8.8.09

DEFININDO O PERFIL

"Doenças graves, doenças leves, problema psicoló gico grave, problema psicológico leve. Eu nem sei direito o que é isso, como eu posso ficar ponto sim ou não, eu não sei os planos de Deus pra ficar escolhendo assim. E eu não sei como meu filho é ou está pra por nessa ficha. E se com um desses "nãos" a gente afastou ele do nosso caminho?”



Meu pitaco pessoal, muito pessoal, sobre a dúvida acima, tão comum....

Existem muitos sentimentos dentro de quem busca a adoção, muitos conflitos a serem dirimidos, vários dos quais sequer sonhamos que existam.
Nós, pretendentes, temos a idéia de que nosso filho, aquele que a cegonha entregou em lugar errado, está nos esperando, cheio de esperança, aguardando os instantes de nosso reencontro.
Porém, acho que cabe a pergunta: “o que faz de uma criança meu filho??????”

Pode parecer loucura, mas a razão é simples: não existe a criança idealizada, aquela que vão soar as luzes ao ser apresentada a vc. Existe, sim, a sua vontade de fazer de uma criança seu filho, qualquer que seja esta criança. Vou tentar explicar melhor: outro dia, imaginando meu filho mais velho em um abrigo, eu fiquei muito triste. Acontece que se ele estivesse em um abrigo seria uma criança, mas não meu filho... ele é meu filho por tudo o que construímos juntos, será que deu para entender?

Por isso acho que a escolha do perfil não deve trazer culpa, mas sim refletir uma escolha pensada, já que cada um sabe de seus limites.
Fato é que quanto mais restrito for, pior a espera. Menina branca, RN, esquece que não existe tão fácil. Restringir idade, sexo e cor ao mesmo tempo realmente dificulta as coisas.
Agora, quando se trata de doenças creio que devemos pensar bem. Me desculpem os que alegam que se fosse bio não teria opção, acontece que é adotado e existe opção. Ponto.
Antes de dizer sim ou não, devemos pensar o que esta escolha efetivamente acarreta. Por exemplo: uma criança com PC significa que vc provavelmente vai ter que fazer sessões de fisioterapia. Uma criança surda, cega ou com down vai ter que estudar em escola especial (tem perto da sua casa?) Seu convênio cobre? Como vc vai lidar com as dificuldades desta criança no dia a dia, já pensou?

As crianças de adoção tardia normalmente precisam de ajuda psicológica. Vc tem disponibilidade de levar ao psicólogo? Está disposta a fazer terapia? E assim por diante......

Não quero dizer, em absoluto, que só devemos adotar crianças 0km, nunca. Quero dizer apenas que devemos pensar e repensar sobre nossas possibilidades.

Um comentário:

VamuqVamu disse...

Gostei muito do seu comentário, pois você legitima que o adotante possa avaliar qual a sua disponibilidade emocional e material para lidar com crianças deficientes. Eu acho que o adotante deve mesmo, sem culpa, se permitir essa avaliação. Afinal, não é a mesma situação gerar um bebê com deficiência, gestado no seu ventre, com sua herança genética, e se preparar longa e planejadamente para adotar uma criança dentre várias que estão em situação de acolhimento institucional. Todas as crianças merecem ser adotadas, mas o adotante deve adotar uma criança que sinta capaz a adotar.