creio que acudir uma terapia em família, e individualmente poderia ajudar sim.
Acredito fielmente que a mãe deve fazer uma terapia individual urgente, pois ela é quem não sabe lidar com o assunto, e as muitas emoções que estão surgindo com essa gravidez. Ela esta despejando na menina um peso enorme, e muito injusto.
A transformação hormonal que esta passando não justifica nada, pois apenas acentua o que já existia previamente em emoção.
Infelizmente casos assim ocorre mais vezes do que podemos imaginar, e o fim é quase sempre o mesmo, a devolução da criança.
Mais uma vivencia para que ela ponha dentro de sua pequena mochila da vida, de maneira internamente devastadora.

Amei! A primeira vista pode parecer que ela é contra... mas não é. Adoção tardia é maravilhosa, e todos só tem a ganhar com ela. O que precisa ficar bem claro, para que se evite situações muito tristes, é que esta criança tem um passado e isto precisa ser aceito. o ato de adoção não apaga automaticamente tudo o que ela viveu! Mas o carinho e o amor no dia a dia podem sim, transformar uma vida!