24.7.14

Escolas nota mil?



"Se um dia a escola deixar de ser chata, terá se tornado realidade um dos principais objetivos da vida de Alves. Desde ao menos a década de 1980, ele pediu por meio de livros, colunas e entrevistas que os colégios deixassem de massacrar os estudantes com conteúdos que serão cobrados no vestibular e depois esquecidos.E que passassem a mostra o que os jovens veem e verão na vida."  (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/07/1488572-morre-o-escritor-rubem-alves-por-falencia-multipla-de-orgaos.shtml?cmpid=%22facefolha%22)

Se alguém da grandeza de Rubem Alves pensa assim eu não posso estar de todo errada. Acompanhando o estudo dos meus filhos, a cada dia eu fico mais indignada com os conteúdos exigidos e a metodologia utilizada.

As escolas usam o chamado conteudismo (segundo o Aulete,  "Que defende o conteudismo, que valoriza mais o conteúdo do que a forma). Enormes quantidades de informações são atiradas na cabeça dos alunos... e na das mães e pais, por tabela, que estudam com as crianças.

Não está na hora dos pais começarem a questionar esta quantidade de informações e o objetivo delas? Eu particularmente, quando questionei uma questão, fui informada de que "os principais vestibulares do pais usam esta abordagem". Beleza, não fosse o fato do meu pimpolho estar no 3o ano do fundamental.

O principal objetivo da escola, ao meu ver, é socializar a criança. E não vejo como, ao ser obrigada a ministrar a quantidade de informação exigida, alguém pode despender qq tempo para algo que não seja a atividade acadêmica propriamente.

Fácil! Vamos mudar de escola! O problema é que a grande maioria das escolas se pauta por esta linha... as escolas que vão na "contramão" são pequenas e, nãoi estão localizadas em cada esquina (o que se torna um grande empecilho em SP).

"Mas se não for assim, meu filho não vai ter chance de fazer a faculdade X"... talvez sim e talvez não. E ainda ouso acrescentar que fazer a faculdade X não vai garantir ao seu filho O emprego. Porque um emprego legal depende do estudo, mas também das outras habilidades pessoais que ele deve ter. E aí eu me pego fortemente, porque não vejo como uma criança que  cresceu tendo que provar para ela mesma que era capaz, que teve seu contato familiar minimizado pela necessidade de estudar e estudar, que teve seu tempo de brincar reduzido por conta das tarefas e que muitas vezes teve sua estima diminuída por conta das notas baixas em provas para as quais estudou possam se tornar pessoas empáticas, centradas, aptas a reconhecer no outro outra pessoa também digna de respeito. Levanta a mão quem já trabalhou com pessoas extremamente inteligentes mais intratáveis.

Eu conheço muitas pessoas que não trabalham nas áreas em que estudaram. Simplesmente, por conta das voltas que a vida dá, optaram por outras carreiras. Em Direito, especificamente, conheço estudantes do Largo de São Francisco que são juízes e outros que são funcionários de empresas, trabalhando ao lado de colegas formados pela faculdade mais próxima.

A vida profissional dos filhos não pode ser determinada pelos pais no berçário. A nós cabe dar-lhes condições para que possam fazer escolhas conscientes. 

Será que já não passou da hora, portanto, de avaliarmos melhor o que concebemos como boas escolas?



13.7.14

Não dá pra devolver...


1. Há um tempo atrás, uma amiga contava como foi a chegada do filho n.02. O filho n.01, enciumado, simplesmente cortou relações com ela. Sem tempo pra dormir ou comer, foi ficando cada vez mais estressada. Uma amiga perguntou como ela tinha conseguido resolver o problema. Ela respondeu que "não dava pra mandar de volta" então teve que se virar.

2. Uma amiga acabou de ter bebê. Segundo a irmã, ela está com depressão pós parto. Eu conversei pessoalmente com ela e creio que a depressão tem outro fundo que não o pós parto: a certeza dela de que é uma péssima mãe porque "não dá conta de tudo".

3. Em uma reunião do grupo de adoção uma assistente social contava, em tom de chacota, que um casal, há anos na fila, havia devolvido um bebê sob a justificativa de que ele chorava muito.

