26.7.06





Que PRECONCEITOS E MITOS inseridos na cultura brasileira interferem e prejudicam a opção pela adoção de crianças maiores de dois anos de idade?

A sociedade brasileira vê a criança ainda como uma posse - donde, o desejo de adotar uma boneca – que está, de certa forma sob o controle do adulto que decide como, quando e de que forma deve amá-la e formá-la. Uma criança de mais de dois anos, tendo vivido uma experiência marcante (e marcada) de internamento institucional, violência ou abandono é uma criança que traz uma história e uma história difícil, muito difícil de ser controlada. Se a criança tiver mais de seis ou sete anos não terá mais a aparência de bebê e não "pode mais ser educada como deve: traz vícios de formação"; se for um menino e tiver a tez escura, então, não é mais uma pobre criancinha: é um "de menor", delinqüente em potencial e muito perigoso, que "ninguém vai se arriscar a botar na sua casa". Esses preconceitos são frutos de uma sociedade profundamente segmentada, com alta concentração de renda e que ainda não desenvolveu uma solidariedade fundamental de pessoa a pessoa. Por isso, a criação paulatina e teimosa de uma cultura da adoção, como é o projeto dos Grupos de Apoio em todo o Brasil, é tão importante, trata-se de ver nossas crianças como crianças e como nossas, como a parte mais importante e vital de um futuro que se quer mais humano e desassombrado.
Quais fatores determinam que estes pais optem por uma adoção tardia?

Alguns são fatores práticos, não é mais o momento de trocar fraldas e uma criança maior pode ser uma companhia de vida mais interessante. Outros são fatores circunstanciais, a criança já está lá e já estabeleceu uma amizade com o grupo familiar. Outros são fatores éticos: a necessidade de fazer algo para mudar o quadro tão terrível da infância abandonada. Geralmente estes três fatores se misturam com a predominância de um ou de outro.O único fator, a única razão ilegítima para adotar uma criança maior é para usá-la: seja como companhia para o filho, seja como empregada (escrava), seja como objeto sexual.
Quais são as vantagens da adoção de crianças maiores?

Essa pergunta tem respostas muito individuais e circunstanciais, mas é uma adoção onde a consciência social, o desejo de intervir numa situação de sofrimento são fatores causais muito importantes. As pessoas que optam pela adoção tardia parecem estar mais interessadas em ajudar uma criança do que em resolver algum problema pessoal.
AUTOR: Elena Andrei - Antropóloga
DATA: 26/06/99
FONTE: Boletim Uma Família para uma Criança –Fernando Freire/ABTH (org) – ano II, nº15

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