23.4.07


UMA REFLEXÃO SOBRE O PRECONCEITO ATRÁS DA PALAVRA



In: Weber, L.N.D. (1998). Laços de ternura: pesquisas e histórias de adoção. Curitiba: Santa Mônica, p. 114.
...Isso é o aprendizado. De súbito você compreende algo que havia percebido a vida inteira, mas de maneira nova (Doris Lessing)

Em nosso dia-a-dia costumamos utilizar muitas expressões e termos que denotam preconceito sem que tenhamos plena consciência disso. Assim, as novelas, os meios de comunicação de massa e as propagandas estão repletas de chavões preconceituosos, muitas vezes mascarados em sátiras e situações engraçadas, as quais servem simplesmente para manter um determinado status quo que um segmento social acha recomendável. Rimos da mocinha "bonita e burra" de determinado programa de televisão e não percebemos o quanto isto é estereotipado e preconceituoso. Ouvimos e vemos, a todo momento, expressões que denotam preconceito racial, religioso, étnico, social, estético, e muitos outros. É preciso parar para refletir um pouco. Alguns termos transformam-se em diagnósticos de vida. Foi o que ocorreu com o termo "menor". Menores eram sempre os filhos dos outros, aqueles que estavam nas ruas, era a cultura menorizada. O nosso filho era sempre uma criança ou adolescente, mas o filho do outro, do menos favorecido, era um "menor". Tomando consciência desta fato, a sociedade aboliu o termo menor e passou a chamar todos os filhos de crianças e adolescentes, culminando com o fim do Código de Menores e com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Com os discursos e a literatura a respeito de famílias adotivas tem acontecido algo semelhante, onde percebe-se, por trás da semântica o preconceito, e que fazemos aqui uma moção para que isto seja modificado. Algumas pessoas perguntam para a mãe adotiva se "essa é a criança que ela pegou para criar"; se a família possui filhos biológicos e adotivos, as pessoas costumam apontar para um deles e perguntar: "é esse o seu"?; ou ainda, após saber da adoção, pessoas podem perguntar, mas "você conhece a mãe verdadeira dele?". Todas essas frases demonstram uma falta de esclarecimento associada ao preconceito em relação a esta constituição familiar.

De maneira geral, quando fala-se de família adotiva, utiliza-se como antítese "família verdadeira", "família natural", "família legítima". Temos por convicção e por força dos dados científicos, que a família adotiva não é artificial não, mas é tão verdadeira e legítima quanto a outra. Sua essência não é diferente, mas somente a contingência de como foi constituída. Então, sugerimos que sejam utilizados os termos família de sangue, família biológica ou família de origem em contraposição à família adotiva. Da mesma forma, quando fala-se em filho adotivo, a antítese mais comum é falar em "filho verdadeiro", "filho natural", "filho legítimo", "filho meu mesmo". Sugerimos que sejam utilizados os termos filho de sangue e filho biológico, pois o filho adotivo não é artificial, nem falso ou ilegítimo e é filho mesmo dos seus pais adotivos!

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