4. Uma adotante uma vez disse que gostaria de ter sabido antes o que a esperava, não que não fosse adotar... mas teria se preparado de forma diferente.

Porque estou contando estes casos? Porque hoje acredito que eles estão interligados. A moça do 3o caso pode ter devolvido o bebê não porque ele chorava muito (como se fosse um defeito de fabricação) mas porque não se sentia capaz de fazer daquele bebê um ser feliz.Acontece que ao invés da moça do tópico 1 ela podia devolver pra fonte... e o fez.

As reuniões dos grupos de adoção a que eu presenciei ( e não foram poucas) lidavam com o stress da espera, com a conscientização de que não existem bebês meninas disponíveis e que a adoção tardia deve ser encarada como uma possibilidade concreta. 

Quando eu sugeri que deveria ser incluído em pauta apoio pós adoção foi sarcasticamente respondido que "judiciário não é babá". 

Mas eu creio que nós podemos sim, nos preparar de forma consciente pra a chegada de um novo membro na nossa família.

Podemos e devemos, claro, sonhar com o dia em que o telefone toca... mas também devemos nos preparar para as mudanças necessárias que serão feitas em nossa rotina:
- nossa casa está preparada para receber as crianças? Algumas pessoas estão abertas a adoção de grupos de irmãos. Embora a AS faça este trabalho, pense se em sua casa cabem mais três camas, por ex. E o carro? Tem que trocar? E a escola, tenho uma idéia?
- nosso orçamento está preparado para destinar dinheiro pra outros lugares? Eu sempre ouço pessoas falando que não podem viajar pra buscar uma criança muito longe de sua residência.Se seu orçamento está inteiro comprometido com a prestação do carro, viagem, reforma da casa, melhor fazer uma planilha. Uma criança tem outros gastos que não apenas a alimentação: tem também o plano médico, escola, materiais...
-sua rotina diária como será? Que mudanças deverão ser feitas? Vc gosta de ir pra balada? Viajar? Comer lanche todo dia?
- como se comportam crianças de tal faixa etária? Como devo lidar com isso? Vou precisar de apoio especializado (psicóloga, fonoaudióloga, etc..)

Pode parecer besteira, mas uma vez aprendi que planejamento mental é tudo. A gente tem tempo de se preparar e não é pego de surpresa.



10.7.14

Pós-adoção?



Fico muito preocupada quando vejo que as Varas, em geral, preocupam-se apenas e tão somente com o adotante enquanto pessoa apta a adotar.

Assinou o papel, acabou-se o problema do Judiciário.

E o adotante, não raro, fica perdido no meio de uma avalanche de emoções.

Já li sobre depressão pós adoção.. algo similar a depressão pós parto.

Assinados os papéis, cumprida a roda viva de exames e compras, temos um grupo de pessoas que simplesmente estão juntas.. já podem ser consideradas uma família?

Acho importante pra vc que está aí do outro lado, considerando uma adoção tardia, considere também o desenrolar dos dias... 

Se eu quero que vc desista? Se eu não acho aconselhável? Jamais!! Quero que vc se prepare psicologicamente para momentos difíceis, a fim de não desistir na primeira oportunidade.

Um amigo meu me disse que vc só entende a reencarnação (para aqueles que nela creem, bem entendido) quando vc tem filhos... pq aí pode-se perceber que uma criança, por menor que seja, tem personalidade, vontade, gostos... e que estes não refletem, necessariamente, a personalidade ou vontade dos pais.

Ponha-se no lugar dessa criança. Procure entender o que se passa na mente dela. 

Profissionais talvez sejam necessários pra que vc possa entendê-los. Tenha muito claro que não será possível simplesmente apagar tudo o que a criança viveu como num passe de mágica. 

Troque ideias com amigas e faça buscas na internet. Crianças são muito iguais e tendem a ter as mesmas reações, pouco importa suas origens.

Respeite o espaço e limites da criança. As regras da sua família devem ser estabelecidas aos poucos. Lembre-se, ainda, que se o objetivo é a formação de uma família, as regras devem ser estabelecidas não visando só o que vc acha certo.

Tenha paciência, muita paciência. Não exite em pedir ajuda especializada, nunca. 

Procure manter a calma... e lembre-se que a perfeição não existe.