16.3.12

A proposito de pais e filhos

A PROPÓSITO DE PAIS E FILHOS
Seres vivos se agridem. Os humanos não fogem à regra. O que é inaceitável é o peso injusto que se atribui quando essas agressões penalizam pessoas pelo seu grau de parentesco; como se agredir alguém com quem não se comunga qualquer parentalidade fosse um ato de menor importância.
Estas considerações vêm a propósito de notícia veiculada pela mídia, dando conta de que um filho, em uma ação execrável, agride pai e mãe até a morte e, em seguida, tenta a própria morte. Todos reprovamos e ficamos constrangidos com tal ação destruidora, ainda mais quando oriunda de uma relação de parentesco de tanta profundidade quanto a que liga pais e filho.
O que causa estranheza e, diria, estarrecimento, é se especificar e acentuar que o autor da ação reprovável é “filho adotivo”. Por que insinuar que o crime cometido o foi por um filho “adotivo”? Porventura tendo alguém se tornado filho por adoção trará em si o germe do distúrbio de comportamento que possa gerar ação tão hedionda? Nunca se viu na mídia qualquer referência com tal ênfase indicando: “Filho biológico mata pai e mãe”. Por que agregar à adoção como forma legítima jurídica e afetiva de parentalidade, a informação insidiosa de que haveria uma íntima relação entre adoção e distúrbio de comportamento, o que, psicologicamente não é verdadeiro?
Estabelecer tal relação é tentar instalar interrogações, desestímulo  e até medo naqueles que vivem em paz com seus filhos, como também àqueles que buscam dar uma família aos que a sociedade lhes negou tal direito.
Não é a primeira vez que tomamos conhecimento dessa posição profundamente desumana da mídia, jogando sobre os filhos por adoção responsabilidade pelo simples fato de chegarem às suas famílias pelo instituto da adoção. E mais. É obvio que todos os filhos, sem exceção, são biológicos, ao mesmo tempo em que só poderão vivenciar a real filiação se com eles forem construídos vínculos afetivos com os que os incorporaram como filhos por adoção.
Em nome de um sensacionalismo informativo, há os que – talvez sem o perceber – são cruéis e pedagogicamente incorretos, martirizando os que estão curando as dores da rejeição ou preenchendo as lacunas da infertilidade. Presta-se um desserviço à humanidade quando se tenta juntar dois elementos que não se podem unir: adoção e deformação do comportamento. Alguém já observou que dos seres vivos que conhecemos somente os humanos têm a “capacidade” de serem desumanos. E, lamentavelmente, alguns o são.
Lidando há quarenta e um anos, como psicólogo, com pais e filhos adotivos, compulsando a literatura dos países que pesquisam sobre o tema, nunca encontrei qualquer fonte científica que afirmasse que ações agressivas entre seres humanos fosse uma marca naqueles que se tornaram filhos por adoção.
Chamo aqui à responsabilidade aqueles que permitem a publicação de inverdades que resultam em crime social com prejuízos de extensão incomensurável para crianças que poderão perder, pela segunda vez, a oportunidade de convivência familiar.
Luiz Schettini Filho
Psicólogo
Pai adotivo

Um comentário:

Maria Isabel disse...

Olá!
Como tenho uma filha adotada aos 8 anos (hoje com 18), vez ou outra procuro por mais informações a respeito do assunto. Estivemos uma ano inscritos à espera dessa filha, apesar de termos já 3 filhos biológicos na época. Ela ficou 2 anos num abrigo em Joiville, junto com um irmão dois anos mais novo, que foi adotado por uma família amiga nossa. Quero deixar claro que minha intenção não é desestimular adoções, ao contrário, especialmente quando os pais candidatos à adoção são pessoas estáveis emocionalmente, e com um coração disposto a amar! Porém...porém o fato de ser politicamente incorreto afirmar que crianças instituicionalizadas ou abandonadas podem sim trazer sequelas dessas condições por toda a vida, não creio que seja correto esconder esse fato da sociedade, especialmente dos candidatos a pais adotivos, ainda que hajam experiências tremendamente positivas com essas crianças.
O texto abaixo foi retirado de um site de psiquiatria recomendado pelo psiquiatra que atende nossa filha como sendo um site confiável e extremamente científico. Leiam com atenção, deixando por uns minutos de lado o conceito de que sempre o ÚNICO QUE IMPORTA É O AMOR, e de que O AMOR PODE TUDO. Não queridos, ainda que assim quisessemos, o amor não pode tudo!

"É um risco gravíssimo negar os conhecimentos científicos em nome daquilo que seria politicamente correto. Pergunto: não seria estranho que geneticamente apenas se transmitissem doenças do tipo diabetes, epilepsia, esquizofrenia, miopia, enxaqueca, propensão à hipertensão arterial, a certos tipos de câncer, e muito mais?" ...

"Informações existem de sobra e gratuita, através da internet ou outros meios, mas apesar disso, há uma certa preguiça intelectual dando lugar aos tradicionais “eu acho”, normalmente sem nenhuma base acadêmica.”


Ballone GJ - Criança Adotada e de Orfanato - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2004.