Mostrando postagens com marcador adoção. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador adoção. Mostrar todas as postagens

23.6.13

Cumplicidade Indecente- Por Savio Bitencourt

Bons textos devem obrigatoriamente serem partilhados... li na página da Dra. Silvana do Monte Moreira, advogada carioca e incansável batalhadora pelos direitos das crianças.

Tenho denunciado com frequência a existência de uma trágica realidade para crianças e adolescentes brasileiros: condenados ao abandono em instituições, não tem respeitado o direito constitucional a viver em família, bem debaixo dos narizes empertigados daqueles que têm o dever de zelar por sua proteção.

Uma razão para a delonga demasiada de soluções eficazes para o abrigamento indiscriminado é a demagogia paralisante que assola as relações sociais no Brasil. Este movimento de adoração da pobreza como causa de todas as mazelas sociais justifica qualquer atividade ilícita praticada pelos que nela se encontram. Por esta corrente de pensamento que perniciosamente se instala nas consciências de profissionais pagos para garantir direitos da criança, tudo, inclusive o abrigamento e o abandono de crianças, se justifica pela pobreza. Este raciocínio é frontalmente oposto ao mandamento constitucional e se baseia em argumentação muito pouco sólida.

Com efeito, dizer que a pobreza autoriza o abrigamento por tempo indeterminado é privilegiar o direito do adulto em detrimento do direito da criança. Inverte-se a lógica da proteção à criança para se consagrar sua “coisificação”, já que passa ela a ser “pertencente” a sua família e ficar “guardada” pelo tempo que for necessária a sua reestruturação. O mais curioso é que os que levantam esta bandeira atribuem ao princípio da proteção integral o dever do poder público de proteger a família para que ela possa receber sua criança de volta. Sendo insuficientes as políticas públicas para tal fim, a família não poderia ser “penalizada” com a “perda” de seu filho. O raciocínio não é muito profundo em termos de intelectuais e se despedaça ao se constatar a realidade dos fatos.

Primeiro, é necessário se afirmar que a proteção integral se destina à CRIANÇA. É ela que deve ser integralmente protegida do abandono em instituição, preferencialmente voltando para sua família biológica, mas se isso não for possível no curto prazo, deve ser destinada à adoção para que sua infância não pereça em função de problemas de adultos. Em segundo lugar, dizer-se que a pobreza é “a” causa do abandono não corresponde inteiramente à verdade e é uma injustiça com a maioria esmagadora das pessoas pobres do país que, diante das maiores dificuldades, lutando contra tantos obstáculos, criam seus filhos em sua companhia.

Este raciocínio é compatível com “o mito do amor materno” segundo o qual toda a mãe e todo pai amam seus filhos biológicos de uma forma socialmente uniforme. Nada mais equivocado: há pais e mães biológicos que não tem apreço por seus filhos, por inúmeras razões que não cabem ser aqui discutidas, demonstrando com a falta de cuidado seu desamor. O cuidado é o corpo de delito do afeto. A ausência do primeiro importa na inexistência ou na insuficiência do segundo. É compreensível que o alcoolismo, o uso de drogas, a ignorância e a criminalidade, dentre outros fatores, possam levar as pessoas a este estado de desapego com seus filhos. É possível e desejável que se tente ajudar estes adultos e promover sua capacitação para a vida em sociedade.

Só não é admissível que os filhos destas pessoas paguem com sua infância, trancafiados em instituições, esperando recuperações improváveis e demoradas, quando em grande parte dos casos a recuperação do adulto evidentemente é improvável em curto prazo.

Deixar uma criança anos a fio num abrigo é uma ilegalidade abominável que não pode ser tutelada pelo Poder Público, sob pena de indecente cumplicidade.

25.5.12




Este post está rascunhado desde o dia das mães, data em que é impossível não se ver cercada dos mais comoventes depoimentos femininos. A dor do filho que não nasceu é grande, é imensa. Como diz o Chico, "saudade é arrumar o quarto/do filho que já morreu"- ou que nem nasceu...

Tenho ouvido, ao longo da minha vida, nos mais variados tons, eu não posso ter um filho. Algumas vezes como lamento, outras com raiva, outras com mágoa... e outras com indiferença burilada em anos de dor - não era pra ser, bola pra frente.

Eu costumo dizer que Deus pode querer que alguém não fique grávida, mas ele sempre quer que alguém seja mãe.

O discurso mais frequente é "Adoção não é pra mim". E eu sempre fico pensando, por que não?

O que faz uma criança adotada ser diferente aos olhos destas pessoas?  O que o sangue garante? 

Estas pessoas desconhecem uma verdade absoluta: todos os seres são paridos, mas nem todos são adotados. Você pode ter ficado grávida, ter parido, mas se não se dispuser a adotar esta criança, ela não será sua filha. Se vc não se dispuser a formar laços com ela, no dia a dia, ela não será sua filha. Se vc não se dispuser a amá-la, a dedicar seu tempo com ela, ela não será sua filha.

Fosse a voz do sangue tudo, não haveria tantos filhos bios largados no mundo, e nem estou falando dos "pobrezinhos abandonados". Estou falando daquela criança de família classe média cujos pais delegam todo o cuidado à empregadas; daquelas cujos pais não tem tempo para reuniões na escola ou festinhas; daqueles que tem filho pra por a foto na carteira apenas. Fosse a voz do sangue garantia de vida feliz em família não haveria tantos consultórios com gente buscando ajuda. Não haveria tantas "ovelhas negras" nas famílias (e cabe aqui um parentese, pq na mais pura voz do preconceito, sempre que em uma "família de bem" surge um dependente de alcool, drogas, ou até mal comportamento, vem a piadinha "ele foi trocado na maternidade" "tem certeza que ele não foi adotado").

O sangue não garante nada, salvo as mesmas doenças que vc tem em família. O que garante tudo é a formação que vc se dispuser a dar.

E por último, uma coisa que penso sempre... ok, adoção não é pra vc. Mas vc esteve na maternidade, teve seu pimpolho. Dois anos depois vc tem um oficial à sua porta dizendo que seu bb foi trocado e a "verdadeira mãe" o quer de volta. Vc acha que se sentiria aliviada pq "nunca tinha conseguido amar esta criança, sabia que ela não era sua" ou vai ficar desesperada??????

Pense nisso. Pense que ser feliz depende muito mais só de vc do que vc imagina!

Como diz minha prima: "Deus tem muitos caminhos para distribuir suas bençãos"... e quer benção maior do que ter um filho?

11.3.12

Famílias Legitimadas pelo Amor

 * matéria compartilhada, no Facebook, por Suzana Sofia Moeller Schettini

Compartilhamos abaixo, matéria sobre adoção que foi veiculada hoje, no Jornal do Comércio de Pernambuco.
Foi o nosso "direito de resposta" concedido pelo jornal, em função da associação negativa feita entre adoção e delinquência, em algumas matérias sobre o assassinato de um casal, ocorrido aqui em Recife recentemente. O crime foi cometido pelo filho, que é adotado.
A matéria de hoje está muito boa. Ocupou 6 páginas do Caderno Arrecifes e veiculou na capa principal do jornal. Traz depoimentos de várias famílias adotivas. Pais e filhos falam de suas experiências exitosas e tranquilas na adoção.
Estamos todos muito felizes com a reviravolta que conseguimos por aqui!
A matéria contem muitas fotos e colorido. Eu digitilizei tudo e tentarei postar para que vejam melhor. Vale a pena!
Abaixo, vai apenas o texto.

Jornal do Commercio, Caderno Arrecifes

Recife, Domingo, 11 de Março de 2012.

