Expectativas irreais podem se transformar em depressão pós-adoção.
“As pessoas normalmente sabem o que é a depressão pós-parto, mas o bem-estar emocional de pais adotivos quando se deparam com uma criança no seu dia a dia é pouco conhecido”, explica Karen Foli, pesquisadora da Universidade de Purdue, EUA. “Em nosso estudo, a grande maioria dos pais adotivos disse ter passado por um período de depressão após a criança a qual adotaram ter começado a viver com eles. Isso se deve a expectativas em excesso e à pressão sentida por parte dos amigos, da família, da sociedade e mesmo da criança.”
“Os amigos e a família, por exemplo, não parecem oferecer o mesmo apoio emocional que pais com filhos biológicos recebem. Além disso, os laços afetivos com a criança adotada precisam ser construídos antecipadamente, o que nem sempre acontece”, diz Foli.
Os sintomas desse tipo de depressão incluem humor mais negativo, perda de interesse por atividades que antes davam prazer, variação no peso, dificuldades de dormir ou sono em excesso, sensação de agitação, fadiga, culpa excessiva e indecisão.
“A depressão pós-adoção não afeta somente os pais adotivos, mas as crianças envolvidas no processo também”, diz a pesquisadora, que acompanhou mais de 20 casais de pais adotivos, além de especialistas e profissionais. O estudo foi publicado no periódico Western Journal of Nursing Research.
Ênfase no processo de adoção e não no novo papel dentro da família
“Os pais adotivos passam boa parte do tempo anterior à adoção tentando comprovar que eles não serão somente bons pais, mas ‘superpais’, pois o processo de adoção pede que eles sejam mais do que interessados. Profissionais, família e amigos os fazem questionar o processo o tempo todo e essa reação é normal”, diz Foli. “Mas é possível que os sentimentos de legitimação como pais ou mesmo não conseguir criar laços afetivos com as crianças podem fazer todo esse esforço ruir repentinamente.”
Outros fatores que contribuem para a depressão pós-adoção podem incluir as expectativas de que as crianças criem laços afetivos intensos e imediatos – aceitarem os pais adotivos incondicionalmente nas primeiras semanas –, falta de exemplos de casais na mesma situação e mesmo a resposta da sociedade à nova família formada por pais e crianças adotivas.
Além disso, o processo de adoção pode ser longo e cansativo, podendo comprometer o bem-estar e a saúde mental dos pais de outras formas, levando ao estresse, por exemplo. “Muitas vezes o processo de adoção é mais presente na vida dos casais do que a preparação para se tornarem pais de um filho não biológico.”
Os profissionais que participaram da pesquisa também indicaram que os pais têm grande temor de demonstrar seus anseios e preocupações, pois isso, de alguma forma, os envergonha e traz o sentimento de terem falhado. Além disso, o sentimento de culpa por não conseguirem fazer a criança se sentir confortável pode ser desastroso para a situação.
“É preciso que os profissionais envolvidos no processo de adoção tenham em mente esse tipo de situação. Detectar os primeiros sinais de depressão ou saber como está o bem-estar mental dos pais pode levar a famílias mais saudáveis e felizes. E os pais precisam ser alertados de que pedir ajuda em uma situação como essa pode ser melhor para seus filhos e para o futuro da família”, diz a pesquisadora.
com informações da Purdue University
Texto copiado de "O que eu tenho"
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