15.9.06

Vencedores Não Usam Drogas

Era essa a mensagem que eu via todas as vezes que acabava um jogo no fliperama. Ok, era em inglês, Winners Don't Use Drugs. Mas isso não me impediu de me viciar nessas máquinas.

Sim, eu fui viciado em fliperama. Sim, acho que não existe nada mais patético em termos de vício.

Normalmente quando se fala em drogas, os pais ficam em pânico. Mas eu sei que o que assusta mesmo não são as drogas, porque muitos desses pais fumam ou bebem ou tomam remédios controlados. Todos eles são drogas. O grande medo aqui é a dependência. Então vamos falar um
pouquinho sobre isso.

Jovens têm uma tendência natural à dependência. Eles não têm estrutura nenhuma pra lidar com nada. Qualquer coisa vira um enorme problema, porque eles estão numa fase de muitas mudanças muito rápidas. Isso deixa qualquer um sem chão. A sensação é mais ou menos como
se você perdesse seu emprego e família ao mesmo tempo. Duvida? Pois bem: ao chegar no terceiro ano do segundo grau, todos os alunos deixam de ser estudantes. Automaticamente perdem toda a identidade que tinham construído a décadas pra encarar alguma coisa
completamente nova e desconhecida. Além disso, perdem a identidade familiar também. É, sim, não teimem!

Eu sei que os adolescentes não são expulsos de casa (pelo menos não todos), mas o status deles na família muda completamente. Não tratam mais eles como crianças bonitinhas que se andarem de patinete pela sala as visitas batem palminha. E ao mesmo tempo, não tratam
eles como adultos, uma vez que eles nem tem maturidade pra serem tratados como tal.

Então, ok, ser adolescente é ficar perdido no mundo, mas e daí? Calma, eu ainda não acabei! Além de ficarem perdidos, os adolescentes têm a sensação de que são imortais. Sério, porque vocês acham que mandam jovens pra guerra? Qualquer adulto acharia loucura, mas eles
realmente acham que NÃO vão morrer. A morte é uma coisa distante, a velhice é uma coisa impalpável. Vocês já foram adolescentes, devem saber como é ótima a sensação de que não existe nada mais além do agora. Existem livros de auto-ajuda tentando fazer a gente
lembrar dessa sensação!

Agora estamos prontos: Temos uma pessoa que se sente um bocado perdida e que está disposta a tudo pra se encontrar e que ao mesmo tempo não liga pras consequências que nunca vão chegar. Essa é a receita perfeita pra uma pessoa compulsiva.

Imagine que uma menina pire na própria beleza. Ela pode tornar isso a rocha central da vida dela, se segurar na beleza como se fosse a coisa mais importante do mundo. E daí pra uma viciada em cirurgia plásticas é um pulo. Um adolescente pode querer jogar, tornar a vitória em um vídeo-game o centro da sua estabilidade: aí temos um Panthro adolescente. Ou ele
pode querer abrir sua mente, experimentar novas sensações e tornar isso o mais importante de tudo. E aí vai querer experimentar o que for. Inclusive drogas.

Não existe muita solução aqui. É, pais, a vida é triste, nem sempre a gente tem a resposta pra tudo. Como disse a Rita Lee: "Não adianta chamar / quando alguém está perdido / procurando se encontrar". O máximo que os pais podem fazer é serem compreensivos, entenderem que é a pior fase da vida e tentar mostrar pra eles que existem diversas coisas interessantes e
que o saudável é não se preender em uma coisa somente. E que eles vão estar lá quando for preciso. Qualquer tentativa de repressão só piora o sistema, porque o moleque já está se sentindo rejeitado. Compreensão e apoio são as chaves.

Tá e os filhos adotados? Nada, ué. Tem alguma diferença? Se você não cortar eles não sangram? No final dá no mesmo.

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