Capa:

Famílias legitimadas pelo amor

Longe dos rótulos, núcleos familiares nascidos a partir da adoção comprovam que o parentesco é algo que vai além do sangue: é conquista diária que exige dedicação e vontade

Apresentação da editora chefe do Caderno:

Laços de família além do sangue

Recentemente, o caso do filho que matou os pais no Recife chocou o País. O bispo Robinson Cavalcanti e a esposa, Míriam, foram brutalmente assassinados, a facadas, pelo filho, Eduardo, que já está preso. Além dos motivos que levaram o jovem a cometer o crime, chamou a atenção o fato de sempre que se falava do parentesco entre os envolvidos, era salientado o fato de Eduardo ser adotado. Como se nunca no País infelizmente tivessem ocorrido casos de filhos biológicos que acabaram com a vida dos pais. A reportagem de capa desta edição surgiu a partir da reflexão sobre esse que deveria ser um pormenor. Com segurança de quem é mãe e sensibilidade de jornalista que atenta para os detalhes, Bruna Cabral redigiu uma bela matéria sobre as famílias que nascem do difícil ato da adoção. Difícil porque dá trabalho vencer a burocracia e mais ainda conquistar o amor daquela criança que já foi tão magoada pela vida. A boa notícia é que é possível sim criar laços de parentesco definitivos, por vezes até mais fortes que os originados pelo sangue.

Janaína Lima, editora.

CAPA

Elos cerzidos pela vida

Para quem protagoniza relações familiares costuradas pela adoção, amor tem gosto de arroz com feijão. É conquista cotidiana, que vinga, cresce e estabelece laços inquestionavelmente legítimos

Bruna Cabral - bruna@jc.com.br

Nem das suculentas maçãs do paraíso, nem do indigesto enxofre do purgatório. Para quem protagoniza relações familiares cerzidas pela adoção, amor tem gosto de arroz com feijão. Afinal, por mais que a sociedade insista em atribuir rótulos, méritos e deméritos à configuração familiar pautada mais por convicções que por instintos, quem empreende uma batalha jurídica e outra afetiva em busca de seus rebentos sabe que parentesco é, e ninguém ouse duvidar, substantivo erguido com a argamassa incorruptível do cotidiano. Uma construção que leva tempo. Dá trabalho. Exige dedicação e persistência. Mas vinga. Cresce. Estabelece elos inquestionavelmente legítimos. E, apesar dos inevitáveis percalços da vida, perpetua famílias felizes nos quatro cantos do planeta, desde que o mundo é mundo.

No Brasil, a adoção só foi contemplada com uma lei específica em 2009. Hoje, qualquer um que queira adotar uma criança precisa primeiro dar entrada numa série de documentos, passar por uma avaliação psicológica, entrar num cadastro nacional e ainda fazer uma espécie de curso preparatório, conta Suzana Schettini, psicóloga especializada no assunto. E por mais compridos que possam parecer, esses trâmites, garante, já foram bem mais complicados e lentos.

Mãe adotiva e presidente do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção de Recife (Gead), ela avalia que o preconceito é hoje entrave bem maior à adoção que a burocracia. Vez por outra, um fato terrível como esse assassinato do casal de religiosos, cometido pelo filho há algumas semanas, reacende a polêmica em torno do assunto. As pessoas passam, aliás, voltam a tratar a adoção a partir do equivocado pressuposto de que mais cedo ou mais tarde a relação vai se tornar problemática, diz Suzana, que se apressa em avisar que, na prática, esse terrorismo não se confirma. Isso não passa de bullying social.

Os números referentes à adoção em Pernambuco não deixam Suzana mentir. Segundo dados da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja), só em 2010, um total de 937 crianças deixaram instituições de acolhimento Estado afora para se instalar na árvore genealógica alheia. E os recifenses, claro, são maioria na lista de famílias que começaram numa assinatura. Na Veneza brasileira, a cegonha do Poder Judiciário pousou exatas 183 vezes no ano retrasado. E não perdeu as viagens. Os casos de insucesso não chegam a 1% dessas estatísticas, diz o desembargador Luiz Carlos Barros Figueiredo, coordenador da vara da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de Pernambuco.

Mas número é número. E filho é filho. Não dá para dizer que não existem problemas numa relação desse tipo. Às vezes os pais escolhem o momento errado para tomar essa decisão. Às vezes depositam uma expectativa exagerada na criança. Ou pior: erram na motivação, achando que fazem caridade. Aí, complica bastante, diz Suzana. Mas não inviabiliza.

Mãe de Bruno e Marco Gabriel, 13 e 9 anos, a psicóloga e terapeuta floral Ana Azevedo, 54, também acredita que o revés do preconceito é um dos principais entraves à felicidade das famílias reunidas pela adoção. Muita gente tem a ilusão de que assumir a guarda de uma criança é uma grande obra social, uma ação humanitária. Mas não tem nada a ver com isso. Também não é mágica, nem conto de fadas. É só um arranjo familiar diferente. O que muda é o começo. O resto são prazeres e desprazeres do cotidiano, diz Ana, que garante: não escolheu ser mãe. Foi escolhida.

Há muitos anos, trabalhei numa escola e acabei ficando muito ligada a uma das adolescentes. A menina cresceu e nunca mais perdemos o vínculo. Ela casou, teve dois filhos mas, no segundo parto, morreu. Não sem antes pedir a Ana que cuidasse de suas crias, caso alguma coisa desse errado. A princípio, dividia a guarda dos meninos com os avós e o pai. Até que assumi os dois em definitivo. Com o apoio da família, claro, que se traduz em visitas constantes. O começo, conta Ana, foi muito difícil para todos. Mas eles sempre me deram muita força. E vice-versa.

Se precisasse traduzir a adoção numa equação, a psicóloga diz que não abriria mão de dois fatores: paciência e sinceridade. Não entendo por que o assunto é um tabu. Depende dos pais afetivos se a criança vai encarar com naturalidade ou não aquela situação, diz. E Suzana reforça: O problema não é ser adotado. É ser enganado.

Segundo a presidente do Gead, negar à criança o direito de conhecer sua história é meio caminho andado para dores de cabeça futuras. É preciso falar abertamente sobre a adoção desde o princípio. E nem precisa procurar ensejos. Eles acontecem naturalmente, no meio da enxurrada de porquês da infância. Cabe aos pais responderem o que lhes foi perguntado. Com o tempo, a conversa evolui, conta Suzana, que lembra comovida da pergunta inusitada que um dia um de seus pequenos e astutos pacientes fez no consultório: Se não nasci da barriga da minha mãe, nasci de onde? De um ovo?

Quando fez um questionamento parecido à mãe pela primeira vez, o advogado e professor universitário Rômulo de Freitas, 31, não tinha nem tamanho, nem juízo. Mas lembra da cena nitidamente até hoje. O que minha mãe me disse naquele dia continua sendo, para mim, a melhor forma de traduzir nossa relação. Ela falou que eu era seu filho, sim. Mas do coração e não da barriga. Achei aquilo lindo. E só muito mais tarde voltei a falar no assunto, diz Rômulo, que afirma de cátedra: famílias que se formam pelo amor e não pela biologia não geram, necessariamente, pessoas doentes, revoltadas ou violentas. Pode acontecer em qualquer núcleo familiar.

Temporão e caçula mimado de quatro filhos, Rômulo diz ter muita gratidão pelas oportunidades que a vida lhe deu. E, em retribuição, garante ser o mais engajado dos irmãos. Sou o fiel da balança. Faço questão de reunir todos, conciliar os ânimos, congregar.

Maria Luiza Albuquerque, 18, também considera mais que legítimos seu desejo e merecimento de pertencer à família que a acolheu nos primeiros dias de vida. Para ela, amor é troca, respeito e gratidão. Não sangue. Chego a esquecer que sou adotada. Porque isso não importa, na verdade. A relação que tenho com meus pais é de verdade. Não interessa de onde ou de quem eu vim, diz a primogênita da professora Eneri Albuquerque, 56, e do advogado Paulo Albuquerque, 57, que dispensam rótulos na hora de curtir o enredo familiar que escolheram protagonizar.

