7.9.06

ADAPTAÇÃO



No grupo do Yahoo, estamos conversando sobre um dos maiores fantasmas da Adoção Tardia: a ADAPTAÇÃO !
Uma criança é diferente da outra, mas algumas fases, testes e inseguranças são comuns à maioria das crianças adotadas tardiamente.

A adaptação não é um mar de rosas, mas também não é um bicho de sete cabeças!

O grande segredo é a rotina! A criança precisa entrar imediatamente na vida real. A psico que cuidou do nosso processo e também é diretora do Grupo de Apoio disse numa palestra que o ideal é que a criança não chegue em tempo de férias, mas de trabalho e estudo. Nós sentimos bem isso! A Quel passou dois finais de semana conosco e veio para casa definitivamente no feriado de Páscoa. Fomos com meus pais para Santos e foi um sufoco, embora ela tenha adorado o mar. No domingo à noite, estávamos até chateados, mas decidimos que nos afastaríamos um pouco da família e entraríamos na nossa rotina. Bastou uma semana para que nos sentíssemos uma família de verdade!
A Quel passou por tudo o que lemos sobre a adoção tardia: ficou muda e arredia nos primeiros dias; recusava-se a conversar e a me olhar nos olhos quando eu chamava sua atenção por algo que tivesse feito de errado; estranhou alguns alimentos (bom! hihi isso ela superou em menos de uma semana!); bateu nas coleguinhas do colégio; recusou-se a obedecer a professora e, finalmente, disse que não éramos seus pais e que queria ir embora.
Por outro lado, a Quequel me chamou de mamãe no primeiro dia em nosso lar; sempre disse (e diz) todos os dias que me ama; presenteia-me com muitos beijos e abraços diários; desde o primeiro dia escreve cartinhas de amor.
O mais difícil foi o primeiro mês! Só um mês! Principalmente no colégio! Foi muito mais uma adaptação que qualquer criança que sai de um colégio estadual para um particular tem de enfrentar. Ela estava na 2ª série e não sabia ler direito e só escrevia com letra bastão. Decidi voltá-la para a 1ª série! A psicóloga do fórum aprovou minha decisão. Foi muito bom para a Quel, até mesmo emocionalmente. E ela não está atrasada nos estudos! Ela foi matriculada na 1ª série com 6 anos, sendo que o aniversário dela é em 27 de dezembro!
Em apenas um mês, a Raquel já lia e escrevia! Isso porque ela se recusava a estudar, hein? No começo, eu perdia a paciência facilmente, mas depois fui percebendo que era só elogiá-la, pegá-la no colo, dar-lhe um pouco de carinho!
Carinho! Era disso que a Quelzinha precisava e foi isso que fez que superássemos bem a fase de adaptação! Conversei bastante com ela e sempre lhe declarei o meu amor. Mas também fui firme nas regras.
No dia do grande teste, dia 3 de outubro de 2004, ela não teve coragem de dizer; ela escreveu vários bilhetes: "Eu não te amo mamãe. Eu não gosto de você."; "Eu nunca te amei mamãe. Eu odeio você e o papai."; "Sou eu, a Rá. (desenhou uma carinha chorando) Eu não sou sua filha."; "Eu nunca te amei. Nunca vou amar"; "Eu queria ir embora daqui". Eu também escrevi: "Quequel, você é minha filha! Papai do Céu deu você para mim! Eu esperei você chegar! Eu te amo para sempre! Não quero que vá embora da sua casa!". Ela respondeu: "Mamãe, quero ir embora hoje."
Então, eu fui ao seu quarto, peguei a mochila que ela trouxe do abrigo, pus em cima da cama e disse: " Eu te amo! Você é minha filha! Quero que fique! Mas se você quer ir embora, arrume sua mochila, quando o papai chegar ele te leva!" Uns segundos...ela guardou a mochila de volta, pegou um perfuminho dela, escreveu "Para você" e me entregou! Nós nos abraçamos e ela chorou bastante.
Ah, um tempo depois ela fez esse teste com o papai também. Mas foi bem rapidinho e com palavras mais amenas!
Minha coleção de cartinhas é maravilhosa:"Quando você ficar velha, eu vou cuidar de você"; "Fada mamãe, você é o amor da minha vida."; "Mamãe você é linda tomando banho. Sua fofa muito linda"; "Você é minha melhor amiga"...e muitos "eu te amo", "amor"...
O que eu quero lhes passar é que as dificuldades existem, mas são infinitamente menores do que o amor que recebemos de presente!

Um comentário:

Fabíola disse...

Gostei do seu depoimento sincero. Qdo fazemos o curso de preparação geralmente nos contam histórias lindas, de que como desde o primeiro dia se sentiram pais, parecendo que foi tudo fácil, até as dificuldades são contadas de modo engraçadinho. Aí qdo nós nos deparamos com a realidade pode parecer que tem algo de errado com a gente e que a adoção não é para nós.