Pais também de Luana Raquel, 13, eles garantem que todo e qualquer genitor dedicado é, na essência, alguém que escolheu suas crias. Quantos casos a gente não vê por aí de mães que deram à luz, mas nunca assumiram a maternagem de seus filhos de fato?, questiona Eneri, para quem toda relação de afeto e/ou dedicação começa numa adoção. A gente adota amigos, cônjuges, causas e por aí vai.

Sua vizinha de porta, Rosane Alencar, 44, também professora, abraçou essa causa e as trelosas gêmeas Marina e Louise há quatro anos. Meu caso foi completamente atípico. Tentei fazer inseminação, mas não deu certo. E foi muito traumatizante. Quando me refiz, parti para a adoção. E acabei descobrindo uma moça, em Paudalho, que estava na oitava gestação e não queria de jeito nenhum aumentar a família, nem fazer mal aos bebês que estavam por vir.

Rosane acompanhou o pré-natal, o parto, o puerpério. Cuidou das meninas e da mãe delas. Depois registrou a duplinha e começou a escrever outra história familiar para elas. Não foram elas que ganharam. Fui eu, diz a educadora, que, se duvidar, até os enjoos da gravidez sentiu, por tabela.

A funcionária pública Cláudia Viana, 40, é outra que jura de pé junto que engravidou. O que é uma gestação senão os preparativos para ter filhos?, argumenta a aguerrida mãe estreante, que também tentou inseminação artificial, mas acabou recorrendo à Justiça para realizar o sonho da maternidade. Esperou por alguns meses e foi contemplada com um casal de gêmeos, que deu o ar da graça na mesma semana em que a mãe de Cláudia morreu. Foi muito significativa para mim essa renovação da vida.

Há exatos 7 meses, Matheus, 3, e Isabela, 2, chegaram para fazer a alegria da casa. E também para ensinar muitas lições a ela e ao marido, o mecânico Gerson Benício, 47. Não vou dizer que é fácil. No começo, quando fomos visitar os meninos no abrigo, eles não aceitavam nossa presença. Choravam. Achavam ruim. Até que conseguimos conquistá-los, diz Cláudia, no meio do caminho que a enfermeira Rosimar Contente, 56, já percorreu três vezes.

Mãe de cinco filhos, entre biológicos e adotivos, ela garante que não cansa de recomeçar. O primeiro da lista foi José Henrique, 34, que colocaram na minha porta quando eu já tinha perdido oito bebês. Fiquei muito feliz. E também muito fértil. Depois dele, Rosimar engravidou de Jorge Adriano, 32, e, logo em seguida, de João Paulo, 31. Achou pouco e ainda adotou Ruthy, 25, e Sara, 8. Dou carão e carinho, limite e amor a todos, sem distinção. Se pudesse, adotaria outras crianças.

A psicóloga Lúcia Soares, 44, não quer muitos. Mas quer tanto manter os gêmeos Alan Vítor e Alana Vitória, 9, debaixo das asas que encarou a forma mais difícil de adoção: a tardia. Há dois anos, ela e o marido, João Batista, 44, foram surpreendidos por um carinho enorme, que não lhes deixou outra alternativa, senão acolher os meninos por quem se apaixonaram perdidamente. Sempre quisemos adotar. Mas esperávamos o momento certo. E para nos acostumarmos com a ideia aos poucos, decidimos fazer o chamado apadrinhamento afetivo. A gente visitava os meninos e podia até levá-los para passear. E de voltinha em voltinha, o amor aconteceu. Pior é que até que nos candidatássemos de fato à adoção, um outro casal se interessou pelos dois. Mas corremos tanto, lutamos tanto, que deu tudo certo. O universo conspirou a nosso favor, conta Lúcia, que adotou e foi adotada pelos gêmeos crescidos para quem a vida decidiu, enfim, abrir portas, janelas e corações.

29.2.12

Basta às idéias pré-concebidas!

 
 
- Carta encaminhada, à imprensa, pela Sra. Suzana Sofia Moeller Schettini, Presidente do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção no Recife
 
Prezados Senhores,
 
A associação entre adoção e delinquência lançada subliminarmente à sociedade nas entrelinhas das reportagens que se referem ao assassinato do
casal de Olinda, causa incômodo e tristeza  a muitos pais e filhos adotivos, pois reforça preconceitos já existentes no imaginário social.
A adoção é apenas um fato histórico na biografia do assassino, não é o que determina as suas ações. Entretanto, tem sido o primeiro quesito a ser relacionado ao seu perfil.
Filhos são filhos tão somente. Não importa se adotivos ou biológicos.
Na verdade, crianças se tornam filhos apenas se forem afetivamente adotadas pelos seus pais.
Aconteceram vários outros casos de tragédias humanas no passado, promovidas por filhos biológicos, e não se verificou nenhuma referência à sua origem biológica. Por que quando o criminoso é adotivo a questão de sua origem ganha tanta relevância?
No Brasil existem milhares de famílias adotivas felizes, cujos filhos foram muito desejados, são amados e criados com muito carinho e desvelo.
Há mais de 20 anos temos em curso o Movimento Nacional Pró Adoção, promovido por entidades chamadas Grupos de Estudo e Apoio à Adoção (os GAAs) - são mais de 100 distribuídos em todos os Estados brasileiros - que são afiliados à Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD).
O Movimento Nacional trabalha por uma nova cultura de adoção, livre de preconceitos e discriminações e pelo direito de toda a criança a ter uma família. Os esforços conjuntos convergem para uma mudança de paradigma na adoção: ao invés de procurarem-se crianças para famílias que não
podem tê-las, procurarem-se famílias para crianças que já existem.
Temos  cerca de 40.000 crianças institucionalizadas que precisam de uma família e não a conseguem por encontrarem-se fora do perfil desejado pela maioria dos pretendentes à adoção: não são bebês, nem brancos, nem meninas, nem saudáveis.
Como disse Einstein, "é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito".
A associação nociva entre adoção e delinquência, certamente deixará os seus efeitos nefastos na memória social. 
O fantasma do medo assombrará o imaginário dos pretendentes à adoção e os filhos adotivos, por muito tempo, serão apontados com desconfiança e temor! Entretanto, serão as crianças institucionalizadas que pagarão o ônus maior, pois este cenário apenas contribui para postergar mais e mais as suas oportunidades de nova inserção familiar.
Em nome de todos os pais e filhos adotivos brasileiros, pedimos encarecidamente a sua consideração a respeito do exposto.
Antecipadamente agradecemos.
Atenciosamente,
Suzana Sofia Moeller Schettini
Presidente do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção no Recife
Mãe adotiva

25.5.11

Dia Nacional da Adoção




Hoje, 25 de maio, é dia Nacional da Adoção.

Ok, vc gosta da idéia, simpatiza com a causa, pensa em adotar, mas sabe de verdade o que é adotar?

Encontrei este texto na net, é de fácil leitura e tem bastante informações.

No dia 25 de maio é comemorado o dia da adoção, criado em 1996 no I Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção.
A adoção é uma realidade social que se concretiza através de ato jurídico, que “cria entre duas pessoas vínculo de parentesco semelhante à paternidade e filiação”.
Muitas pessoas que não puderam ter filhos encontram filhos que não possuem pais, que foram abandonados e recolhidos por orfanatos e outras instituições. Mas existem outros casos, como de pessoas que querem ajudar, cumprir seu papel social diante de uma sociedade injusta, que não oferece as mesmas oportunidades de vida para todos.
O processo de adoção não é fácil. As pessoas interessadas nas crianças ou adolescentes devem apresentar uma documentação sobre suas condições de vida, para garantir que a pessoa adotada terá conforto e segurança, que irá ser bem tratada e receberá dos pais adotivos amor, carinho e atenção.
Porém, existem vários mitos sobre a adoção, que muitas vezes prejudicam que pessoas se interessem em criar e educar uma criança ou jovem que não tenha laços consanguíneos.
- Dizer que toda criança adotada é problema é um erro. A criança aprende aquilo que vivencia e quanto mais nova for adotada, mais terá chances de se adaptar ao modelo familiar em que vive.
- Tentar esconder da criança que a mesma é adotada também é um erro, pois é melhor manter uma relação aberta e livre de qualquer tipo de preconceito.
- Crianças com cor de pele diferente da família não são discriminadas ou recebem tratamento diferente de outras pessoas da família. Isso pode ocorrer nos meios sociais em que a família frequenta.
- Filhos adotivos não têm dificuldade em amar seus pais (adotivos), pelo contrário, revelam-se atenciosos e carinhosos com os mesmos, mas isso depende da forma como são tratados.
- Os filhos adotivos não ficam lembrando-se de sua família de origem. Pelo contrário do que se imagina, se as relações familiares não eram boas, se houve abandono, o vínculo afetivo não foi construído de forma positiva, portanto não provoca boas lembranças.
Hoje em dia temos visto uma série de artistas famosos mantendo a atitude de adotar crianças, tentando cumprir seu papel social, numa demonstração de afeto e de entrega às crianças carentes. A grande revelação é o casal Brad Pitt e Angelina Jolie que já está no terceiro filho adotivo, mesmo podendo ter seus filhos consanguíneos, que também somam três. A cantora Madonna também é um exemplo disso, nos últimos anos também manteve a atitude de adotar, mesmo tendo tido dois filhos próprios.
Com a constituição de 1988, ficou determinado que “os filhos adotivos terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designação de discriminação relativa à filiação”, ou seja, filhos adotivos e consanguíneos terão os mesmos direitos.
Para inserir a criança ou adolescente em família substituta é necessário passar por algumas etapas: a guarda, onde coloca-se o sujeito a ser adotado na família, onde os pais devem ter a responsabilidade de prestar assistência material, moral e educacional; a tutela, feita através das entidades públicas, a fim de proteger a criança ou jovem, cuidando de seus interesses, acompanhando todos os atos da família com o mesmo e vice-versa; a adoção, formalizada em ato jurídico, onde forma-se um vínculo fictício de filiação, que mais tarde deverá tornar-se verdadeiro.
Num pequeno trecho do livro “Você não está só”, de George Dolan, o amor que nasce entre a família e o adotado fica bem caracterizado, na fala de crianças que conversam sobre adoção, após terem visto numa fotografia, um menino com os cabelos de cor diferente. Uma delas diz que a criança diferente pode ter sido adotada e, quando questionada por outra sobre o que é isso, responde: “- quer dizer que você cresce no coração da mãe, em vez de crescer na barriga.”
Assim, podemos dizer que a adoção é um ato de entrega e de amor!
Por Jussara de Barros
Graduada em Pedagogia
Equipe Brasil Escola

Quer saber mais?
Pergunte o que gostaria de saber, se a gente souber, responde!!!

13.4.11

Bullying Social? Texto de Paulo Wanzeller - GAA Renascer - Belém do Pará

Há que se ter coerência na vida!
Uma das coisas mais difíceis é a construção de um novo conceito, seja social ou científico no sentido essencialmente pedagógico.
Modificar conceitos; criar novos padrões de comportamento; educar as pessoas dá trabalho, são lutas, movimentos sociais, batalhas silenciosas, até mesmo uma revolução ou tragédia pode modificar um conceito ou uma postura.
Os fenômenos sociais estão aí mesmo para provar isso, hoje percebemos que o que antes era apenas “tirar onda” “apelidar”, “xingar dando risada” ou mesmo um “zoar com o outro”, hoje, chamamos de bullying; um novo conceito se formou e veio à tona que humilhar o outro é uma forma cruel de agressão que precisa ser estudada, precisa ser esclarecida a ponto de ser realmente percebida ao menor sinal e precisa, principalmente, ser coibida.
Mas o que é efetivamente o bullying? Precisa ter ou atingir efetivamente pessoa certa e determinada?
Precisa ser concretizada a certa pessoa? ou a indução psicológica também é bullying?
E as ofensas indiretas, aquelas ditas de “soslaio” também se enquadram neste conceito?
Ressaltar esta ou aquela característica de uma pessoa de forma negativa generalizando a peculiaridade é bullying? É aí que está a sutileza do bullying indireto.
O Brasil perplexo desde ontem, um desequilibrado psicológica e emocionalmente, digno de misericórdia, é autor de uma das mais terríveis tragédias que o Brasil já teve notícia. E, ele, o autor, imaginem, não foi criado pela mãe biológica, diz a imprensa sensacionalista, ele era FILHO ADOTIVO! Ele FOI ADOTADO quando ainda era um bebê!
Quando é para falar de bullying, de humilhações entre adolescentes a imprensa vibra, rodas de jornalistas, assistentes sociais, psicólogos, pedagogos são formados para discutir sobre o episódio, até aí está tudo certo.
O que não se percebe e nem se dá conta é que generalizar, ressaltar a adoção de forma negativa, seja na imprensa, seja na mídia em geral, também é bullying, e pior, é uma forma de disseminar uma espécie de bullying social que sutilmente atinge muitas pessoas de forma generalizada, mas com a mesma crueldade que as situações concretamente postas nos exemplos atuais do bullying.
É incoerente a imprensa dizer que a sociedade brasileira nunca foi tão aberta à adoção; que crescem os números de pais no Cadastro Nacional de Adoção diariamente, reportagens sobre os “abrigos”, crianças à espera de pais, preconceitos de adotantes quanto às características do futuro filho, tudo se fala buscando divinizar a adoção, chego a ver as lágrimas nos olhos de repórteres quando falam de adoção, mas, se um filho por adoção, comete uma barbaridade; pronto! O que a imprensa diz? ELE É ADOTADO, demoniza-se o instituto, sem se importar que, milhares de brasileiros são filhos por adoção e que durante muito tempo serão olhados como “portadores de genes” iguais aos do algoz de Realengo.
Precisamos nos manifestar, precisamos mostrar que os filhos adotados são milhares e que não estão no abismo do desequilíbrio psicológico motivados pelo processo de filiação, se abrirmos os jornais hoje, amanhã ou depois de amanhã, constataremos que crimes bárbaros não são peculiares da filiação adotiva, e que ser filho adotivo não é a força propulsora da indignidade, do desequilíbrio psicológico.

Paulo Wanzeller

21.10.10

Adoção: caminho entre família pretendente e criança pode ser encurtado

Já está disponível para membros do Ministério Público em todo o Brasil o acesso ampliado ao Cadastro Nacional de Adoção (CNA), mantido pelo Conselho Nacional de Justiça. A medida permite que Promotores e Procuradores de Justiça da área da infância façam o cruzamento dos dados disponíveis no banco, comparando informações sobre as pessoas habilitadas para adoção com os perfis das crianças e adolescentes na fila de espera por uma família substituta em todo o país.

O acesso ampliado era exclusivo para juízes e foi estendido aos membros do MP depois de negociação conduzida pela Comissão de Infância e Juventude do CNMP. O objetivo é democratizar o acesso à informação no sistema de Justiça e, com isso, dar os membros do MP mais subsídios para uma atuação cada vez mais efetiva na área, explica a conselheira Sandra Lia, presidente da Comissão. "Esta mudança dará mais agilidade ao processo de adoção porque, a partir de agora, será possível fazer uma varredura na lista de pretendentes e de crianças e adolescentes em todos os estados", diz o coordenador do Centro de Apoio às Promotorias de Justiça da Infância e Juventude do MPRN, Sasha Alves.
Através do cadastro nacional, o Promotor de Justiça poderá fazer a busca por perfil da criança, incluindo idade, raça, se tem irmãos, estado de saúde, local de origem. E ainda é possível fazer a busca por perfil geral, sem restrições.

No Rio Grande do Norte, Ministério Público e Poder Judiciário estão fazendo uma capacitação de juízes e Promotores de Justiça sobre a importância do cumprimento da lei que determina a adoção através do cadastro nacional. O objetivo é combater a prática cultural da entrega direta da criança a uma família que não tenha esteja incluída no cadastro. Só pessoas que já fizeram o curso sobre adoção, ministrado pelo judiciário, podem estar no cadastro. São cidadãos individuais ou famílias que passam por treinamento para compreender o que é a adoção, a importância deste processo na vida de uma criança e do próprio adotante. O próximo treinamento de magistrados e membros do MP será em Natal, dia 4 de novembro e em Mossoró, dia 11 de novembro.

Este curso é necessário porque mesmo no judiciário e no MP ainda há o conceito de que é da mãe o direito de escolher a quem entregar o filho para adoção. O problema é que esta informalidade pode esconder uma mãe que está abrindo mão do filho por problemas financeiros, porque foi abandonada pelo companheiro, porque é adolescente e não necessariamente porque não quer criar o filho. E estes motivos, podem fazer esta mulher querer desistir de entregar o bebê, casos estes problemas sejam resolvidos. "Por isso, é importante que a decisão da mãe de não ficar com o filho seja acompanhada pelo judiciário e pelo Ministério Público", explica Sasha Alves.

Autor: Assessoria de Imprensa do MPRN
Extraído de: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte - 21 horas atrás

17.10.10



Expectativas irreais podem se transformar em depressão pós-adoção.

“As pessoas normalmente sabem o que é a depressão pós-parto, mas o bem-estar emocional de pais adotivos quando se deparam com uma criança no seu dia a dia é pouco conhecido”, explica Karen Foli, pesquisadora da Universidade de Purdue, EUA. “Em nosso estudo, a grande maioria dos pais adotivos disse ter passado por um período de depressão após a criança a qual adotaram ter começado a viver com eles. Isso se deve a expectativas em excesso e à pressão sentida por parte dos amigos, da família, da sociedade e mesmo da criança.”
“Os amigos e a família, por exemplo, não parecem oferecer o mesmo apoio emocional que pais com filhos biológicos recebem. Além disso, os laços afetivos com a criança adotada precisam ser construídos antecipadamente, o que nem sempre acontece”, diz Foli.
Os sintomas desse tipo de depressão incluem humor mais negativo, perda de interesse por atividades que antes davam prazer, variação no peso, dificuldades de dormir ou sono em excesso, sensação de agitação, fadiga, culpa excessiva e indecisão.
“A depressão pós-adoção não afeta somente os pais adotivos, mas as crianças envolvidas no processo também”, diz a pesquisadora, que acompanhou mais de 20 casais de pais adotivos, além de especialistas e profissionais. O estudo foi publicado no periódico Western Journal of Nursing Research.

Ênfase no processo de adoção e não no novo papel dentro da família

“Os pais adotivos passam boa parte do tempo anterior à adoção tentando comprovar que eles não serão somente bons pais, mas ‘superpais’, pois o processo de adoção pede que eles sejam mais do que interessados. Profissionais, família e amigos os fazem questionar o processo o tempo todo e essa reação é normal”, diz Foli. “Mas é possível que os sentimentos de legitimação como pais ou mesmo não conseguir criar laços afetivos com as crianças podem fazer todo esse esforço ruir repentinamente.”
Outros fatores que contribuem para a depressão pós-adoção podem incluir as expectativas de que as crianças criem laços afetivos intensos e imediatos – aceitarem os pais adotivos incondicionalmente nas primeiras semanas –, falta de exemplos de casais na mesma situação e mesmo a resposta da sociedade à nova família formada por pais e crianças adotivas.
Além disso, o processo de adoção pode ser longo e cansativo, podendo comprometer o bem-estar e a saúde mental dos pais de outras formas, levando ao estresse, por exemplo. “Muitas vezes o processo de adoção é mais presente na vida dos casais do que a preparação para se tornarem pais de um filho não biológico.”
Os profissionais que participaram da pesquisa também indicaram que os pais têm grande temor de demonstrar seus anseios e preocupações, pois isso, de alguma forma, os envergonha e traz o sentimento de terem falhado. Além disso, o sentimento de culpa por não conseguirem fazer a criança se sentir confortável pode ser desastroso para a situação.
“É preciso que os profissionais envolvidos no processo de adoção tenham em mente esse tipo de situação. Detectar os primeiros sinais de depressão ou saber como está o bem-estar mental dos pais pode levar a famílias mais saudáveis e felizes. E os pais precisam ser alertados de que pedir ajuda em uma situação como essa pode ser melhor para seus filhos e para o futuro da família”, diz a pesquisadora.

com informações da Purdue University

Texto copiado de "O que eu tenho"

2.11.07

Devolução da Criança

Amei este texto, da autoria da Dani, um membro do Orkut. O tópico da discussão é sobre uma moça de 24 anos, que hoje grávida de seu primeiro filho, considera a possibilidade de devolução de uma adolescente que ela adotou. Adaptei um pouco, mas acho que temos muito o que meditar sobre o que ela pondera.

Esse tipo de coisa acontece por que os adotantes não estão claros emocionalmente em sua motivação para adotar.
Idealizam demais a adoção como se fosse algo mágico. Ter filhos não é algo mágico, é uma realidade diária cheia de alegrias, tristezas e frustrações também, Seja ele filho bio ou adotado, é um ser humano totalmente independente com uma forma de ver o mundo única(ainda que grande parte dessa percepção leve a influencia dos cuidadores diretos).
Saber lidar com essas "frustrações" que ocorrem é que mora a diferença e a sanidade interna de uma pessoa, e sua maturidade emocional para saber fazer dessa "frustração" uma manivela forte para mudar a situação de maneira acertiva.
Creio que o que acontece com essa senhora não é diferente de muitos outros casos parecidos que vemos diariamente(infelizmente); pessoas com motivações internas "indefinidas" para adoção.
Qdo o assunto vira uma realidade percebem q não tinham idéia do que realmente é ter filhos; Não tinham idéia de muitos aspectos. Inclusive de suas próprias limitações para muitas coisas.
A adoção tardia não é para qq um. Adoção tardia é para quem realmente esta maduro para lidar com outro ser humano totalmente estranho,com uma super mochila de vida nas costas a ser compreendida, relevada e redireccionada. Quem opta por esse tipo de adoção deve ter um autoconhecimento grande, ter a sabedoria interna de ajudar-lo a integra-se a sua nova realidade pouco a pouco.
A adoção tardia é uma adoção especial cheia de outras possibilidades de situações que podem ou não dar-se, e ignorar essas possibilidades não é nada legal.
Mas creio que a situação vai muito mais longe, do que não estar "preparado" para essas possibilidades, creio que o problema esta realmente em saber internamente o que quer, o que pode ter, o que é possível que tenha, o que é adoção, qual a motivação verdadeira para dar-se essa adoção, e o mais importante na minha opinião "O momento de ter filhos" ainda q sejam biológicos em um momento pouco pensado, pouco planejado, pouco considerado em sua totalidade, traz consigo um "peso", ou seja, não estar minimamente preparado pode fazer essa maternidade algo difícil de lidar no dia a dia. Principalmente na hora que a criança vai crescendo e se demonstrando uma pessoa independente com seus próprios desejos, acertos e erros.
Talvez p essa senhora, o estar grávida nesse momento, represente a realização de uma sonho, e agora a menina "sobra" na concepção inconsciente, ou ate mesmo consciente, de uma pessoa que não "acolheu" com o coração a essa menina.
Situação difícil e dolorida, difícil de ajudar, mas creio que acudir uma terapia em família, e individualmente poderia ajudar sim.
Acredito fielmente que a mãe deve fazer uma terapia individual urgente, pois ela é quem não sabe lidar com o assunto, e as muitas emoções que estão surgindo com essa gravidez. Ela esta despejando na menina um peso enorme, e muito injusto.
A transformação hormonal que esta passando não justifica nada, pois apenas acentua o que já existia previamente em emoção.
Infelizmente casos assim ocorre mais vezes do que podemos imaginar, e o fim é quase sempre o mesmo, a devolução da criança.
Mais uma vivencia para que ela ponha dentro de sua pequena mochila da vida, de maneira internamente devastadora.

Amei! A primeira vista pode parecer que ela é contra... mas não é. Adoção tardia é maravilhosa, e todos só tem a ganhar com ela. O que precisa ficar bem claro, para que se evite situações muito tristes, é que esta criança tem um passado e isto precisa ser aceito. o ato de adoção não apaga automaticamente tudo o que ela viveu! Mas o carinho e o amor no dia a dia podem sim, transformar uma vida!

23.8.07

A Adoção de Filhos

A Bíblia diz em Gálatas 3.23-4.7 que adoção é o meio através do qual os convertidos entram para a família de Deus. Em outra passagem, Romanos 8.15, vemos que recebemos o direito de chamarmos a Deus de "Papai" (Aba Pai).
Em Efésios 1.5 lemos que Deus nos predestinou para Ele através da adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, "segundo o beneplácito de sua vontade". Deus, ao nos colocar em sua família, está revelando uma graça infinitamente maior do que a de um casal ao abrir seu lar e trazer para ali uma criança que não nasceu deles.
O significado da nossa adoção na família de Deus é profundo demais, porém, na maioria das vezes não nos damos conta disso.
Ao sermos adotados por Deus passamos a ser irmãos e irmãs de Jesus Cristo, com um lugar garantido eternamente na família celestial!
1. UMA EXPERIÊNCIA PESSOAL
Quase 32 anos já se passaram desde aquela tarde de junho quando voltamos da cidade de Londrina, no Estado do Paraná, com nossa filha Melinda em nossos braços. Lembro-me daquela experiência, nitidamente, como se fosse ontem! Ela contava dois meses de vida e em 24 horas tornou-se nossa filha! Que alegria aquela pequena paranaense trouxe à nossa casa! Hoje, Melinda está com 32 anos, formada, casada e já nos presenteou com um netinho, James Paul, que é a cara do vovô, lindo de morrer! Melinda ainda era pequena, quando Deus nos presenteou com nossa segunda filha, Márcia, uma linda paulistinha! Ela tinha sete meses e veio somar sua alegria, entusiasmo e, é claro, também trabalho à nossas vidas.
E os anos foram passando...
Melinda e Márcia já tinham feito 20 anos, estudavam nos Estados Unidos e nosso ninho estava vazio. Nessa época, meio de surpresa, Deus trouxe Annie para nossas vidas. Sabemos que há o momento certo para todas as coisas e essa terceira adoção foi uma verdadeira prova disso. Muitos anos antes, quando Annie tinha 3 anos de idade, já havíamos tentado adotá-la. Naquela época, após quase um ano de trabalho burocrático, com mais e mais papéis, o juiz não permitiu que a adotássemos. Tivemos, então, com dor no coração, de interromper o processo de adoção. Porém, no tempo de Deus, quando Annie já estava com 15 anos de idade, as portas se abriram milagrosamente e essa gauchinha veio trazer mais alegria e gratidão às nossas vidas. Hoje, Annie já se formou em Pedagogia, casou-se e está a caminho de nos presentear com mais um netinho (quando esse artigo for publicado, pode ser que eu já seja novamente vovô!). Já nos perguntaram que, se tivéssemos a oportunidade de voltar atrás no tempo e viver novamente, se incluiríamos a adoção em nossas vidas. A resposta foi um tremendo SIM, SEM DÚVIDA ALGUMA!
Tivemos tantas alegrias com nossas filhas, experiências preciosíssimas, que até hoje enriquecem nossas vidas, as quais não trocaríamos por nada neste mundo!
Não é preciso muito pata perceber que sou um grande defensor e propagador da adoção, não é? Sei de pessoas que possuem dúvidas e restrições sobre isso e não quero me fazer de surdo às experiências dolorosas que, muito possivelmente possam ter tido. Gostaria, porém, de compartilhar minhas idéias a esse respeito: a teoria e a prática.

2. INCENTIVO À ADOÇÃO
façamos de conta que estamos em uma varanda, sentados em confortáveis cadeiras e você pergunta minha opinião sobre adoção. Veja o que penso a respeito:

2.1 Princípio Bíblico
Primeiramente gostaria de dizer que a adoção é um precioso princípio bíblico. Somos filhos e filhas adotivos de Deus (predestinados para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo... Efésios 1.5). Como a adoção foi iniciada por Deus, quando a praticamos estamos não somente seguindo seu exemplo, mas também nos identificando com Ele.

2.2 Falando a Verdade Sei que existe um estigma pelo fato de uma pessoa ser filho(a) adotivo. Gostaria, no entanto, de reforçar que não há nenhuma vergonha nisso! Muito pelo contrário... Há pessoas que evitam a adoção pelo fato de um dia terem de contar ao filho que ele é adotivo. Não quero ser simplista, mas devemos orar, pedir a Deus oportunidades adequadas e contar que só não somos seus pais biológicos. Deus não teve vergonha de nos comunicar que somos seus filhos adotivos e Ele, certamente guiará nossa comunicação sobre isso. À medida que nossas filhas cresciam, e de acordo com a capacidade de compreensão de cada uma fomos explicando tudo a elas. Não escondemos absolutamente nada. Comunicamo-lhes nosso profundo desejo de termos filhos, a busca incessante da orientação de Deus e, finalmente, tosa a história de como chegaram até nós. Paralela à explicação da adoção, dissemos que também éramos filhos adotivos e herdeiros de Deus. Quando atingiram uma idade em que percebemos um maior amadurecimento nelas, as levamos para conhecer as cidades em que haviam nascido. A idade pode veriar, de acordo com a compreensão de cada criança. Os pais devem, no entanto, tomar cuidado para não usar isso como desculpa e adiar demais.
Minha esposa, Judith, teve uma experiência muito interessante, depois de já havermos contado a Márcia que a havíamos adotado:
"Márcia veio para mim com a pergunta:
- Mamães, eu sou órfã?
- Órfã... claro que não! Nos adotamos você!
- Quanto vocês pagaram por mim?
- Ora, meu benzinho, nós não compramos você!"
Os grandes olhos castanhos se tornaram maiores ainda, um bico se formou e ela, então, perguntou:
"- Então quer dizer que eu sou só alugada!!?"
Ela entendia o suficiente para saber que se a gente não compra uma casa, aluga. E a vantagem do aluguel é que sempre se pode trocar por uma casa melhor!
A angústia de seu coraçãozinho só foi aplacada com mais explicações sobre adoção e consecutivos beijos e abraços.

2.3 Não tenha medo das possíveis influências hereditárias de seus filhos
Muitas pessoas já me disseram que têm medo de adotar uma criança que tenha vindo de lares com pais alcoólatras, macumbeiros ou viciados. Dá para entender esse medo, mas isso não justifica. Precisamos lembrar que Deus é soberano em nossas vidas. Quando Márcia chegou à nossa família ela estava tão desnutrida, tão fraquinha, que não conseguia manter a cabecinha reta e não tinha forças nem para chorar! Os médicos do hospital onde a levamos tentaram nos desestimular de continuarmos o processo de adoção, e nos aconselharam a não nos apegarmos demais a ela pois provavelmente a perderíamos. havia, inclusive, suspeita de que ela tivesse alguma deficiência mental. Passamos por momentos de intensa luta interna sobre o que deveríamos fazer. Buscamos a vontade do Senhor, clamamos por sua orientação e finalmente sentimos a paz de Deus em nossos corações e que deveríamos ir em frente. Deus nos honrou e, com o passar do tempo ela evidenciou uma inteligência e perspicácia em níveis altíssimos!
Como cristãos é de nossa responsabilidade cuidar das viúvas e dos órfãos (Tiago 1.27). Existem muitas maneiras de fazermos isso e adoção, sem dúvida alguma, é uma delas!

CONCLUSÃO
Se Deus estiver dirigindo seu coração e sua mente à adoção, não fuja. Dê os passos necessários para que isso se concretize. Vá, porém, consciente de que há preços a serem pagos, entre eles, a longa burocracia para que uma adoção se concretize. As leis dessa área também podem ser alteradas, causando muitas vezes receio nas pessoas envolvidas. Tudo isso faz parte do processo. Devemos, no entanto, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance e, acima de tudo, manter bem viva em nossos corações a certeza da soberania e do controle de Deus em nossas vidas.
Somos uma família feliz e normal. Passamos juntos alegrias e sofrimentos, buscando sempre a orientação de Deus.
Hoje, nossas filhas - Melinda, Márcia e Annie - estão respectivamente com 32, 30 e 25 anos de idade. Elas foram dadas a nós por Deus, só que nascidas de outros pais. Elas são nossa família, nosso tesouro e Judith e eu, não podemos sequer imaginar nossas vidas sem elas!

Leitura Diária:

Texto Básico
: Romanos 8.15

Segunda
: A família de Deus = Efésios 2
Terça: A família da mulher estéril = Salmo 113
Quarta: Adotados em Cristo = Gálatas 3.23-4.7
Quinta: Adoção abençoada = Êxodo 2.1-10
Sexta: A família cristã = Romanos 16.1-16
Sábado: Filhos e herdeiros = Romanos 8.12-17
Domingo: Um coro de aleluias = Salmo 148

Minha sugestão
pessoal = Salmo 37.4
(Adaptado da revista "Lar Cristão", edição 53)

22.7.07

ADOTE SEU FILHO


Hoje à tarde me deparei com a revista Pais e Filhos deste mês e me encantei com a capa. A manchete principal dizia: “Adote seu filho. O laço de amor que une pais e filhos, biológicos ou não, é construído no dia-a-dia”. Eu sempre pensei assim: FILHO, amado e reconhecido como tal, precisa ser adotado por seu pai e sua mãe, sejam estes biológicos ou não, ou a maternagem/paternagem não se efetiva. Quem não conhece mães biológicas que não adotaram seus filhos e hoje os arrasta pela vida como fardos ou simplesmente os largam por aí? Não tenho dúvidas que o que faz de uma mulher mãe é a construção de amor do dia a dia que ela estabelece com seu filho. Por isso, quando minha filha biológica chora querendo apenas o meu colo, sei que se após seu nascimento a tivessem entregue a outra mulher que a amasse com o amor de mãe que eu a amo, hoje seriam seus braços que ela pediria chorando. E isso não me diminui, pelo contrário, engrandece, pois mostra que minha filha me ama porque eu a conquistei no nosso dia-a-dia, e não por uma imposição da natureza. Bem, recomendo a leitura, e deixo aqui os trechos que mais gostei.


“A gente precisa adotar até mesmo aquele bebê que carregamos na barriga por nove meses”


“Acreditamos que, independentemente da forma com que a criança se torna parte da família, todo pai e toda mãe passam por um processo de aceitação e reconhecimento do filho. E a criança não é parte passiva da história, não. A maneira como ela se comporta contribui para fazer daquela mulher sua mãe e daquele homem seu pai. Uma relação de mão dupla. Mas que cabe a nós, adultos, entender e pilotar”


“Mas, óbvio, a fantasia não é como a realidade. E a criança imaginada nunca é exatamente igual à esperada pela família. O problema é que ela pode ser muito mais legal e a gente não estar vendo. Aí é que mora o problema: descobrir a beleza do diferente. Amar é isso. Entender que o filho é outra pessoa e não uma continuação simplificada e idealizada dos pais”


“‘Algumas pessoas ainda estão presas aos fatores genéticos. Mas não se pode colocar na conta da adoção dificuldades comuns a todas as crianças. Tanto filhos biológicos quanto adotivos são, inicialmente, estranhos para os pais. Só a convivência e a observação levarão ao conhecimento do outro’, afirma Luiz Schettini”

Texto escrito por Mirtes Cavalcante em 16.julho

25.5.07

Dia Nacional da Adoção: é só o começo da luta!

Dia Nacional da Adoção, ECA, leis de licença-maternidade para adotantes, tantas pessoas conversando sobre o assunto na internet, às vezes chegamos a acreditar numa evolução significativa da humanidade, mas logo percebemos que ainda estamos apenas levantando o pé em direção ao primeiro degrau da escalada.
Hoje, data tão especial, ouvi de uma colega de trabalho os mesmos preconceitos e falta de informação a que as famílias adotivas estão habituadas: "Eu posso ter dó, posso até ajudar um pouco, mas levar para a minha casa? Nem pensar! Você é louca!". Tudo dito com risos de deboche.
Como nos diz Lidia Weber, "o preconceito em relação à adoção ainda é forte. Existe dificuldade de encarar a adoção como uma outra maneira 'verdadeira' de constituir ou aumentar uma família e isso traz problemas para as famílias que decidem por este procedimento. (...) Além da questão de o filho adotivo não ter o mesmo sangue, existe a presença de uma questão social importante, mas pouco evidenciada: geralmente a criança adotada vem de níveis mais baixos na hierarquia social, e sabe-se que, especialmente no Brasil onde existem elevadores e partes especiais para empregados domésticos, o nível sócio-econômico é bastante discriminatório."
As famílias adotivas são parte dessa sociedade, por isso não estão livres dos mesmos preconceitos, ainda que tenham optado pela adoção. Quando falamos nas adoções necessárias (tardia, inter-racial, moral) parece que estamos ofendendo muitos pretendentes à adoção. A maioria se limita a dizer que "adoção não é caridade". Para mim, essa frase se tornou banal e vazia!
Os futuros pais falam em seus direitos, seus sonhos, "querem um bebê parecido com sua família, 'porque existe muito preconceito dos outros', e que 'possa ser cuidado desde pequenininho para poder sentir tudo o que tenho direito, até noites sem dormir.'" (LW) E o direito da criança? Basta dizer que adoção não é caridade?
"Aconselho (a adoção) porque o casamento não pode ser um egoísmo a dois e o casal deve escolher o tipo de criança." E essa frase não é egoísta?
Do outro lado, ouvimos: "Eu queria ter pais adotivos que gostassem de mim e dos meus irmãos e que nós fôssemos felizes até crescer. - menino de 12 anos".
O dia de hoje deve servir para encararmos a realidade, refletirmos e nos prepararmos para a árdua luta que ainda teremos de travar contra nossos próprios preconceitos e imperfeições.

23.5.07

dando uma mão ao destino

Normalmente, quando damos entrada no processo no Fórum, somos encaminhados para grupos de apoio. Nestes acontecem conversas, trocas de opinião.... vc fica sabendo que aquele bebê lindo e loiro não virá tão fácil... cede aos conselhos dos coordenadores e técnicos e muda seu perfil para uma criança maior. E acredite quem quiser, mesmo com os abrigos cheios, continua de quarto vazio na sua casa! Como pode?
Porque estas crianças estão lá se existem tantos pretendentes a elas?
Este meus amigos, o X da questão. Muitas vezes, uma vez recolhidas ao abrigo, seja por abandono, seja por maus tratos, estas crianças se tornam invisíveis ao Judiciário. Afinal, tem teto, comida, educação... deixam de ser prioridade e os dias vão passando.
Bom, todos sabem que apenas podem ser adotadas crianças que já foram destituídas. E estas crianças não são destituídas, então não podem ser adotadas. O pequeno problema é que muitas vezes não foram destituídas pq foram esquecidas, relegadas a 2o plano. Basta um pequeno empurrão e tudo está resolvido.
E o que podemos fazer nós, que queremos estas crianças? Ir a luta! Em primeiro lugar, conversar com a AS. Ela sabe se existem crianças em situação de abandono (sem visitas) . Se a AS da sua comarca não te der bola, paciência, mas não desista. Tente a da comarca vizinha.
Tenha em mente que não é correto ir a abrigos para escolher um filho. Porém, muitas vezes uma vizinha voluntária sabe de alguma criança. Ou a diretora de um abrigo. Ou uma professora. O importante é ficar alerta.
Conversou com a AS e não deu em nada? Ou teve sucesso? Veja quando o Promotor da sua cidade atende ao Público. È dele a iniciativa de provocar a destituição. Às vezes ele nada fez pq sequer sabe que aquela criança existe.
Muitas vezes, porém, eu ouvi o seguinte comentário como justificativa para fazer nada: é verdade que mesmo eu fazendo tudo isso pode ser que esta criança não venha para mim? É. Muitos juizes entendem que quando da destituição, a lista tenha de ser consultada. A boa notícia porém é que a grande, imensa, esmagadora maioria procura a menina branca RN. Não estão interessados na princesa de quatro anos que tem um irmão. Ou na menina de um ano que tem um irmão de dois.
E de qq maneira, acredite que cutucando o juiz, vc vai ganhar muitos pontos no céu! Afinal, pode ser que essa criança linda não vá para sua casa. Mas com certeza ela vai ganhar o que ela mais quer: uma família!

18.5.07

Comentando sobre a revelação

Estou terminando de ler o livro Pais e filhos por adoção no Brasil da Lidia Weber e há uns trechos bem interessantes sobre a revelação. Achei melhor abrir um novo post em vez de comentar no texto da Cláu, assim todos podem ler mais facilmente.

"Os depoimentos de filhos adotivos mostram que a 'revelação' tem compreensão diferente em diferentes estágios do seu desenvolvimentoo, e portanto, A HISTÓRIA DA ADOÇÃO DEVE SER CONTADA EM DIVERSOS MOMENTOS, EM DIFERENTES IDADES DA CRIANÇA, mas quanto mais cedo isso ocorrer, mais facilmente será incorporado como uma situação 'natural' e não um tipo de transgressão à ordem (biológica e cultural) vigente. Um depoimento de uma mãe adotiva, feito em um congresso da área, revelou essa falta de conhecimento da adoção e processo de desenvolvimento de uma criança: ' Eu não sei o que fazer com a minha filha. Hoje ela tem 15 anos e está muito revoltada porque é adotada. Eu contei para ela, quando ela tinha 5 anos, mas ela esqueceu!'"

"Para Neuburger, é injusto e inexato dizer para uma criança que ela É uma criança 'adotada', pois isso qualifica uma natureza particular de ligações que a obrigará a uma eterna obrigação de justificar o seu comportamento por uma conduta diferente, pois não é uma criança como as outras. Toda criança, qualquer que seja o modo de procriação, entra em uma família por um ato civil. Em vez de rotular a criança com uma criança adotada, é lícito e legítimo ensinar-lhe que ELA ENTROU NESSA FAMÍLIA POR ADOÇÃO, família esta que, por vezes, foi constituída com a sua chegada. Neste sentido, a contingência que permitiu sua entrada na família foi a adoção, mas agora essa criança é tão filha (o) dos seus pais adotivos quanto as crianças que entraram em uma família através da procriação."

"Não apenas o revelar, mas O QUÊ FALAR PARA O FILHO SOBRE A ADOÇÃO TAMBÉM É EXTREMAMENTE IMPORTANTE. Melina afirma que não se deve falar que a 'criança foi escolhida'. Isso pode levar a criança a pensar que se ela foi escolhida, um enorme contingente de outras crianças foi deixado de lado, e essa é uma imagem impossível de conviver, pois leva ao pensamento de que se ele foi escolhido é porque ele é perfeito e ele não seria escolhido se tivesse mostrado alguma imperfeição. Na verdade, parece que é preciso aproximar-se o máximo possível da situação real e da motivação para a adoção e afirmar que não somente a criança estava em uma situação difícil: os pais também estavam porque queriam muito um filho que não conseguiam ter. Esse ponto de vista, especial para pais adotivos inférteis, faz com que eles não fiquem sempre com a imagem de salvadores da criança e os filhos, com a gratidão eterna..."

16.5.07

Quando falar sobre adoção

Como, quando e porque você deve falar com seu filho sobre suas origens
"A criança pode suportar todas as verdades"F. Dolto

Uma atitude muito importante para se preservar a saúde mental de uma criança é a de dizer claramente se ela foi adotada ou não. Dados clínicos nos mostram que a "mentira" dentro do contexto familiar, principalmente quando esta encontra-se atuando sobre a negação das origens de uma criança, atua como um fator que leva a situações patológicas.
A criança adotada se desenvolveu no útero de sua mãe biológica, na maioria das vezes em condições impróprias e sentindo-se rejeitada (sabe-se que o feto capta os estados emocionais da mãe e reage a eles). Os pais adotivos não podem negar esta "pré-história" do bebê, até porque ele mesmo viveu isso. É claro que tais informações nunca chegarão a mente em forma de lembrança, mas isso não quer dizer que elas não estejam armazenadas em algum lugar deste indivíduo.
O fato da "pré-história" do bebê ter sido "difícil" não significa que por isso ele será uma criança mais infeliz ou pior do que outra. A criança só terá prejuízos se a sua história gestacional não puder ser integrada a sua história pessoal.

Por que não se deve mentir?

Porque uma mentira nunca terá o status de verdade. Quando se mente sempre paira o "fantasma da verdade", sempre existem tropeços, enganos e um certo mal-estar familiar (por mais que os próprios pais muitas vezes não percebam isso). É é dentro desse contexto que se formam freqüentemente distúrbios psicológicos na infância.
Ao adotar uma criança você não precisa tornar público esse ato, mas é muito importante que ele seja dito em âmbito privado, isto é, na família.

Como e quando contar ao seu filho sobre a adoção?

Em primeiro lugar, gostaria de ressaltar que cada criança é diferente da outra, assim como cada família. Desta forma, não há como obter uma resposta padrão para essa pergunta.
É importante que os próprios pais possam ir sentindo o momento ideal. Uma grande dica para tal é tentar introduzir o assunto a partir de perguntas formuladas pela própria criança. Então, no momento em que a criança começar a formular perguntas do tipo: "Mamãe / papai ! como eu nasci?" ela estará dando um sinal de que vai ter respaldo de seu mundo interno para "compreender" o que lhe for explicado.
Sobre este "compreender" acho muito importante enfatizar que a linguagem e a forma de contar sobre a adoção para uma criança deve ser apropriada para a sua idade para que realmente haja compreensão e para que esta não seja traumática (quando a criança recebe uma informação em quantidade e qualidade incompatível para a sua idade).
A criança apreende o mundo de uma forma diferente do adulto, até porque seu potencial cognitivo ainda não foi totalmente desenvolvido. Portanto, procure falar com o seu filho da maneira mais próxima da sua compreensão, mostrando-lhe claramente o quanto você desejou e esperou a sua vinda ao mundo. Afinal, a adoção é um grande ato de amor. Não será bonito e saudável contar para o seu filho sobre essa história?

Fernanda Travassos
Psicoterapeuta